quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

RODCHENKO & POPOVA

Aleksandr Rodchenko [Александр Родченко] e Liubov Popova [Любо́вь Попо́ва] foram as personagens mais influentes na exploração do construtivismo, através da linguagem da abstracção geométrica. Precedida pela ruptura do suprematismo de Malevich e acrescida pelos ideais trazidos pela revolução de 1917, a geração de Rodchenko e Popova traz para a arte a vanguarda militante, a que mistura um corte radical com a arte considerada burguesa, a da representação pictórica da realidade, com um modelo inspirado na arquitectura, na colagem, na indústria e nas máquinas, pressupõe também a substituição do modelo expositivo em que o museu é um espaço de conteúdo (Borja-Villel, catálogo da exposição).

O construtivismo, iniciado com a exposição 5x5=25 e a participação no pavilhão russo da Exposition des Arts Décoratifs et Industriels Modernes (Paris, 1925), é ainda definido como o fluxo das coisas na sua permanência, a relação entre a obra e o contexto espacial e entre o espectador e o texto. A nova ideologia estética junta outros artistas, como Varvara Stepanova [Варвара Степанова], mulher de Rodchenko, Varvara Bubnova, Nadezhda Udaltsova [Надежда Удальцова] e Alexandra Exter [Александра Экстер].

No catálogo da exposição, escreve Margarita Tupitsyn que os construtivistas convenceram-se que as formas não objectivas desempenhariam um papel chave na transformação da sociedade após Outubro de 1917. Rodchenko e Popova nomearam o construtivismo como a arte de produção, juntando collages abstractas e bordados de camponesas (em Popova), e ainda mobiliário, decoração, murais, desenhos, desenho gráfico, fotografia, cartazes, símbolos políticos, capas de revistas, cenários de teatro, cinema. Em 1918, fundava-se a Oficina dos Museus, dirigida por Rodchenko, artista bem engajado no compromisso comunista, e que começou a comprar e distribuir obras vanguardistas pelos museus regionais, traduzindo-se em dinheiro para os artistas envolvidos na sua produção. O conceito de pintor como artista isolado não fazia parte do novo ideário. Em finais de 1918, a obra de Malevitch, Quadrado negro, fez rebentar forte polémica, o que levou Rodchenko e os colegas à ruptura com o suprematismo e à apologia do construtivismo. A primeira exposição inaugurava-se na Primavera de 1919, ano de aproximação de Rodchenko e Stepanova a Kandinsky, em casa de quem viveram durante algum tempo, temperando as suas obras com o expressionismo deste. Já em 1921, o grupo dos construtivistas rebelava-se contra Kandisnky e a sua psicologia da percepção. 1921 foi ainda o ano de aproximação do grupo ao cineasta Dziga Vertov, com o seu noticiário Kino-Pravda (Cinema Verdade).

Christina Kiaer, no mesmo catálogo da exposição, prefere destacar a questão do género, realçando o facto de Popova ser mulher. Muito antes das lutas do feminismo na década de 1970, Liubov Popova representa um papel importante, dada a pequena quantidade de mulheres influentes nas vanguardas estéticas da Rússia soviética nas primeiras décadas do século XX. Contudo, Kiaer compara as inúmeras manifestações e exposições dedicadas a Rodchenko face a Popova para notar a assimetria entre os dois. Depois, Popova morreu cedo (e o seu filho também teve uma existência de apenas quatro anos e meio). Vestuário e desenhos de moda, cartazes e cenários para o teatro são algumas das áreas em que Popova se destacou mais.

Rodchenko e o seu construtivismo seriam marginalizados quando o realismo socialista de Estaline irrompeu e se tornou a arte oficial do regime.



A exposição patente no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madrid) tem a colaboração da Tate Modern (Londres) e de inúmeros museus que acederam a mostar obras das suas colecções.

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