Há algumas características nas revistas cor-de-rosa, de televisão, de mexericos e escândalos. Em primeiro lugar, os grupos de media (Cofina, Impresa, Impala) têm revistas no seu portefólio. Em segundo lugar, as narrativas (vida das celebridades, casamentos, escândalos, revelações "explosivas") sucedem-se em edições sequenciais. Por vezes, acompanha a actualidade (agenda, acontecimentos disruptivos, como o assassinato do cronista social Carlos Castro, que encheu as primeiras páginas das revistas das edições da semana passada). Em quarto lugar, há uma nítida articulação com a televisão, as estrelas das telenovelas e dos reality-shows.
Há um claro pagamento (em espécie, simbólico) de quem aparece - imagens do lar, produções como modelo. Por isso, infiro uma interacção da revista com a pessoa que aparece na capa. As situações retratadas nas páginas, por muito estranhas que possam parecer, dão conta de uma grande variedade - como se fosse uma fauna de tipo novo. Ao folhear as páginas das revistas dou-me conta de que não conheço muitas das personagens e apercebo-me de que têm carreiras sólidas em diversas profissões, estratos sociais e situações psicológicas: actores e vedetas de televisão, príncipes (em especial se vão casar ou o casamento passa por algum problema), modelos, acompanhantes (eufemismo para prostitutas), anónimos tornados celebridades pelos reality-shows, celebridades que são porque se encontram em festas frequentadas por outras celebridades, namoradas de futebolistas ou dirigentes desportivos, tarólogas, casais disfuncionais, marchands. Vejo fotografias de Andreias, Antónios, Josés, Carlos, Soraias, Melânias, Irinas, lânguidas ou empreendedoras, sorridentes e em pose, sozinhas ou em famílias grandes, em casa ou em viagem ou acabadas de chegar de viagem.
Concluo que as publicações das celebridades revelam a história de um país paralelo. Em vez de greves, quebra de salários, campanhas eleitorais, acidentes naturais, medo da vinda do FMI, há um mundo feito de paixões, beleza, concorrência, coisas boas da vida. Se estivéssemos naquelas páginas seríamos muito felizes, creio. Ou haveria leitores que se preocupassem com as nossas mágoas.
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