Gustavo Cardoso, Rita Espanha e Vera Araújo editaram agora um livro intitulado Da Comunicação de Massa à Comunicação em Rede. O primeiro capítulo, assinado por Gustavo Cardoso, é o mais teórico, logo o mais interessante para o leitor e o mais disponível para a crítica.
A hipótese inicial é caracterizar o sistema actual dos media não como convergência tecnológica mas como organização em rede do sistema, extensível à dimensão tecnológica, à organização económica e à apropriação social (p. 17). Além disso, o sistema dos media depende dos utilizadores que dele se apropriam. Como grande impulsionadora, a internet permitiu a migração dos media tradicionais para tecnologias digitais e, num segundo momento, os telemóveis e a tecnologia SMS possibilitaram a criação de mais e mais interligações (p. 18). Assim, a convergência deixou de assentar em hardware e apoiou a relação de três camadas: instrumentos, redes e serviços de software. Como referência à não convergência, Cardoso indica a necessidade de protocolos estabelecidos entre as tecnologias e destaca dois meios como preponderantes e capazes de interactividade, a televisão e a internet.
Analisando a sociedade de massa, o autor observa a existência de três perspectivas quanto à relação entre aquela e os media, a primeira das quais é marxista e determinista, para quem a comunicação de massa é a expressão de autoritarismo produzido pelo reduzido poder de controlo sobre o desenvolvimento técnico (p. 24). A segunda posição, em autores como Poster e McLuhan, considera que os media exprimem a natureza da sociedade quer através da sua estrutura quer dos seus conteúdos. Poster entende haver três fases no modo de informação: oral, escrita, electrónica. A terceira perspectiva corresponde a um reequilíbrio, como afirma Ortoleva, em que os utilizadores dos media encontram uma correspondência na relação interpessoal em rede, que condiciona e filtra a recepção das mensagens (p. 25). A acção de uma qualquer tecnologia como os media não se pode entender fora do quadro da cultura. Gustavo Cardoso fala de uma quarta perpectiva, que ultrapassa a sociedade de massa: a nova sociedade da comunicação em rede, associando a comunicação interpessoal com a rede massificada e a difusão dos media pessoais (p. 56).
O autor vê um duplo papel nos media: 1) instrumentos da democracia, 2) espaços de retórica da personalização e das trivialidades (p. 26). O duplo papel dos media traduz, se quisermos, a sua simultânea força e a ambiguidade. Como superação desta situação, Gustavo Cardoso analisa o novo paradigma da comunicação através de quatro dimensões: 1) retórica construída em função da imagem em movimento, 2) novas dinâmicas de acessibilidade da informação, 3) utilizadores como inovadores, 4) inovação nas notícias e nos modelos de entretenimento (p. 36). O primeiro ponto destaca a componente visual da comunicação actual, que constitui uma retórica fundada na simplicidade, rapidez e emoção. A acessibilidade implica novos modelos de filtragem, software livre e tecnologia móvel (telemóvel e computador sem fios) (p. 37). Cardoso dá uma ênfase especial ao papel dos utilizadores como inovadores (p. 40). O utilizador passa a ser considerado como definidor de tendências (p. 41).
Além disso, o novo paradigma da comunicação analisa a relação entre os media e as mensagens (p. 55). Se McLuhan entendia que o meio era a mensagem e Castells considera que a mensagem era o meio, hoje considera-se a mensagem como sendo o meio e em que o meio não é neutro face ao que se transmite.
Leitura: Gustavo Cardoso, Rita Espanha e Vera Araújo (org.) (2009). Da Comunicação de Massa à Comunicação em Rede. Porto: Porto Editora
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