segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

LAÇO BRANCO

O Laço Branco é um filme de Michael Haneke. A história decorre numa aldeia protestante no norte da Alemanha pouco antes de rebentar a Primeira Guerra Mundial. As personagens são as crianças da escola, o professor, as famílias daquelas, o barão e a mulher, o pastor, o feitor (gestor), o médico, a parteira, os camponeses.

Filmado a preto e branco, com enquadramentos rigorosos e uma montagem com uma cadência muito regular, a história de amor entre o professor e a aia dos filhos dos barões é entremeada com acontecimentos estranhos: a queda do médico quando chegava a casa de cavalo, uma mulher que morre num acidente na serração, a criança com deficiência mental que é agredida e atada a uma árvore, o camponês que destrói a horta, o pai deste que se enforca, o incêndio do palheiro.

Há em cada personagem um lado mórbido, perverso até. O que me fez lembrar Sam Mendes, de A Beleza Americana (1999) e Revolutionary Road (2008), e João Canijo, de Mal Nascida (2008). Mas, onde estes mostravam a violência íntima de uma forma explícita, em Haneke há um certo pudor, com as cenas mais violentas a ocorrerem para lá da porta fechada ou com as personagens vistas de costas. Não vemos, mas idealizamos.

A história mostra um universo fechado, austero, rígido e violento de uma sociedade que poderá ser representativo dela, a Alemanha, que iria desembocar num dos conflitos mais sangrentos do mundo (1914-1918), tragédia que se repetiria vinte anos depois (1939-1945). Há uma hierarquização quase perfeita da sociedade: o barão versus os camponeses, os filhos perante os pais. Os castigos eram entendidos de modo directo; por isso, o afrontamento irregular a essas punições, como se houvesse um lado de martírio na sociedade. Do mesmo modo que os sinais exteriores do vestuário dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, o lenço branco indicava a impureza do pensamento e comportamento dos filhos do pastor.

Haneke nasceu em Munique em 1942. Entre outros filmes que realizou, destaca-se A Pianista (2001), com Isabelle Huppert.

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