O futebol é, parece-me, a manifestação mais global do mundo. Todos nós temos opinião, achamos que o treinador A ou o jogador B estiveram bem ou não se portaram à medida, dos Fábios Coentrões aos Cristianos Ronaldos. Houve treinadores que foram logo despedidos como os do Brasil e da França. A primeira-ministra alemã (chanceler) esteve esfuziante no jogo do seu país com a Argentina. Em França, o presidente da República convocou uma reunião com o capitão e não sei quem mais da equipa. Em Espanha, a rainha desceu ao balneário e deu beijinhos aos jogadores, alguns apenas com a toalha de banho enrolada no corpo. Quanto à Coreia do Norte, não sabemos o que aconteceu aos jogadores e treinadores - bem-recebidos não terão sido mas não há notícias sobre isso.
No domingo e na segunda-feira, a televisão mostrou-nos imagens de multidões em Madrid festejando a vitória no campeonato mundial de futebol. Esta é uma semana atípica. O jornal Público, em artigo assinado por Teresa de Sousa, dizia que a vitória da Espanha era de certo modo a vitória do sul da Europa, o grupo dos PIGS (Portugal, Itália - ou Irlanda -, Grécia e Espanha). Noutro contexto, Ramos Horta, presidente de Timor-Leste, ao defender a entrada da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP, um país ditatorial em que se fala espanhol, dizia que o espanhol é (quase) um dialecto do português (ouvir aqui).
Mas não nos chegaram imagens do desalento além do que víamos na televisão: jogadores que riam, jogadores que choravam. Da Holanda, país finalista cuja equipa perdeu a final com Espanha, recuperei esta imagem [do sítio Radio Nederland Wereldomroep]. Que melhor imagem sobre o desalento dos fãs? Parece que o país perdeu a honra, o brilho, o orgulho, as capacidades, a cidadania. A televisão cria identidades - e quase as desfaz.
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