- Em 7 de Outubro [de 2010] fui à Ajuda assistir, no ISCSP [Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas], ao segundo dia das Provas de Agregação em Ciências da Comunicação, do professor universitário e investigador dos media doutor Nuno Goulart Brandão, que, tendo sido durante anos, profissional de televisão, é tido como profundo conhecedor de diversos campos da comunicação. A prova consistia numa lição, perante um júri constituído por sete catedráticos, aos quais o prof. Brandão apresentaria uma aula-síntese, sob o tema "As relações públicas e os papéis relacionais com os media". Fez, que eu vi, um notável exercício pedagógico, fluido, sistematizado e claro, sustentado por constante enquadramento teórico. O professor catedrático Adriano Duarte Rodrigues ocupar-se-ia da arguição. Mas o insólito acontece. Questionando, com primarismo boçal, matérias hoje classificadas como temática científica em sedes internacionais do conhecimento universitário, o mestre desata em considerações genéricas, bolçadas num nível de linguagem intolerável, acerca dos fundamentos, do campo de acção e dos modelos de desempenho da profissão de relações públicas, que me deixou indignado e revoltado. Rodrigues reduzia o sério esforço pedagógico (que não arguiu) a meras questões vocabulares. E descomedido e chocarreiro, malbarata conceitos estáveis, tripudia teorias hoje indiscutíveis nas academias sérias da comunidade científica, desprezando autores consagrados e investindo a espasmos irreprimidos do seu fel, sobre áreas do conhecimento que assumiu não tanger.
O artigo de José Nuno Martins provocou uma discussão polémica na lista da SOPCOM (Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação). Destaco parcelas de algumas mensagens ali colocadas ao longo destes dias:
"Orgulho-me de todo o enriquecimento e saber científico que venho adquirindo no aprofundamento desta área – caminho fascinante no qual tenho ainda muito mais a aprender e a explorar. Dou os parabéns a todos quantos investem em reflexões e conhecimentos na disciplina científica e na actividade profissional das Relações Públicas. Saúdo todos quantos divergem de opinião sobre teorias, modelos, conceitos, ideias, desta área polissémica, multifacetada, plural, abrangente – pois da discussão e da discórdia nascem os consensos, avança a Ciência e o Saber".
"Gostaria de poder presenteá-los com a informação de que me encontro a desenvolver uma investigação no âmbito de pós doutoramento, de parceria entre Portugal e a Universidade de S. Paulo do Brasil, cujo objectivo é reconhecer e poder comparar o "estado da arte" da Comunicação empresarial e das Relações Públicas entre o Brasil e Portugal. Na verdade acabei de regressar do Brasil onde convivi nos últimos meses com nomes como Paulo Nassar e Margarida Kunsch, a responsável pela pesquisa que desenvolvo".
"Enquanto membro da SOPCOM associo-me ao pedido de um forte repúdio relativo aos estranhos acontecimentos das Provas do Prof. Brandão".
"Enquanto docente de disciplinas sobre publicidade e relações públicas [...] e enquanto investigador no domínio da publicidade, gostaria de, se me permitirem, reposicionar esta questão. Mais do que repudiar vou louvar. Assim sendo, serve esta mensagem, para felicitar e enviar um forte abraço de amizade e de estima científica e pedagógica ao Professor Nuno Brandão".
"Os Presidentes da Direcção e do Conselho Técnico Científico da Escola Superior de Comunicação Social onde se desenvolve uma licenciatura em Relações Públicas e Comunicação Empresarial ao tomarem conhecimento do artigo publicado no Diário de Notícias, assinado por José Nuno Martins, no qual o autor relatou algumas referências indignas quanto à área de estudos das Relações Públicas, proferidas por um membro do júri numa prova pública de agregação, que mais não revela do que profundo desconhecimento pela relevância que esta área hoje tem nas Ciências da Comunicação devem merecer o veemente protesto da Instituição que representamos".
