Tio Vânia, de Anton Tchekhov, agora sem o tio no título, é a peça em cena no Teatro da Trindade. A personagem principal é desempenhada por João Lagarto. O tio Vânia vive na Rússia rural, onde a sua riqueza é extraída da terra. Ele e a sobrinha Sonia (São José Correia) administram a propriedade. Nesta, residem ainda a mãe de Vânia, Maria (Elisa Lisboa), velha diletante dos manifestos políticos, Marina (Lucinda Loureiro) e Telegin (Wagner Borges), que trabalham diretamente com Vânia e Sonia nos cuidados da terra e dos animais. O eixo rural compõe-se ainda do médico Astrov (Pedro Lima), também dado à defesa e preservação do ambiente, por quem Sonia nutre uma paixão não correspondida. A pacatez do lar é alterada com a chegada do professor (José Wallenstein), genro de Maria, cunhado de Vânia e pai de Sonia, que chega acompanhado da sua muito jovem esposa Elena (Teresa Tavares), por quem Vânia e Astrov se apaixonam.
Cada uma das personagens permanece atual: o académico cuja obra é incompreensível ou desatualizada, a sua mulher que vive num permanente tédio apesar de adulada por todos, um médico falhado por não viver numa sociedade mais liberal, uma mulher que julga ainda viver de causas e combates políticos mas estes são já anacrónicos, um homem que se esforçou a vida toda mas que não retira qualquer provento intelectual ou material. Não incluindo aqui os papéis de Marina e Telegin, seres esforçados na vida do dia a dia mas que não figuram nos livros do porvir, restam Sonia, que tem um maior entendimento do mundo humano, com as suas fraquezas e imponderabilidades, e Vânia, individualista, sofredor e causador de sofrimento, um ser igual a muitos de nós, cujas análises e projetos têm incoerências e ambiguidades.
Para além dos papéis convincentes do grupo de atores e atrizes, numa versão e encenação de Isabel Medina, o mais importante é a história (as histórias) da peça, e a interpretação que ainda hoje damos a uma proposta escrita em 1896.
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