domingo, 7 de março de 2010

A BALADA DA MARGEM SUL

Helder Costa considera a peça como uma versão moderna da dramaturgia universal, referindo Romeu e Julieta. Eu prefiro considerá-la uma adaptação do musical West Side Story a uma história do outro lado do Tejo, em que os porto-riquenhos são jovens negros em luta contra skin-heads e a música de Leonard Bernstein é substituída pela de Jorge Palma. Com influências ainda do rap e de Michael Jackson.

Pedro (Sérgio Moras), um dos skin-heads, apaixona-se por Leonor (Ciomara Morais), negra e cabeleireira. Mas, antes, participara na morte do irmão dela. Isabel (Patrícia Adão Mendes), modista, é irmã dele e amiga dela. O grupo dos skin-heads acaba por gerar um grupo de radicais negros, que apelam igualmente à destruição. Isto num ambiente de desemprego e evidente muito tempo livre nos jovens da margem sul do rio.

O palco contém uma nítida linha divisória. de um lado, o quarto caserna do skin-head, num plano mais alto e distante, e a sala de cabelereira e casa de Leonor, mais perto da boca de cena. Do outro lado, o local da festa, do baile e do espaço de jogo de cartas dos negros mais velhos. A linha divisória é território de confronto e local por onde passam os mortos das lutas entre os dois grupos raciais. O palco enche-se todo quando há cenas de escola e de espaço público. Muito bonita a encenação deste espaço público, como se fosse uma praça, onde a população passa, do jovem executivo à mulher-estátua, ao jardineiro, à rapariga que busca namorado e ao que rouba as esmolas ao cantor de rua, com um grande colorido e animação. Também gostei do quadro dos negros velhos a jogarem às cartas. Igualmente bem construídos os quadros de endoutrinação dos skin-heads, manifesto mais político da peça de Helder Costa.

A sala do teatro Barraca é pequena, o que permite aos espectadores estarem quase face a face com os actores, percepcionando melhor os seus gestos, as suas emoções. Destaco o papel das personagens de Pedro e Leonor por actores já conhecidos: Sérgio Moras já participa há anos nas peças da Barraca, Ciomara Morais começou a sua carreira nos Morangos com Açúcar.

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