Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
VIOLÊNCIA NOS MEDIA
A quem interessa a violência (assaltos, assassínios) relatada na segunda quinzena de Agosto? Aos criminosos, por razões imputadas aqueles e que se explicam caso a caso (embora a sua mediatização não lhes interesse).
Quem ganha com a publicitação da violência? Em primeiro lugar, os partidos políticos da oposição, porque criticam as medidas (ou a falta delas) do poder governamental. Em segundo, vários grupos de pressão (sociais, profissionais, geográficos, étnicos, outros), que aproveitam estes momentos para fazer elevar a sua voz e as suas expectativas. Em terceiro lugar, os media, pois têm acontecimentos adequados a notícias diferentes - e que interessam aos cidadãos leitores e espectadores.
Quero realçar os media, pois os outros agentes sociais exercem perfeitamente o seu escrutínio face ao poder e/ou aproveitam determinadas situações para se expressarem. Por um lado, os media exercem também o seu escrutínio sobre o Governo e as instituições a ele ligadas. Mas, por outro lado, há vários elementos a ter em conta, e que quero aqui explicitar. O facto de muitas notícias sobre o crime aparecerem em Agosto ilustra uma agenda informativa depauperada por outros assuntos. Em segundo lugar, os media concorrem cada vez mais ferozmente por audiências ou venda de exemplares, pelo que a violência enquanto valor-notícia apreciado é valorizado. À falta de outras notícias acrescenta-se um descontentamento social e político (desemprego, salários em queda). A isto junta-se o lado de infotainment dado em especial nas imagens da televisão. A morte em directo do assaltante do banco deu "boas" imagens. Os media comerciais precisam disto para alargar a audiência, com recurso a vozes anónimas escassamente identificadas (os directos preocupam-me, aliás, pois nunca se sabe o critério de escolha dessas vozes por parte do jornalista).
Também quero salientar o papel dos media públicos, mormente a RTP. O alinhamento inicial do noticiário das 13:00 do dia 27 de Agosto, por exemplo, deixou-me perplexo. No meu entender, ali não havia serviço público, mas apenas o modelo de televisão comercial no seu pior exemplo. Numa notícia sobre vários autocarros queimados, o porta-voz da empresa desses autocarros, a uma pergunta simples sobre a cobertura de seguro de tais veículos, respondeu de modo estranho, sem se perceber bem a sua resposta. Associar os veículos queimados a assaltos ou assassínios pode ser leve demais, por falta de contexto. O jornalista-apresentador na redacção não se questionou, não interrogou. Ora, as notícias por si podem nada valer mas o alinhamento de um noticiário é político, ideológico e não neutral.
Quem não parece interessado em discutir o tema? O Governo. O qual deveria ter falado mais cedo - e tomado medidas. Além de aceitar o que a oposição, do CDS-PP ao BE, tem dito. Por exemplo, não se compreende que o partido do poder não queira reunir a comissão permanente da Assembleia da República, por considerar que os níveis de criminalidade não são elevados. A mim, parece-me necessário esclarecer e intervir. É que, de acordo com dados divulgados pelo Gabinete Coordenador de Segurança (GCS), houve um aumento de 15% de criminalidade violenta nos primeiros seis meses de 2008 comparativamente a igual período do ano passado.
[texto produzido em 29 de Agosto, e que merecia actualização, atendendo a outros crimes como os ocorridos esta noite, em que uma acção violenta se terá cifrado por apenas 170 euros de roubo]
[actualizado às 18:04] Um leitor atento referiu que eu esqueci leitores, ouvintes e espectadores como interessados nas notícias sobre a violência. Tem toda a razão!
Obrigado.
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