segunda-feira, 4 de abril de 2011

RELATADORES DE FUTEBOL

O relatador de futebol não é como o cantor de ópera, mas tem de aguentar 90 minutos a relatar o jogo com voz imponente. Não é escritor ou poeta mas elabora expressões de forte densidade e emoção. No jogo de ontem, entre Benfica e Porto, o relatador classificou um dos quatro jogadores portugueses em campo como cientista da bola e inventor. Num dado momento, quando os adeptos atiraram fruta para o terreno, o relatador dizia estar-se num supermercado, ou melhor, numa grande superfície. A cada golo ou tentativa de golo, ele gritava, exultava, prolongava a duração das palavras, ria, quase chorava. O relatador de futebol na rádio cria e recria ambientes, exagera o que é normal, descobre e descodifica sinais que os habituais assistentes ao jogo não vêem. Por vezes, o relatador pede ajuda a um colega que acompanha a emissão da televisão, à procura de justificação para as atitudes de momento, para encontrar e dizer a verdade ao ouvinte. O relato de futebol na rádio é quase uma obra-prima, fica muito acima da televisão, onde o comentador diz coisas óbvias que nós também encontramos na imagem. O locutor que relata é um entusiasta do espectáculo, um artista, um construtor, quase um génio, tem uma paixão. Por isso, eu gosto muito da rádio.

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