domingo, 9 de janeiro de 2011

LOLA

Lola (2009), do realizador filipino Brillante Mendoza (1960), é um dos filmes que mais gostei em 2010. Pela história e pela mensagem que transmite.

Duas avós (lola em filipino) têm de decidir o destino das suas famílias pobre de Malabon, em Manila. A história de cada uma é, se quisermos, complementar da outra. Uma delas, Lola Sepa (Anita Linda), vê o neto ser assassinado, a outra, Lola Purificação (Rustica Carpio) procura salvar o neto da prisão por ter assassinado. Lola Sepa usa a sua pequena pensão para comprar o caixão para o neto, pede um empréstimo para o funeral, negoceia com Lola Purificação a indemnização que a leve a desistir de apresentar queixa contra o neto desta (logo, a libertação da prisão). A avó Purificação empenha a televisão e comete pequenas fraudes na sua venda de legumes para obter o dinheiro para pagar a indemnização. Ambas cuidam de familiares - netos ou filho doente.


O realizador e a argumentista Linda Casimiro tinham visto uma notícia na televisão sobre uma avó que procurava apoio para o neto, preso por ter morto alguém de modo acidental. Outro artigo contava que uma mulher idosa pedira dinheiro para enterrar o neto. Ao ligar as duas histórias como uma narrativa, surge parte da ficção de Lola.

O filme foi feito em dez dias durante a época das chuvas em Manila; Brillante Mendoza quis mostrar como isso cria dificuldades às comunidades. O ambiente e o movimento permanente de água funcionaram como uma metáfora de vida e de morte. A água é simultaneamente fonte da vida e motor de destruição e catástrofe. Assim, ao juntar o crime ao efeito da água, mostra-se como as vidas das pessoas aparecem afectadas no espanto, na perda e na dor - no caso, aos olhos das duas velhas mulheres.

Das imagens mais fortes que retive, uma foi a do canal. Uma das frentes das casas dava para um canal. O pedido de esmolas para apoiar o funeral, o funeral em si, o uso dos barcos como meio de transporte, as conversas que as mulheres tinham com os passageiros dos barcos, as pequenas reuniões na varanda voltada para o canal, faziam deste o espaço público principal. Outra foi a da prisão e da conversa da avó Purificação com o seu neto. Uma terceira imagem forte surgiu no final do filme, quando se dá uma espécie de milagre dos peixes: a avó Sepa vê e pesca peixes no seu "aquário" da casa que dá para o canal. A leitura é de esperança - a um período tão complicado parecia surgir um período de abundância. Uma quarta imagem é a da conversa entre as duas avós num restaurante de fast food, quando acertam o preço da indemnização a pagar.

As duas avós são profissionais do cinema desde há muito. Anita Linda (nascida em 1924) participou em mais de 200 filmes - ela está activa desde a década de 1940, Rustica Carpio (nascida em 1930) trabalhou muito no cinema durante a década de 1970.

Trailer em http://www.imdb.com/video/screenplay/vi2450458393/.

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