Dois livros editados ao mesmo tempo na colecção do CIMJ (Centro de Investigação Media e Jornalismo) na editora Livros Horizontes significam uma grande aposta.
O primeiro, Do chumbo à era digital, é uma obra organizada por Nelson Traquina, o fundador do centro, com 13 leituras do jornalismo: o organizador, Rosa Maria Sobreira, Álvaro Costa de Matos, Fernando Correia, Carla Baptista, Ana Cabrera, Cristina Penedo, Rita Figueiras, Isabel Ferin Cunha, Willy S. Filho, Estrela Serrano, Maria João Silveirinha, Cristina Ponte e Rui Miguel Gomes. Do grupo, contam-se alguns discípulos dilectos de Traquina, o que mostra a importância do livro agora editado.
O organizador, na introdução, recorda o começo da década de 1990: "Quando em 1991, preparei a bibliografia para o meu primeiro seminário de graduação sobre o jornalismo no Mestrado em Comunicação Social (agora Ciências da Comunicação) na Universidade Nova de Lisboa, confrontei-me com um problema bem real de que não me tinha apercebido conscientemente até então: a quase inexistência de livros em língua portuguesa sobre o jornalismo e mesmo livros sobre a área mais vasta da Comunicação".
Os textos distribuídos aos seus alunos desse memorável ano lectivo de 1991-1992, em instalações da universidade não longe da maternidade Alfredo da Costa, em aulas à quinta-feira à tarde, numa mesa em U, em que os alunos liam e partilhavam os conhecimentos adquiridos em 40 páginas semanais em média, seriam publicados na sua maioria dois anos depois na colectânea Jornalismo: questões, teorias e "estórias", manual que tem servido de inspiração e trabalho a duas ou três gerações de estudantes em todo o país.
Prossegue o organizador da obra: "em 1997, foi criado um centro de investigação que pretendeu reunir pesquisadores de diversas universidades, públicas e privadas, com o intuito de se dedicar à investigação sobre os media e o jornalismo: o Centro de Investigação Media e Jornalismo (CIMJ)". Na senda do centro, foi criada a colecção de livros, agora com mais de trinta títulos já publicados, e a revista Media & Jornalismo com treze números editados. Grande parte dos textos publicados no novo livro tiveram uma publicação prévia na revista e todos os seus autores são membros do CIMJ, numa linha do trabalho notável desempenhado por Nelson Traquina com investigadores e muitos dos seus alunos. Em 2001, saía o livro O jornalismo português em análise de casos (Nelson Traquina, Ana Cabrera, Cristina Ponte e Rogério Santos); em 2007, saía A problemática da SIDA como notícia (Nelson Traquina, Marisa Torres da Silva e Vanda Calado). A colectânea Jornalismo: questões, teorias e "estórias" era dedicada aos seus alunos e Big Show media (1997) foi um texto que incorporou os seus alunos de Produção Jornalística na Universidade Nova.
O segundo é a edição em português do importante livro de Daniel C. Hallin e Paolo Mancini, Sistemas de media: estudo comparativo. Três modelos de comunicação e política.
Os autores fizeram uma pesquisa sobre instituições de media em dezoito democracias da Europa ocidental e da América do norte e apresentam três modelos principais: pluralista polarizado, corporativista democrático e liberal. Na nota à edição portuguesa, Nelson Traquina faz notar não haver "quaisquer dúvidas sobre a riqueza de informação presente no trabalho de Hallin e Mancini". Portugal aparece bem estudado no livro, com a colaboração de Traquina.
Num outro texto, Hallin [(2008). "Neoliberalism, social movements and change in media systems in the late twentieth century". In David Hesmondhalgh e Jason Toynbee, The media and social theory], descreve o audiovisual como se tendo desenvolvido numa linha distinta da imprensa, caso da Europa, muitas vezes com uma lógica de serviço público ligado ao poder de Estado, combinando uma lógica de profissionalismo jornalístico e uma relativamente produção cultural autónoma. Mesmo nos Estados Unidos, o audiovisual comercial era regulado pelo Estado e existia um modelo de confiança que impunha obrigações de serviço público aos seus proprietários. A velha ordem foi enfraquecida por vários factores. Um foi a comercialização dos próprios media. No audiovisual, isso foi patente, com a mudança do serviço público para a comercialização [a desregulação selvagem, designação de Nelson Traquina, apropriada no livro de Hallin e Mancini agora em língua portuguesa]. Nos Estados Unidos, a desregulação eliminou as obrigações de serviço público baseadas no "modelo de confiança". Nos dois casos, além disso, os mercados televisivos tornaram-se mais competitivos.
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