segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

AS LÁGRIMAS DE EROS

Se é certo que "diabólico" significa essencialmente a coincidência da morte e do erotismo, se o diabo não é ao fim e ao cabo senão a nossa própria loucura se choramos, se profundos soluços se nos desprendem - ou bem se nos domina um riso nervoso - não podemos deixar de perceber, vinculada ao nascente erotismo, a preocupação, a obsessão da morte (da morte num sentido trágico, ainda que no fim de contas, risível) [George Bataille (2007; original de 1961). Las lágrimas de Eros. Barcelona, Tusquets Editores, p. 41].

Narra J. M. Lo Duca, responsável pela escolha da iconografia, a história do livro de Bataille: "Durante dois anos, de Julho de 1959 a Abril de 1961, Bataille elabora o plano da obra, que adopta cada vez mais o cariz de uma conclusão de todos os temas que lhe foram caros. Sem dúvida, a redacção foi elaborada com muita lentidão, e As lágimas de Eros sofria constantes atrasos por causa dos acontecimentos" (p. 10). Esclarece-nos a introdução do próprio autor: "O sentido do livro é, como primeiro passo, o do abrir a consciência à identidade da «pequena morte» e da morte definitiva: da voluptuosidade e do delírio ao horror sem limites" (p. 37).

A exposição no museu Thyssen-Bornemisza e Fundación Caja Madrid tem o livro de Bataille como assunto, onde ele discute o tema clássico da relação entre Eros e Thanatos, entre a conduta sexual e o instinto da morte, no sentido do experienciar o sagrado, em que o erotismo é objecto tabu, proibição que ilumina o proibido (visita virtual aqui). Vénus, Uranus e Cronus, Adão, esfinges, sereias e serpentes, as tentações de Santo António e o martírio de São Sebastião e Andrómeda, Jacinto, Cleópatra e Ofélia, Maria Madalena e São João Baptista, lidos e interpretados na pintura europeia ao longo dos séculos. William-Adolphe Bouguereau (Banhista, 1870), John Currin, Honeymoon Nude, 1998), James White (Sem Título, 2004 ), Henri Rousseau (A encantadora de serpentes, 1907), Camille Corot (A fonte, 1869-1870), Gustave Courbet (Mulher nas ondas, 1868), Gustave Doré (Andrómeda, 1869), Franz von Stuck (Judite e Holofernes, 1927) e Man Ray (Lágrimas de vidro, 1933) contam-se entre as muito belas imagens expostas.



Sem comentários: