quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

LAZARSFELD (E FIELD E KENDALL) SOBRE CINEMA E RÁDIO

Não é difícil perceber o facto de os fãs do cinema se acharem entre a geração mais jovem. Adolescentes e jovens adultos são as pessoas com menos responsabilidades pessoais e sociais, e que têm mais "noites livres". E como os jovens estão ainda a desenvolver objectivos intelectuais, uma noite livre pode ser gasta com o cinema ou outra actividade qualquer. A ida ao cinema é uma actividade social (mais que a leitura de revistas, por exemplo), através da qual os jovens fazem contactos que são fundamentais para eles. Qualquer que seja o conteúdo do filme, a experiência de ver um filme desempenha um papel importante na vida quotidiana dos jovens.

Os dados da investigação nada dizem quanto ao tempo que as pessoas gastam a ler os jornais diários, mas se tomarmos a leitura de jornal como padrão, a audição da rádio não oferece distinções. Há, porém, um facto óbvio: durante o dia a maioria dos homens está a trabalhar e a maioria das mulheres casadas estão em casa. Assim, as mulheres podem mais facilmente ouvir a rádio durante o dia, e é isso que geralmente fazem. Devido a isso, os investigadores mudam uma conclusão anterior ao afirmar que a distinção sexual é uma característica destacável na audiência da rádio. Mas esta diferença é devida aos horários de recepção por parte de homens e mulheres, e não a características inerentes ao meio.

A lista de programas analisados contém quatro itens musicais: clássica, semi-clássica, popular, country. Os gestores das estações interessam-se por estabelecer uma linha musical na sua programação capaz de dar gratificação psicológica semelhante, de modo a não haver transferência de audiência ao fim de cada quarto de hora ou meia hora. Isto sem pôr em causa que os gastos e as preferências são dependentes parcialmente de circunstâncias externas. Por exemplo, os programas educativos têm sempre níveis baixos de audiência.

Estas conclusões foram publicadas em 1948, no segundo livro que Lazarsfeld publicou em conjunto com outros investigadores (abaixo identificado). Claro que, vistas de hoje, essas conclusões têm uma marca do tempo: por exemplo, as mulheres entraram no mercado de trabalho e, por isso, não têm uma distinção de audiência face aos homens. Mas os consumos dos jovens adultos face aos mais velhos ainda se mantêm. O que quero aqui chamar a atenção é para as constantes ao longo das décadas e para as metodologias, em que Lazarsfeld foi pioneiro.

Leituras: Harry Field e Paul Lazarsfeld (1946). The People Look at Radio. Chapel Hill: University of North Carolina Press
Paul Lazarsfeld e Patricia Kendall (1948/1979). Radio Listening in America. The People Look at Radio - Again. Nova Iorque: Arno Press

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