Roland Barthes, no seu livro Sistema da Moda, fala em dois tipos de vestuário numa revista de moda. O primeiro é o fotografado ou desenhado, um vestuário-imagem. O segundo é o mesmo vestuário mas escrito, transformado em linguagem. No primeiro, empregam-se formas, linhas, cores; no segundo, palavras. Há, contudo, um terceiro tipo, o vestido real. O modelo que guia a informação transmitida pelos dois primeiros vestuários pertence à terceira estrutura (pp. 15-17).
Mas que dizer do vestuário exposto num museu? Já não é objecto de moda ou desejo e apenas motivo de recordação ou de interesse histórico e sociológico. Ver o vestuário dentro de um cavalete é retirar o conteúdo. O vestido é uma pele exterior, um contentor, a que falta a carne e a vida da sua portadora. Como seria ela? Bonita, velha, alta, magra, alegre? E o roupão ou camisa de dormir, usou-as muitas vezes? A esses vestidos e outros adereços chamam-se manequins, confundindo a função com as manequins das passagens de modelos.
No museu, continuamos no referente de modelo. Como diz Jean Baudrillard, os modelos já não constituem uma transcendência ou uma projecção mas são uma antecipação do real, são imanentes, são uma manipulação, com cenários e situações simuladas (Simulacros e Simulação, p. 152). A roupa presente no museu é um simulacro dessas alegrias ou tristezas e da beleza das portadoras das peças agora expostas. Não agarramos a realidade, mas um substituto, o simulacro, como bem expressa Baudrillard. Desligada da realidade, resta-nos a memória descontextualizada. Nem a informação escrita junto às peças nem a música de fundo conseguem trazer-nos à vida as cenas representadas por essas portadoras da moda.
[imagens tiradas no Museu do Traje. A segunda imagem pertence à exposição temporária de roupa interior do século XIX]
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