quinta-feira, 9 de julho de 2009

MUSEU DE ARTE POPULAR

Quase treze mil objectos foram transferidos do Museu de Arte Popular para o Museu de Etnologia, dirigido por Joaquim Pais de Brito. Este, em texto escrito por Ana Machado (Público de hoje) conta como foi a transferência das peças: "impedir a perda de informação, não dispersar as colecções e proceder a um inventário rigoroso sobre tudo o que havia no museu, com registo fotográfico, o lugar onde pertencia, a sua proveniência". Garantiu ainda a formação de uma equipa de seis pessoas dedicadas a esse trabalho, começado em Maio de 2007 e concluído no dia em que a ministra da Cultura Isabel Pires de Lima foi afastada do cargo (28.1.2008).

O espólio contém materiais de cerâmica, cestaria, mobiliário e objectos em madeira, metal, couro e cortiça. A jornalista descreve o que viu: cerâmicas de Nisa, redes e cestos, embarcações de pesca artesanal, fechos de coleira para o gado, ex-votos e objectos ligados à vida religiosa. Um antropólogo do próprio Museu de Arte Popular, Alexandre Oliveira, está a preparar tese de doutoramento sobre esse espólio, onde poderá adiantar o seu valor na totalidade.

O museu, inaugurado a 15 de Julho de 1948, foi ideia e obra de António Ferro, o homem da propaganda ao serviço de Salazar, com o objectivo de reunir as particularidades do país, escreve ainda a jornalista. Mas onde se juntaram também artistas modernistas como Bernardo Marques, Carlos Botelho, Emmerico Nunes, Tomás de Melo. Apesar de mal amado, pelas conotações ideológicas, o museu seria o segundo mais visitado durante a década de 1960, por exemplo, a seguir ao museu dos Coches. Mais perto do seu encerramento, em 1998, atingia 32 mil visitas anuais.

O espólio é um tesouro, conforme outra expressão lida no artigo do jornal. Por isso, houve muita gente que se levantou quando Pires de Lima decidiu substituir o Museu de Arte Popular pelo Museu da Língua Portuguesa, de características virtuais. 4300 assinaturas numa petição indicam o peso dos que querem que o espólio continue a ser visto, e naquele local. O blogueiro, aqui e em devido tempo, também protestou contra o desmantelamento. Agora, a notícia traz alguma esperança quanto ao desfecho final.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sobre este tema, considero um tremendo erro transformar o Museu de Arte Popular em Museu do Mar e da Língua Portuguesa. Já o afirmei em muitas circunstâncias e apresento aqui as razões:
1º O Museu de Arte Popular foi de facto quase sempre «mal amado» por estar conotado com um determinado período da nossa história que não é possível apagar mas que marcou várias gerações para o bem e para o mal.Mas a distãncia cura tudo e vale a pena não apagar pelo menos na área das artes e cultura que produziu grandes valores artísticos que não podiam deixar de trabalhar só pelo facto de terem nascido numa época «errada»
2º O Museu de Arte Popular é um polo museologico muito interessante que deveria sofrer uma Modernização e Ampliação e tornar-se o Museu de Arte Popular mostra privilegiada do Artesanato Português.
3º O local que o MAP ocupa é o ideal para esta temática porque de facto a área de Belém é a de maior concentração turística da cidade de Lisboa. Se este Museu estivesse operacional e actualizado na vertente Artesanato seria sem sombra de dúvida um local de visita obrigatória dos milhares de turistas (estrangeiros mas também os nacionais) que são sem dúvida o público mais interessado no nosso artesanato. Depois de verem o Padrão dos Descobrimentos, os Jerónimos, o Museu N.dos Coches, o CCB a Torre de Belém fácilmente seriam atraidos a visitarem o Museu de Arte Popular onde poderiam ver o museu, compreeender as variantes do artesanato português e adquirir peças do nosso artesanato de Todo o País (Regiões Autónomas incluidas) em vez de andarem às compras de toalhas de mesa e afins numas roulotes ou cestas no chão tão inadequadas.
O facto de agora ter por visinhos um Hotel de Luxo só beneficiaria ambas as partes uma vez que mesmo os turistas de luxo apreciam e compram artesanato.

4º O Museu do Mar e da Língua Portuguesa pode ser um polo muito interessante sobretudo se for assumido não como uma cópia (uma das razões de ataque à anterior Ministra) mas como uma geminação com o Museu brasileiro da Língua em S. Paulo.

5º O potencial visitante do Museu da Língua não é o tradicional turista estrangeiro mas sim os visitantes portugueses, os visitantes provenientes dos Palops e toda a comunidade estundantil de todos os graus de ensino permitindo a todos uma melhor compreensão da diversidede da nossa cultura.

6º O local mais adequado para uma iniciativa desta natureza em que se pretende desenvolver conteúdos multimédia e de certa forma geminar a ideia desenvolvida no museu brasileiro que ocupou e adaptou para o efeito a antiga Estação de Caminhos de Ferro da Luz na cidade de S. Paulo é , na minha opinião, a Estação de Caminhos de Ferro do Rossio, no coração da Cidade de Lisboa.

7º A Estação do Rossio adaptada para o efeito seria um local exrtraordinário para este tema da Língua que se destina a um público fundamentalmente de língua portuguesa ou conhecedor da língua portuguesa;a Estação permite desenvolver um projecto semelhante ao do Brasil que vive de espaços escurecidos para a visualização dos multimédia; A Estação do Rossio está na rota de milhares de portugueses provenientes dos Palops (primeira, segunda, terceira geração) para quem um museu desta natureza é essencial para uma melhor integração e valorização das suas raízes; A Estação do Rossio (no todo ou em parte) é um edifício com todas as potencialidades para este efeito e precisa de ser salvaguardado tanto mais que está numa área excelente.
8º Em termos de projecção politica que melhor iniciativa poderia servir para Comemorar a Implantação da República que inaugurar o Muse4u da Língua Portuguesa nesse local no centro da cidade !!
Silvana Bessone (Historiadora, Historiadora de Arte e Museóloga)