"A Direcção da SOPCOM e o “professor incontinente”. Muitos membros da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (SOPCOM) têm interpelado a sua Direcção sobre as provas de agregação do Prof. Nuno Brandão, que tiveram lugar em 7 e 8 de Outubro no ISCSP, em Lisboa. O motivo dessa interpelação é o relato publicado no DN de 14 de Outubro, por José Nuno Martins, sobre o modo como tais provas se processaram. Através desse relato ficamos a saber que o candidato foi humilhado, a ciência maltratada e o debate académico escarnecido. Além disso, no decurso dessas provas, a área científica das relações públicas foi considerada coisa desprezível, sendo vilipendiada como uma actividade de “casas de passe”. Na rede interna da Associação, vários têm sido os associados que entenderam expressar a sua indignação e o mais vivo repúdio. Também a Direcção da SOPCOM leu com inquietação e tristeza o relato público dos acontecimentos. Reconhecemos, evidentemente, a soberania total do júri na avaliação do mérito de provas académicas e não nos cabe fazer quaisquer considerações a este respeito. Mas não podemos entender que um membro do júri extrapole do domínio científico para práticas inaceitáveis do ponto de vista ético, académico e humano. A legislação e os regulamentos em vigor determinam que as provas sejam públicas, intervindo, livremente, quer o candidato, quer os professores encarregados de as arguírem. Ora, as provas públicas obedecem às regras do que é público, tanto sobre a cortesia, como sobre a convivialidade, como ainda sobre o respeito mútuo. A exigência nas provas públicas não é, sem dúvida, menos essencial do que a exigência por que o júri responde na sua competência reservada de avaliação. De acordo com os relatos e os testemunhos que chegaram à Direcção da SOPCOM, as condições que nobilitam um acto académico não foram garantidas nestas provas. Verificou-se, pelo contrário, que um dos membros do júri, o Professor Doutor Adriano Duarte Rodrigues (UNL), usou de termos ofensivos e discriminatórios para com o candidato, que pela sua gravidade comprometeram a serenidade que deve acompanhar tal acto académico, e comprometeram igualmente a autonomia e a dignidade do candidato. Sendo o Prof. Nuno Brandão membro da SOPCOM, manifestamos-lhe a nossa solidariedade, por ter estado não propriamente numa prova académica, mas por ter sido submetido a uma provação pessoal inaceitável. Nas afirmações proferidas pelo Professor Adriano Duarte Rodrigues, de que existe relato público, ficamos a saber que ocorreu nestas provas um ajuste de contas com a instituição de origem do candidato, e também com o seu orientador de doutoramento. Por outro lado, ficamos também a saber que o juízo académico foi inquinado por uma visão diminuída, e mesmo retorcida, das Ciências da Comunicação. Relativamente a esta visão manifestamos o nosso absoluto desacordo. Com efeito, de modo nenhum as Ciências da Comunicação excluem a formação e a investigação nas diversas áreas da comunicação aplicada. E este ponto de vista tanto vale para as relações públicas, o marketing e a publicidade, como para o jornalismo e o multimédia, entre outras áreas. Denegrir as provas de um candidato pela recusa da atribuição de carácter científico à área em que o candidato se apresentou, e caricaturar a área, descrevendo-a através de metáforas sexuais de gosto duvidoso, revela uma perspectiva dogmática e doentia do que sejam as Ciências da Comunicação. Nenhum sumo-sacerdote pode sobrepor-se à comunidade académica, nacional e internacional, decretando o que sejam as “boas” e as “más” Ciências da Comunicação, independentemente da tradição académica dessas áreas, uma tradição cultivada nas universidades e nos politécnicos, públicos e privados, em Portugal e no estrangeiro. Sem dúvida que o professor Adriano Duarte Rodrigues teve um papel importante na constituição das Ciências da Comunicação em Portugal. No entanto, há mais de uma década que, por actos continuados e semelhantes àquele que ora repudiamos, a comunidade académica portuguesa de Ciências da Comunicação tem suportado esta indignidade de cevar os seus caprichos e ajustes de contas. A Direcção da SOPCOM reafirma a sua política científica de acolher a investigação e os investigadores em todas as áreas das Ciências da Comunicação, e também a prática científica e dialogante dos diversos grupos de trabalho, dado que é no trabalho científico e no diálogo que se afirma criticamente o saber. Nestas circunstâncias, a Direcção da SOPCOM apenas pode desaprovar esta continuada tentativa de controle administrativo da ciência. E defende, como sempre o tem feito, a liberdade de investigação, repudiando todos os actos universitários que não respeitem a dignidade pública das provas e a dignidade humana daqueles que nelas participam".
