sexta-feira, 26 de setembro de 2008

VELHOS E NOVOS MEDIA


Ontem, numa mesa redonda em Fátima organizada pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, discutia-se o impacto do digital na comunicação. O tema preciso era Panorama do digital em Portugal: jornais, rádios, televisões - a realidade duma nova galáxia. Na mesa, acrescentámos a internet.

Algumas propostas geraram uma discussão muito acesa e estimulante. Como pano de fundo estava o eventual desaparecimento dos media clássicos devido ao impacto crescente da internet, em especial junto dos mais jovens. Uma corrente argumentava que os jovens já não consomem rádio ou televisão mas a internet, pelo que não haveria futuro para jornais, revistas, rádio e televisão. Alguém disse que este seria um discurso optimista (do lado dos defensores da internet); para mim, será um discurso redutor.

Passo a explicar sucintamente, eu que sou consumidor regular de internet - vê-se aqui no blogue.

Os jornais gratuitos têm vindo a aumentar tiragens desde o seu aparecimento, o que quer dizer que a imprensa em papel ainda não está em extinção. Pode mudar o modelo de negócio, como dizem os economistas. Se a rádio e a televisão genralistas são gratuitas, pagas pela publicidade, por que não jornais também gratuitos? Claro que se pode concluir: os jornais gratuitos fornecem informação, mas um leitor informado procura outras leituras (o conceito de público em Daniel Dayan). A televisão continua a ser consumida por jovens, mas não em todo o horário de transmissão, o que leva os emissores a dividir mais criteriosamente a grelha de programas atendendo às audiências. Por outro lado, o cabo atrai níveis etários mais jovens. Vê-se como alguns programas mais irreverentes no cabo ganharam audiências e migraram para os canais generalistas, que ainda conferem mais prestígio e visibilidade que aqueles. Além disso, a venda de séries de televisão nas FNAC e noutros locais, com grande destaque nas prateleiras, ilustra um consumo mais especializado - e que os mais jovens compram desde que tenham dinheiro para tal.

Quanto à internet, o aparente separador de gerações, parece-me que os mais velhos vão adquirindo competências, certamente de modo menos veloz e sofisticado que os mais jovens, mas aderindo ao email, às redes sociais e trocando mensagens com conteúdos de entretenimento. A blogosfera é um campo de experiência que engloba vários níveis etários. Amadurecido o mercado para os mais novos, as empresas de telecomunicações e de conteúdos procuram inevitavelmente os mais velhos para lhes vender produtos e serviços.

Um outro elemento a reflectir é o grau de atenção. Com mais media, a atenção individual é menor. Acrescento que estar na internet significa, com grande probabilidade, menor concentração que ler um livro de filosofia, por exemplo, o qual exige tempo e esforço de compreensão. Logo, o grau de atracção é diferente, o que não quer dizer que aquela seja mais importante que este. Outro elemento prende-se com a abundância de informação, pois esta não é sinónimo de qualidade. Uma pesquisa no Google serve como exemplo - a entrada mais popular e visitada de um tema não significa que seja a melhor, porque o Google é um algoritmo que fornece quantidade.

Não esqueço a tendência principal - o maior consumo do meio mais novo e a descida lenta dos meios mais clássicos. A publicidade colocada nos vários meios dá conta dessa tendência, com uma quebra nos media em geral e uma subida lenta mas promissora na internet.

O que escrevo não corresponde a uma interpretação linear ou indica um equilíbrio entre os vários media ou níveis etários. Mas, a par de outras variáveis como poder de compra (classes sociais) ou local de habitação, pretendo demonstrar, ainda que de modo impressivo, que a realidade é mais complexa que a imagem da morte anunciada dos media clássicos.

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