terça-feira, 30 de junho de 2009

INVESTIGAR A HISTÓRIA DOS MEDIA (II)

[continuação da mensagem de 22 de Junho]

Para Robert K. Avery (Quantitative methods in broadcast history), há, dentro do domínio das medidas científicas, quatro tipos de dados: nominais, ordinais, intervalo e relação. Os dados nominais são, por exemplo, informação demográfica como género, idade, etnia, educação, nível de rendimento. Usam-se números arbitrários (1=mulher, 2=homem). Os dados ordinais são frequentemente encontrados na informação nominal e expressam uma relação entre dois ou mais valores. Por exemplo, quando se quer saber a frequência do uso da televisão – "Quantas horas vê por dia: menos de uma hora, de 1 a 3 horas, mais de 5 horas" – aos respondentes é permitido utilizar dados ordinais ou elementos de qualificação entre "mais que" ou "menos que". Os dados de intervalo permitem ao investigador expressar relações entre pontos mas também indicar que as distâncias entre os pontos são iguais em posição, género "De 1 a 5 dê a sua resposta: 1 – concordo plenamente, 2 – concordo, 3 – estou indeciso, 4 – não estou em desacordo, 5 – estou em total desacordo". Cada resposta, de 1 a 5, tem um espaço igual. Esta forma de instrumento de escala tem sido muito usada em comunicação de massa e designa-se por escala tipo Likert, do seu criador Rensis Likert.

O quarto tipo de medida, a relação, inclui intervalos mas também o zero absoluto. Muitas sondagens são conduzidas anualmente, de modo a fornecer dados longitudinais, com amostras sistemáticas de uma população específica em intervalos regulares usando os mesmos processos de inquérito. Tais inquéritos permitem conhecer o nível das percepções das audiências, preferências de programas, número de receptores, níveis de educação dos ouvintes ou qualquer outra variável. Outro método de grande importância na comunidade de investigadores é a análise de conteúdo, que avalia as mensagens verbais, não verbais, áudio, vídeo e fotográficas. Dito de outro modo, as mensagens podem ser sujeitas a avaliações governadas por regras específicas exigidas por metodologias analíticas quantitativas.

Já para Dale Cressman (Exploring biography), a essência da biografia não mudou ao longo dos séculos. Mas a biografia desenvolveu-se apenas no século XVIII. A palavra "biografia", que provém das raízes gregas de bios (vida) e graphein (escrever), apareceu em 1660. Os biógrafos puseram um grande realce na exactidão, mas as novelas e o teatro influenciaram a sua escrita, injectando um sentido de drama e detalhe artístico. No começo do século XX, a restrição vitoriana e a interpretação romântica deram lugar à objectividade científica, levando os autores a procurar verdades históricas mais abrangentes. Por volta de 1940, surgiu um novo contributo, a que Catherine Drinker Bowen chamou de método de biografia "narrativa", em que os factos históricos se constróem em torno de um núcleo dramático. Os valores universitários tradicionais combinavam-se com as técnicas de escrita artística popular nos escritores e leitores das décadas de 1920 e 1930. Uma biografia é escrita na forma narrativa e na ordem cronológica. A cronologia é importante porque recria no leitor o sentido de uma vida vivida. Os objectos biográficos precisam de ser colocados no contexto do tempo em que ocorreram.

Finalmente, segundo Donald G. Godfrey (Researching electronic media history), há desconfiança quanto ao uso dos jornais como elemento de pesquisa bibliográfica. Os media são acusados de sensacionalistas e com uma orientação comercial. Godfrey, apesar das críticas, entende que programas, internet e outras fontes dos media não podem ser ignorados.

Leitura: Donald G. Godfrey (ed.) (2006). Methods of historical analysis in electronic media. Mahwak, NJ, e Londres: Lawrence Erlbaum

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