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O livro é, porém, mais do que aquilo que se lê na contracapa. É a investigação de uma vida, da docente que tirou dois graus (mestrado e doutoramento) em S. Paulo e aí adquiriu as metodologias de investigação de um género televisivo igualmente muito popular no Brasil. É ainda o facto de a autora trazer a tipologia de investigação e ter criado discípulos que prosseguem com investigação própria. A primeira frase da apresentação do livro é a seguinte: "Memória da Telenovela é uma obra sobre ficção seriada televisiva". Isto abre para outra dimensão, a do percurso do formato e o seu impacto na sociedade. A soap opera americana, amada e odiada em simultâneo, porque considerada produto de consumo popular e produto de baixa qualidade, chegou à América latina e hibridizou-se, transformou-se. De Cuba passou para o Brasil, Argentina e México, os ainda hoje grandes produtores de telenovela, antes dela chegar à Europa, nomeadamente Portugal.
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Porque ainda não li o livro na totalidade, retenho apenas a estrutura do primeiro capítulo, em que a autora esboça uma periodização funcional para explicar a investigação sobre a história da ficção e dos media em Portugal desde a década de 1930 (a tese de doutoramento da autora, não publicada, foi sobre António Ferro, o ideólogo do Estado Novo) até 2005. Assim, ela divide esse longo período em cinco etapas: Estado Novo (1930-1974, subdividido em quatro ciclos), revolução de Abril de 1974, normalização democrática e modernização (1977-1988), mercado televisivo e ficção (1992-1998), estratégias da ficção em português (1998-2005). Dados estatísticos, compreensão dos acontecimentos políticos, culturais, sociais e empresariais, a par dos principais programas na televisão portuguesa, dão um panorama alargado deste nosso passado rico e complexo.
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