quinta-feira, 12 de março de 2009

MAU JORNALISMO

Max Rufus Mosley (nasceu a 13 de Abril de 1940) é o presidente da Fédération Internationale de l'Automobile (FIA), uma associação sem fins lucrativos que representa os interesses das organizações automobilísticas em todo o mundo. A FIA é a responsável pela Fórmula Um e outras corridas internacionais, traduzo livremente da Wikipedia.

Ora, Max Mosley anda nas bocas do mundo, como revela o The Guardian de hoje (e outros jornais, certamente). Ele ganhou 60 mil libras num processo que pôs no tribunal contra o jornal tablóide News of the World. Este escrevera sobre práticas sadomasoquistas daquele. Mosley invocou o direito da privacidade e da reputação dos indivíduos e das famílias e da moralidade pública.

Na mesma semana, Gerry McCann veio a público tecer críticas ao modo como a imprensa inglesa tem visto o problema do desaparecimento da sua pequena filha Madeleine na costa algarvia (a portuguesa fez o mesmo). Os McCann passaram de vítimas a criminosos, sem que a investigação policial tivesse chegado a uma conclusão definitiva.

Em artigo de opinião no Guardian, John Lloyd divide o seu texto em duas partes. Vale a pena meditar nelas. A primeira dá conta do modo como as celebridades se adaptam aos calendários diários dos media. Os McCanns, no sentido de manterem vivo o interesse nas buscas da sua filha criaram acontecimentos mesmo que não houvesse novidades na investigação. Estabeleceram aquilo a que se chama agendamento: fornecimento regular de informação com impacto. Acabaram por ficar prisioneiros disso. A segunda parte do texto de Lloyd diz que Mosley e os McCann têm razão: há que preservar o valor público de proteccção da vida privada, mesmo quando incida sobre pessoas que têm comportamentos não bem vistos por outros, reconhecendo-se que os jornalistas não estão bem equipados no desempenho de agentes da moral, actividade que deve ser guardada para outros e para a lei e a consciência.

Noutro artigo no mesmo jornal e sobre o mesmo assunto, Mariella Frostrup parte de outra perspectiva, a da simpatia com a causa dos McCann e a do nojo provocado pela história de Mosley. Um duplo padrão, diz ela, uma boa publicidade contra uma má publicidade. Não sei se Frostrup escreveu com cinismo, mas a verdade é que ela destaca a ingenuidade de Gerry McCann dois dias atrás, quando este argumentou precisar de estar na arena pública para manter viva a esperança de encontrar a sua filha. McCann ainda não aprendeu a lição, escreve a jornalista: os flashes dos fotógrafos e das câmaras apenas procuram matéria noticiável, haja boas ou más razões à partida. Frostrup não quer restrições à liberdade de imprensa, com um regulador mais apertado. Já há multas, humilhação pública e receio de ir a tribunal - meios suficientes para extirpar o "mau" jornalismo.

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