Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
A dança para Salavisa
Jorge Salavisa escreveu as suas memórias, Dançar a Vida (2012). Ele pergunta na badana do livro: "porquê escrever estas memórias que não pretendem ser mais do que um relato por vezes desajeitado - mas animado e colorido, espero - dos meus encontros e desencontros profissionais, mas também e sobretudo das minhas relações de afeto profissional ao longo de mais de 50 anos"? Os primeiros anos, África, Lisboa, Rudolf Nureyev, London Festival Ballet, viagem à Índia, Margot Fonteyn, Ballet Gulbenkian, Lisboa 94, Pina Bauch, Companhia Nacional de Bailado e Teatro São Luiz são alguns dos tempos e capítulos do livro. O prólogo é triste: a doença levou-o a uma tentativa de suicídio. Alguém, na vida do bailarino, reapareceu para o ajudar. Mas as coisas não correram bem. Quando voltou ao hospital, a enfermeira Cláudia desvelou-se em cuidados. Ao ver os outros doentes, dignos na sua luta contra a enfermidade, José Jorge Salavisa, que tivera tantos triunfos na vida, entenderia que não devia desfalecer. Do prólogo saltou para os primeiros anos, nascido nos finais de 1939. Memórias das tias, das férias nas Caldas da Rainha e de S. Martinho do Porto, do Portugal do tempo da II Guerra Mundial e dos judeus refugiados que passavam em direção aos Estados Unidos. Depois, Salavisa viveria em Angola, onde o pai engenheiro foi trabalhar. O regresso a Lisboa dar-se-ia em 1955. Descobriria o teatro, a ópera e a dança. Apaixonou-se pela dança: como diria Pina Bauch: "comecei a dançar para não ter de falar" (p. 44). Em 1958, estava já nos estúdios Vacker e de Lubov Egorova em Paris a estudar. Com Anna Mascolo, iria também a Londres. Paris e Londres seriam pontos essenciais na vida e carreira do bailarino. Depois veio uma viagem muito atribulada pela Índia, numa altura em que aquele país e Portugal ainda não tinham restabelecido relações diplomáticas, Margot Fonteyn, de nome familiar Fontes Hookham (p. 173), o Ballet Gulbenkian quando os alunos é que avaliaram o mestre (p. 188), o reforço do repertório em obras de dança contemporânea (p. 197). Leitura: Jorge Salavisa (2012). Dançar a Vida. Memórias. Lisboa: D. Quixote, 315 p., 19,90 euros