De entre as representações do conceito público, a sondagem é uma das mais usadas formas de medir. A medição de audiências situa-se no mesmo plano, com emprego estatístico, quando aplicada à televisão, à rádio e, mas recentemente, à internet, onde se aplicam valores ligados a públicos-alvo, programação.
No seu livro Quantifier le public (2010), Cécile Méadel analisa a evolução da medição de audiências de um tempo qualitativo até uma época de valores quantitativos. Aparelhagem metodológica, definição do objecto, utilizações dos resultados, inquérito telefónico, caderno diário, audímetro, são alguns dos elementos trabalhados no livro.
O texto é objectivo, mas nota-se uma espécie de nostalgia pela perda de importância do conceito público face ao de audiência, de modo menos notório e apaixonado que nos livros de Daniel Dayan. Méadel (2010: 10) afirma a existência de críticas (técnicas), a primeira das quais acentua o carácter artificial das medidas, a diferença muito negligenciada entre público e audiência e os limites, em particular científicos, dos dados que nada dizem em termos das práticas de consumo.
Em segundo lugar, a crítica entra nas esferas do político, do mediático e do universitário, dada a articulação desastrosa entre medidas de audiência e qualidade de programas. O audímetro é uma espécie de separador da programação em direcção ao menor denominador comum, de fraqueza da qualidade intelectual dos programas. O audímetro parece ser o oposto da inteligência na televisão ou o audímetro é a desculpa para a a falta de debate (Méadel, 2010: 11). Ainda: o audímetro é um instrumento de gestão económica das marcas.
A autora escreve sobre o Big Brother, o programa audimétrico por excelência, que condensa todos os ingredientes da televisão contemporânea (directo, interactividade, autenticidade e intimidade), construído para ser falado pelos outros. No fundo, a medição de audiência marginaliza o estudo qualitativo e aprofundado das práticas culturais dos usos da rádio e da televisão (Méadel, 2010: 15).
O livro identifica o desenvolvimento dos inquéritos estatísticos nas décadas de 1950 e 1960, aplicados respectivamente à rádio e à televisão em França, a produção de publicações, o interesse da matéria sobre os políticos e as empresas (de audiovisual, anunciantes) e o uso do audímetro.
Cécile Méadel é investigadora do Centre de sociologie de l'innovations (CNRS) e professora universitária, publicou nomeadamente uma Histoire de la radio des années trente, que este blogueiro leu com muita atenção e prazer, e conjuntamente com Jérôme Bourdon está a organizar a edição do livro Deconstructing the ratings machine: television audience measurement worldwide (com capítulos de especialistas na área como Philip M. Napoli e Tom O’Regan).
Leitura: Cécile Méadel (2010). Quantifier le public. Histoire des mesures de la radio et de la télévision. Paris: Economica, 283 páginas
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