domingo, 3 de janeiro de 2010

O FIM DOS JORNAIS?

El fin de los periódicos é um livro editado por Arcadi Espada e Ernesto Hernandéz Busto e publicado pela Duomo Ediciones, de Barcelona, em Outubro de 2009. O texto resulta da recolha de textos publicados em 2008 e 2009 por Jill Lepore, Philip Meyer, Eric Alterman, Jeff Jarvis, Bree Nordenson, Gary Kamiya e Paul Starr, além da introdução de Arcadi Espada. O conteúdo dos textos vai muito além do título interrogativo e mostra-nos um pensamento múltiplo e rico de cambiantes e referências, o que aconselha a sua leitura total.



Se Jill Lepore conta a história do jornalismo americano para concluir pela existência de lutas e modificações dos jornais ao longo dos séculos, que os tornaram bens públicos muito distintos hoje, Philip Meyer regista o modo como a internet rompe com o modelo comercial dos jornais (custo variável zero, ausência de pagamento de transportes em proporção directa com o número de exemplares produzidos), Eric Alterman escreve sobre objectividade e credibilidade pública dos jornais face à internet e analisa o fenómeno do sítio Huffington Post, que critica logo a seguir, em páginas onde vêm à discussão as propostas de Walter Lippmann e John Dewey, Jeff Jarvis produz um texto em três parcelas (correspondendo a três posts no seu blogue), em que indica que o artigo já não é a unidade base do jornalismo mas sim o link ou o tema (tópico), apelando para a especialização como modo de sobrevivência e revigoramento do jornalismo, Bree Nordenson escreve sobre os limites da atenção humana numa época de excesso de informação e as implicações para a democracia (maior capacidade de publicar e partilhar não significa menos desperdício, dado que muita gente prefere o entretenimento oferecido pelos media mais jovens face à informação), defendendo aquilo a que chama jornalismo explicativo ou didáctico (mais profundidade, maior contextualização), e Gary Kamiya desfere um golpe na internet, ao considerar que o jornalismo da internet é parasitário das notícias dos jornais em papel, e entende que a perda de importância do género reportagem é um problema para as democracias, dado que a investigação jornalística representa um olhar vigilante e cívico sobre a governação.

Mas, apesar da importância destes textos, os mais relevantes na minha perspectiva são o primeiro, de Arcadi Espada, e o último, de Paul Starr. Para Espada, o mundo não pode viver sem a mediação jornalística, com selecção e hierarquização das notícias. Os motores de busca e a internet em geral não dão conta da importância do que mostram. Na informação digital, o mais importante é o mais recente, o que ilustra a ausência de critérios de escolha e realce para o conhecimento público do que acontece. Quanto a Starr, ele elenca alguns pressupostos que estiveram presentes ao longo da história dos media impressos, nomeadamente nos Estados Unidos. Assim, se desde o século XVIII até meados do século XIX, muitos jornais foram subsidiados politicamente (governos e partidos), até ao fim da primeira metade do século XX foram os anunciantes que garantiram a prosperidade dos media impressos, que começaram a apresentar mais histórias e inovações editoriais, com a cobertura do desporto, do crime, dos espectáculos e da vida das comunidades. A internet está a acabar com esta economia dos media, pois os leitores não precisam de pagar para ler as notícias online e os jornais de papel não podem cortar o acesso aos seus sítios, pois os leitores escolheriam outros sítios gratuitos. Contudo, continua Starr, como os sítios da internet produzem informação que vão buscar maioritariamente aos media clássicos e como os jornalistas com mais anos de experiência são despedidos, com os jornais a perderem o conhecimento local e internacional, com fontes credíveis, o nível da qualidade de informação diminui cada vez mais.

Não são relatos apocalípticos, mas devemos ler e meditar com atenção e contrapor a outros textos mais integrados.

Arcandi Espada escreve no jornal espanhol El Mundo e é professor de Jornalismo na Universidade Pompeu Fabra, um dos primeiros blogueiros espanhóis (Diarios de Arcadi Espada) e autor de várias obras, sendo as últimas Ebro/Orbe (2007) El terrorismo y sus etiquetas (2007) e Periodismo práctico (2008). Ernesto Hernandéz Busto publicou Perfiles derechos: fisionomías del escritor reaccionario (Prémio de Ensaio Casa de América 2004) e Inventario de saldos (2005) e mantém um importante blogue sobre assuntos cubanos: Penúltimos Días.

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