"A Entidade Instituidora e a Direcção do INP – Instituto Superior de Novas Profissões vem por este meio dar conhecimento e mostrar a nossa indignação pelo facto do Professor Catedrático Doutor Adriano Duarte Rodrigues, em plenas Provas de Agregação no ISCSP, da Universidade Técnica de Lisboa, do candidato Professor Doutor Nuno Goulart Brandão, face ao tema da sua Lição de síntese subordinada ao tema “As Relações Públicas e os papéis relacionais com os Media” decidir realizar um rol de considerações ofensivas acerca do papel das Relações Públicas, da sua validade científica e do que fazem os seus profissionais. […] Não queremos entrar no processo decorrente das Provas de Agregação do candidato Professor do INP, até porque se fosse um candidato de outra Universidade Pública ou Privada, não deixaríamos de repudiar esta atitude inqualificável para um Professor Catedrático de Ciências da Comunicação com questionamentos ofensivos para todas as Instituições de Ensino Superior que têm nos seus Cursos ou Unidades Curriculares de Relações Públicas, seus Professores e Investigadores, seus milhares de profissionais em Organismos, Empresas Públicas e Privadas, Agências de Comunicação, áreas afins, bem como todos os profissionais da Comunicação Social. Lamentamos e repudiamos o sucedido e apoiaremos, sem reservas, todas as acções ou procedimentos que o referido Professor do INP vier, ou não, a tomar face à defesa do seu nome e das condições por que teve de passar nas suas Provas de Agregação, bem como face às posições públicas que possa vir a efectuar na defesa de uma Profissão e suas práticas de milhares de profissionais e académicos".
"A atentar na veracidade do relato de JNM, o professor Adriano Duarte Rodrigues, eminente e reconhecido catedrático, terá tecido insólitas e ofensivas considerações sobre a profissão de Relações Públicas. Atribuiremos a incontida verve a uma hora menos feliz do professor, a quem a comunidade académica deve a introdução da Comunicação, como área científica, na universidade pública portuguesa. Não deverá esta nuvem ser tomada por Juno, pois a comunidade académica é hoje constituída por excelentes estudiosos e defensores desta disciplina e dos seus praticantes, ambos hoje membros activos da nossa associação. É pois o momento de relembrar que o Código de Conduta do Gestor de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, a base orientadora proposta pela APCE para o exercício desta actividade profissional, foi elaborado por um grupo constituído por profissionais de relações públicas e académicos".
"À Direcção e aos membros da SOPCOM. Pergunto se será aceitável a uma Associação de Ciências da Comunicação tomar uma posição pública baseada num ARTIGO DE OPINIÃO DE UM JORNAL?"
Actualização a 22.10.2010: "Conceito de Relações Públicas gera polémica entre académicos e profissionais. 20-Out-2010. A direcção da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom) acusou ontem o professor Adriano Duarte Rodrigues de ter vilipendiado a área científica das relações públicas, mas o catedrático refere que apenas questionou o conceito. Em causa estão alegadas afirmações feitas por Adriano Rodrigues, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, enquanto arguente das provas públicas de agregação de Nuno Brandão, professor do Instituto Superior Novas Profissões, do Grupo Lusófona. “No decurso dessas provas, a área científica das relações públicas foi considerada coisa desprezível, sendo vilipendiada como uma actividade de ‘casas de passe’, refere a direcção da Sopcom, em comunicado enviado à agência Lusa. No comunicado, subscrito pelo presidente da Sopcom, Moisés Martins, pelos vice-presidentes, Bragança de Miranda e Paulo Serra, e pelo presidente da Assembleia Geral, Paquete de Oliveira, refere-se que “o candidato foi humilhado, a ciência maltratada e o debate académico escarnecido”. “Denegrir as provas de um candidato pela recusa da atribuição de carácter científico à área em que o candidato se apresentou, e caricaturar a área, descrevendo-a através de metáforas sexuais de gosto duvidoso, revela uma perspectiva dogmática e doentia do que sejam as ciências da comunicação”, salienta a associação. Para a Sopcom, de que Nuno Brandão é associado e Adriano Rodrigues não, “nenhum sumo-sacerdote pode sobrepor-se à comunidade académica, nacional e internacional, decretando o que sejam as ‘boas’ e as ‘más’ ciências da comunicação”. Contactado pela Lusa, Adriano Rodrigues negou que tenha ofendido alguém ou que tenha denegrido a área das relações públicas, sublinhando que apenas perguntou ao candidato o que entendia por relações públicas. “Foi um questionamento de conceitos. Não chamei nomes a ninguém. Não ofendi ninguém”, afirmou o catedrático, referindo que respeita a área científica em causa, tendo até recebido um prémio da Associação Portuguesa de Relações Públicas. Adriano Rodrigues realçou que Nuno Brandão não conseguiu responder cabalmente às perguntas que lhe foram feitas, o que levou cinco dos sete membros do júri a reprovarem as suas provas. “Fui o penúltimo a votar. O candidato já estava chumbado quando votei”, notou, atribuindo as críticas que lhe dirigem a uma “tentativa de linchamento” conduzida pela Sopcom e pela Universidade Lusófona. “É veneno puro da Sopcom e da Lusófona. Sou uma pessoa a abater porque fiz uma exigência conceptual”, frisou. Fonte: Lusa"
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