Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
SOBRE A HISTÓRIA DA GRAVAÇÃO MAGNÉTICA
A história do registo magnético é das mais curiosas que conheço. Envolve nomes raramente do domínio público mas cujas invenções ou contributos chegam até ao computador que usamos para escrever e arquivar. O primeiro nome foi Oberlin Smith, que inventaria a gravação magnética em 1878, depois de uma visita ao laboratório de Thomas Edison, onde viu o fonógrafo daquele. Começou a melhorar o invento, mas não obteve patente nem fez qualquer demonstração pública nem se tornou famoso.
O segundo nome é o de Valdemar Poulsen, engenheiro dinamarquês admitido em 1893 na empresa de telefones de Copenhaga. Poulsen interessou-se pelo registo magnético porque se sentia frustrado pela impossibilidade dos utilizadores dos telefones deixarem uma mensagem quando ninguém atendia. O seu invento, o primeiro gravador magnético, data de 1898.
O terceiro nome pertence a Fritz Pfleumer, inventor austríaco vivendo na Alemanha, que conseguiu criar um sistema barato de papel de cigarro, à base de bronze em pó. Pfleumer, interessado na gravação magnética (mais tarde disse que estava familiarizado com o gravador de Poulsen), achava que podia usar o seu papel de cigarro para uma fita de gravação, bastando substituir o bronze por um material magnetizável. A primeira fita magnética foi, assim, uma tira de papel com partículas de ferro pulverizado. Ele também construiu o primeiro gravador (patente DRP 500,900 em 31 de Janeiro de 1928), a que chamou de "papel sonoro".
O grupo alemão AEG mostrou um grande interesse no invento e assinou um contrato com Pfleumer em 1932. No ano seguinte, a AEG fazia testes com fitas de papel e de celulóide e, em Agosto desse ano, à equipa juntava-se Eduard Schüller, que desenvolveu a cabeça, uma das invenções fundamentais na gravação magnética. Por seu lado, Friedrich Matthias, químico de profissão e presente na mesma equipa, produziu uma fita em celulóide com resultados promissores.
O modelo de magnetofone da AEG foi a sensação na exposição de Berlim no Verão de 1935: os visitantes ficavam surpreendidos ao ouvir a sua voz após a gravação. Dois anos e meio depois, a AEG, conjuntamente com a BASF, produzia um equipamento para venda comercial, ao custo de 1350 marcos (o salário médio de um técnico experiente rondava então os 250 marcos).
Na Segunda Guerra Mundial, a fábrica onde se produziam os gravadores de som foi totalmente destruída (1943). Depois, com o final da guerra, a Comissão dos Aliados invalidou muitas das patentes alemãs e os seus direitos de autor quer nas invenções antes quer nas feitas durante a guerra. A AEG, a BASF e a Agfa não receberam benefício imediato do tremendo crescimento das suas invenções ligadas à gravação magnética. Devido à transferência de tecnologias, as patentes alemãs ajudaram a nascer e crescer empresas americanas e europeias, caso da EMI, tornada um local de grande inovação. Também o Japão começou a ter um papel importante na indústria de registo magnético, com empresas como Sony, Matsushita (Panasonic) e Toshiba.
Leitura: Eric C. Daniel, C. Denis Mee e Mark H. Clark (1998). Magnetic Recording. The First 100 Years. Nova Iorque: IEEE
Internet: Magnetic Recording History Pictures (de Steven Schoenherr, e de onde retirei as imagens acima); Recording History (de David Morton)
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