terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

SLUMDOG MILLIONAIRE, O VENCEDOR DOS ÓSCARES

Já se escreveu quase tudo sobre o filme Slumdog Millionaire, desde o título em português (porque não milionário?) às críticas vindas da Índia, devido à representação da pobreza naquele país (em especial as crianças e o seu trabalho de recolha de lixo), e ao "casamento" entre o tipo de cinema feito em Hollywood (Estados Unidos) com o de Bollywood (Índia).

Dois elementos centrais foram esquecidos na argumentação: o filme resulta de uma produção da Film4 e da Celador, duas empresas inglesas, a primeira ligada ao Channel 4 e a segunda com actividade desde 2005 (a Celador desenvolve projectos interessantes, nomeadamente sobre Martin Luther King e os direitos cívicos em 1965 e sobre uma lendária legião romana que desapareceu na Escócia no ano 87 antes de Cristo); o Reino Unido tem uma comunidade indiana forte e a relação entre os dois países é muito forte.

Depois, a história do filme assemelha-se a outras de interesse humano que aparecem com frequência na televisão, a que se alia o facto de o herói se sai sempre bem, mesmo quando tudo indica que vai perder. A relação com a televisão não é a menosprezar: do mesmo modo que o filme mostra grandes audiências a assistir à final do concurso, a realidade na noite dos óscares (ou dia na Índia) foi seguida de multidões em volta do televisor, como retratam as histórias hoje publicadas nos jornais. Afinal, foi uma história de crianças pobres da Índia que ganharam o concurso (no filme) e o óscar (o prémio sobre o filme). A história do filme poderia também ser contada numa novela, como as que o Brasil tão bem sabe fazer, e passar na televisão.

Aliás, a história é um conto de fadas do século XXI na Índia: conta a história de Jamal, um rapazinho órfão de Mumbai (Bombaim) e o seu caminho até ao sucesso no concurso Quem Quer Ser Milionário e o seu desejo de reaver o amor perdido na infância. A Índia que está a crescer na economia mundial é feita de contradições, como aliás o filme mostra: os dois irmãos, já jovens adultos, recordam a triste infância apontando para o local onde viviam, então um enorme agregado de casas de lata e agora um conglomerado de prédios novos e ricos. Os actores do filme vieram dali mesmo, numa associação entre a realidade e a ficção.

Claro que é evidente a aproximação ao cinema indiano, caso dos planos mostrados durante a passagem da ficha técnica no final do filme: a música e a coreografia da dança remetem para aquela cinematografia. A ficha técnica revela igualmente o impressionante número de artistas e técnicos indianos (aliás, o filme foi rodado naquele país do Oriente).



Fixo-me nas frases principais do trailer do filme (acima): "Cada momento da sua vida é a chave para as respostas; cada questão leva-o a estar mais perto do seu verdadeiro amor". Com actores desconhecidos ou pouco conhecidos, Slumdog Millionaire ganhou um prémio no festival internacional de Toronto em 2008 e, agora, o óscar em Los Angeles. O filme estreou em Novembro nos Estados Unidos e em Janeiro no Reino Unido; entre nós, está em recente exibição.

1 comentário:

Daniel Ribas disse...

Olá Rogério,

Já vi o filme, depois dos óscares e gostaria de fazer dois comentários ao teu comentário:
- o facto de não usarem a palavra milionário no título português, creio que será devido ao facto de colidir com os direitos do concurso original "Quem quer ser Milionário?" (ou então, evitar arranjar problemas);
- por outro lado, confirmo a tua percepção: a ideia com que fiquei é que "Slumdog Millionaire" parece um telefilme, sobretudo devido às personagens estereotipadas e planas (sem pouco espessura interior) e uma narrativa previsível.
A fotografia lembra muito a publicidade e a estética dos filmes brasileiros "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" (embora estes, penso eu, tenham mais espessura narrativa). Como alguns dizem, é um filme pop com uma ligação crucial com a televisão (estética, temática, narrativa).

Na verdade, penso que é um filme menor, ainda que com algum interesse (mas longe de ser tão bom como "Milk", por exemplo, de que gostei muito).

Daniel Ribas