sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

REVISTAS DE JORNALISMO E MEDIA



O número de Outono de 2009 dos Cahiers du Journalisme (nº 20) é dedicado à economia do jornalismo e resulta de uma jornada de estudo na Maison des Sciences de l'Homme Paris-nord em Julho de 2008 no quadro de trabalho do REJ (Réseau d'Études sur le Journalisme). A revista, propriedade da École Supérieure de Journalisme de Lille (França) e da Université Laval (Québec, Canadá), tem por objectivo a difusão das investigações e análises das práticas jornalísticas em França e no mundo, num cruzamento de investigadores e produtores da comunicação sobre os principais temas de reflexão actual. O texto de introdução do tema, assinado por Dominique Augey (Université Paul Cézanne, França) e por Franck Rebillard (Université de Lyon), observa que a economia do jornalismo é um território muito menos explorado que a economia dos media e a sociologia do jornalismo. Procura, assim, compreender a socioeconomia das indústrias culturais e mediáticas e o contributo da economia mais tradicional, e associa a economia da informação com a economia dos media. A publicação tem textos, entre outros, de Nathalie Sonnac (novo modelo de negócio da imprensa), Philippe Bouquillion (indústrias culturais e conteúdos), Jean-Marie Charon (estratégias dos grupos de imprensa), Philippe Gestin e outros (produção multi-suporte nos grupos mediáticos franceses), Marie Schweitzer (modelo dos gratuitos), Nikos Smyrnaios (grupos de imprensa americanos na internet), José-Manuel Nobre-Correia (media e União Europeia), Bertrand Cabedoche (obamania à francesa), Gervais Mbarga (retórica do telejornal nos Camarões), Moustapha Samb (media e regulação na África ocidental) e Vinciane Haudebourg (Casa dos Jornalistas).

Também com data do Outono de 2009, e no seu número 15, a revista Trajectos, dirigida por José Rebelo e propriedade do ISCTE, tem como tema de capa a crise. Com um grafismo muito bonito, em especial no interior, a apresentação do responsável da publicação parte da dicotomia virtudes do mercado versus papel do Estado. Cita um estudo apresentado neste número, de Diana Andringa, em que a palavra crise surgiu em 1252 notícias no sítio da RTP, televisão pública, de Novembro de 2007 a Setembro de 2009. A crise, considera, deixa de ser tema de mediatização para se impor por si mesma. Embora de modo não explícito como os Cahiers du Journalisme, a Trajectos combina o trabalho de académicos e jornalistas que seguem agora estudos universitários de doutoramento, caso de Diana Andringa mas igualmente Adelino Gomes. É do trabalho editado por este que quero dedicar algum espaço, dado que escreve sobre o possível (ou não) desaparecimento do jornalismo. Adelino Gomes parte de alguns exemplos publicados sobre a profissão e as pressões que se exercem sobre ela para chegar ao núcleo central do seu texto: os olhares portugueses, ou seja, os dois mais importantes textos publicados em 2009. A saber, os livros dirigidos por Gustavo Cardoso e por José Luís Garcia, o primeiro optimista (redes, produtores de mensagens, audiências) e o segundo pessimista (recomposição socioprofissional dos jornalistas, crise de identidade profissional, emergência de novo paradigma sem contornos precisos, novas lógicas empresariais). É um texto para se ler na totalidade e que não tenho tempo aqui para sintetizar, e que se faz acompanhar por outros textos, como os de Tito Cardoso e Cunha (crise e crítica), Jean-Pierre Dubois (crise do sistema e do político), Miguel Serras Pereira (economia e democracia), João Carlos Alvim (cultura e pessimismo), Viriato Soromenho Marques (crise do futuro), Carlos Vieira de Faria (crise e cidade), Vera França e Elton Antunes (jornalismo em mudança), Fernando Lattman-Weltman (media e política), Manuel Carvalho da Silva (crise e causas) e Diana Andringa (sobre a palavra crise).

Sem comentários: