Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
O CARTAZ SEGUNDO DIEGO ZACCARIA
Em finais de 2008, Diego Zaccaria lançou o livro L'Affiche, Paroles Publiques, da editora Textuel. Com doutoramento em História, Zaccaria é director do Centre du Graphisme d’Echirolles, tendo criado o Mês do grafismo em 1990. Desde então, foram organizadas mais de 150 exposições por este centro. Zaccaria é ainda presidente da Rede europeia do cartaz e do grafismo de autor.
O livro tem uma centena de cartazes (de autor, publicidade comercial e cultural, propaganda política), com análise do sítio e do papel do cartaz na sua época, com aspectos e valores sociais e tecnológicos e lugar de história, memória e debate público, aberto a diversos significados. Onde revê a história mundial da criação gráfica, o impacto visual, a mensagem. Distingue dois períodos: da revolução francesa à Segunda Guerra Mundial, depois da Libertação.
Fico-me pela análise de quatro cartazes inseridos no seu livro, respectivamente de Alfred Leete (1914-1915), James Montgomery Flagg (1917), Seymour Chwast (1965) e Andrea Rauch (1994). O primeiro tem o rosto de lord Kitchener, chamando à mobilização dos britânicos para a Primeira Guerra Mundial: o apelo foi forte, resultando numa mobilização de 35 mil voluntários por dia. O vigor do cartaz reside na adequação entre a representação da autoridade e o texto que exprime ordem e autoridade (Zaccaria, 2008: 52). O segundo cartaz, muito inspirado no anterior, é um apelo aos americanos para se alistarem nas forças em luta na Segunda Guerra Mundial: o ilustrador junta traços fisionómicos de George Washington e Abraham Lincoln, dois pais fundadores dos Estados Unidos. A imagem do Tio Sam resulta numa autoridade mais representada. A terceira imagem, pertencente ao caricaturista Seymour Chwast, que deve muito à banda desenhada, à arte psicadélica de San Francisco e ao universo pop de Liechtstein, segue o Tio Sam de Flagg: End Bad Breath tornou-se um ícone da contracultura dos anos sessenta, uma época de protesto contra a guerra do Vietname. Na boca do novo Tio Sam, em lugar dos dentes, vêem-se aviões americanos a bombardear as florestas vietnamitas. A quarta imagem segue a terceira: agora em vez de bombas, a boca prende uma televisão, sátira de Rauch às eleições italianas de 1994, denunciando o poder de Sua Emittenza (jogo de palavras entre emizenza, designação dada a Silvio Berlusconi, e emittenza, emissão). Berlusconi detém a posse de canais de televisão (pp. 156-157).
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