terça-feira, 14 de junho de 2011

LUCKI E AS BAIBIES

Lucki e as Baibies, texto de Marta Freitas, narra a história de um grupo de teatro em que o fundador é Lucki (Pedro Mendonça). O grupo vai de terra em terra mostrar o seu espectáculo e é um misto de circo e teatro ambulante, em um só acto ou com cenas de cenas a lembrar o teatro de vaudeville (mas sem artistas convidados para cada sessão) e os temas da beat generation: errância, famílias desestruturadas, inadaptação. Mas é também a história das duas mulheres que o acompanham no espectáculo, Dorita (Marta Freitas) e Gemma (Teresa Queirós), aquela mais velha que esta e preterida nos favores sexuais de Lucki. Cada personagem encerra uma vida de privações, violações e violência doméstica familiar, cujos pormenores íntimos são revelados nas conversas que estabelecem nos intervalos do espectáculo. Este já teve um público mais caloroso, o que leva os artistas a interrogarem-se das causas.

Há um quadro psicológico individual, em que a solidão e o insucesso crescem e levam Lucki, Dorita e Gemma a um quadro de grande violência: fuga através da bebida, machismo e desprezo pelo género feminino, submissão, pobreza mas vontade de continuar a representar diante de um público. A decadência e a morte parecem esconder os sonhos, a magia, os papéis do palhaço e da trapezista, do domador e do ilusionista, do declamador e do artista trágico, os contos de fadas, o bailado, a canção de amizade e carinho, a juventude que os artistas tiveram e acreditaram existir para sempre, a par do êxito escasso e efémero.

A peça, com encenação de João Paulo Costa, representa dois mundos: o palco (o espectáculo em si) e o bastidor (o que se esconde, em especial a violência dentro do grupo), como o sociólogo Erwing Goffman ilustra os seus livros. A cortina, ao abrir, fechar e entreabrir, permite ao espectador aceder a esses momentos. Por vezes, o silêncio é tão intenso como a conversa ou os gritos. Outras vezes, a música que cantam, as danças que apenas ensaiam, as plumas e os adereços que usam, soam a falso. O cenário, uma roulotte, simultaneamente o palco e o espaço onde vivem, comem, dormem, discutem e brigam, enquadra bem o lado saltimbanco do grupo.

Além de autora de Lucki e as Baibies, com formação académica em psicologia e teatro, Marta Freitas é actriz e professora na ACE (Academia Contemporânea do Espectáculo) e no Balleteatro Escola Profissional. Lucki e as Baibies está em cena na ACE - Teatro do Bolhão, no Porto [imagem ao lado retirada do blogue de ana pereira].

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