terça-feira, 31 de março de 2009

MOSTRAÇÃO E DEMONSTRAÇÃO


Daniel Dayan escreve sobre o terrorismo-espectáculo na televisão, tendo como objecto de análise os actos terroristas de 11 de Setembro de 2001 e o modo como passaram na televisão. O momento da primeira transmissão é o de choque (p. 10), com os que fazem televisão a improvisarem e a difundirem imagens que lhes escapam. Os dias seguintes já não são os de difusão mas do desempenho deliberado, de performance da terapia, da gestão do trauma, do luto. A mostração inscreve-se numa demonstração. A este segundo momento, Dayan indica um terceiro, o do concerto das respostas públicas ao acontecimento, em que as respostas passam por diversas esferas públicas. A quarta performance é a dos públicos e dos mestres de pensamento que se pronunciam sobre o acontecimento, com justificações, acusações e condenações (p. 12).

Mais à frente, Daniel Dayan volta a analisar o mostrar e enquadrar (p. 237). A prática de mostrar implica formas de agir, numa convocação de Jürgen Habermas. Mas também aponta para as acções performativas de J. L. Austin, no que chama de behavitives (que daria, se traduzido, a improvável palavra comportamentativo) e o modelo dramatúrgico do funcionamento da esfera pública, numa recuperação dos trabalhos de Erwing Goffman. Sem esquecer a esfera de controvérsia legítima de Daniel Hallin e a esfera do desvio de Michael Schudson. E o trabalho que o próprio Dayan escreveu com Elihu Katz sobre a televisão cerimonial (p. 258).

O Terror Espectáculo. Terrorismo e Televisão, volume organizado por Daniel Dayan, e agora editado pelas Edições 70, contém capítulos de autores tão importantes como Paddy Scannell, Serge Tisseron, François Jost, Paolo Mancini, Roger Silverstone (já desaparecido), Barbie Zelizer, Michael Schudson, Annabelle Sreberny e muitos outros. Com 454 páginas, o livro divide-se em quatro partes, sendo a terceira ("Reagir") dedicada aos públicos.

Como gostaria de ter agora um dia livre para ler estas magníficas páginas. Parabéns a José Carlos Abrantes, o director da colecção, e Pedro Bernardo, o director da editora, pela ideia da publicação.

Daniel Dayan estará em Portugal em Maio em congresso organizado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa, The (in)Visibility of War in Literature and the Media (7 a 9 de Maio).

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