No Expresso de sábado, José Luís Porfírio revela desapontamento pela exposição Fountain, de Bethan Huws. Porfírio não gostou dos secadores de garrafas reutilizados pela artista, nascida no País de Gales, uma recordação do ready-made Porte-bouteilles de Marcel Duchamp de 1913. Também não se deixou impressionar pelos barquinhos de junco que Huws aprendeu em criança. Mas o que o irritou mais foi a sala em frente à entrada, despojada de tudo e com uma inscrição Nu descendo uma escada. Melhor seria escrever rampa em vez de escada, conclui o crítico de arte. Igual desagrado lhe mereceram os textos com jogos de palavras: "o que veio primeiro, a galinha ou o ovo? Resposta: o ovo, por ser a forma mais primitiva"; "um casal francês adoptou uma criança chinesa e, após um ano e meio, devolveu-a. Queixa: ela não falava chinês".
Bethan Huws faz instalação, escultura, ready-made, obras textuais, aguarelas, filme, procurando reconstruir coisas e lugares que já perderam o sentido.
Por ser uma exposição de fotografia, não houve crítica aos trabalhos de Guy Tillim, "Avenue Patrice Lumumba", onde se mostra a paisagem africana pós-colonialismo: decadência ou regresso à natureza, caso das velhas estátuas agora jazendo em armazéns ao ar livre, a lentidão de gestos quotidianos, as cores. Aqui, há um igual perder o sentido dos objectos.
A meu ver, o mais belo é a arquitectura de Siza Vieira, onde aqueles objectos efémeros - porque expostos num tempo limitado - são como que o conteúdo que satisfaz as formas. Por vezes, confundo a janela que deixa ver a paisagem com a obra do artista, nos reflexos, nos contornos, nas silhuetas, na iluminação, na mistura de tudo.
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