"Em Portugal, o sector cultural e criativo cresceu mais do dobro do que a própria economia. Um crescimento anual de 2,9% torna-o num dos sectores mais dinâmicos da economia nacional face a uma taxa média de crescimento da economia situada nos 1,3%", escreveu Alexandra Carita na edição de ontem do Expresso. Na presente mensagem, a minha leitura é de realçar o peso do sector mas levantar dúvidas quanto aos números mostrados no estudo.
Os dados baseiam-se em estudo encomendado pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério da Cultura à empresa de consultoria de Augusto Mateus & Associados (ver documento aqui, o qual eu sigo nas linhas posteriores desta mensagem). O estudo considera um sector nuclear (património histórico e cultural, artes do espectáculo, artes visuais, criação literária), as indústrias culturais (música, edição, software educativo e de lazer, cinema e vídeo, rádio e televisão) e as actividades criativas (produção de serviços de software, arquitectura, publicidade e design), num total de treze sectores.
Após a identificação dos sectores, o estudo indica que o sector cultural e criativo originou, no ano de 2006, um valor acrescentado bruto (VAB) de quase 3,7 mil milhões de euros, responsável por 2,8% da riqueza criada nesse ano em Portugal, o que foi superior, por exemplo, "ao contributo dado pelas indústrias alimentares e bebidas e ou a dos têxteis e vestuário". A distribuição nos três sectores é assim apresentada (p. 3 do relatório):
Conforme se pode ler na p. 5 do relatório, "As Indústrias Culturais constituem o principal domínio de actividades do Sector Cultural e Criativo, representando um pouco menos de 80%, enquanto as Actividades Criativas e Actividades Culturais Nucleares assumem uma posição secundária, representando, respectivamente, cerca de 14% e 8%. O núcleo-duro das indústrias culturais – os subsectores da edição e da rádio e televisão – é, pelo seu lado e por si só, responsável por um pouco mais de metade do valor acrescentado produzido em todo o Sector Cultural e Criativo, o que reforça esta imagem de uma certa polarização e desequilíbrio no peso relativo dos diferentes segmentos que o integram e estruturam".
Logo depois, o relatório "realça o crescimento sustentado das Actividades Culturais Nucleares, de 10,9% ao ano, que se fica a dever, sobretudo, ao crescimento particularmente forte evidenciado pelas Artes do Espectáculo (13%), o mais elevado entre todos os sectores, mas, também, ao crescimento muito significativo das Artes Visuais, Criação Literária e do Património Cultural (de 9,1% e 8,6%, respectivamente)". Ao invés, "As Indústrias Culturais conheceram no seu conjunto, entre 2000 e 2006, uma taxa média de crescimento anual de 14,7%, portanto, abaixo da referência global do Sector Cultural e Criativo". Quanto a emprego, "o Sector Cultural e Criativo era responsável, em 2006, por cerca de 127 mil empregos, representando, desse modo, cerca de 2,6% do emprego nacional total" (p. 3).
Fico com algumas dúvidas quanto aos resultados deste estudo da consultora Augusto Mateus & Associados, pois noto uma grande discrepância face a dados que cobrem áreas semelhantes divulgados pelo INE (ver aqui no blogue e o texto completo daquele Instituto, documento intitulado Estatísticas da cultura - 2008). No estudo do INE, é taxativa a informação que, em 2008, o emprego cultural atingiu 52800 pessoas - isto é, dois anos depois face ao analisado pelo primeiro estudo aqui referenciado. O maior problema é que os dois documentos usam nomenclaturas diferentes quanto a sectores em estudo, no que pode residir a maior dificuldade de comparabilidade. Mas é imperioso que os dois documentos sejam cotejados, de modo a sabermos o que vale realmente o sector cultural e criativo.
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