Textos de Rogério Santos, com reflexões e atualidade sobre indústrias culturais (imprensa, rádio, televisão, internet, cinema, videojogos, música, livros, centros comerciais) e criativas (museus, exposições, teatro, espetáculos). Na blogosfera desde 2002.
domingo, 26 de maio de 2013
Conferência Internacional sobre Economia Criativa de Lisboa
O Festival IN – Festival Internacional de Inovação e Criatividade é um evento que integra os conceitos associados a criatividade e inovação. A primeira edição do Festival IN realiza-se na FIL – Feira Internacional de Lisboa entre 14 e 17 de Novembro de 2013. Engloba as seguintes áreas: artes visuais, artes performativas, arquitectura, cinema e vídeo, património, televisão e rádio, design, videojogos, música, edição e criação literária, multimédia, TIC, telecomunicações, publicidade e I&D.
Porém, já a 29 e 30 de Maio, há actividades (warm up). Ler mais aqui.
A Impresa na perspectiva de Pedro Norton
Na passada terça-feira, o presidente executivo da Impresa (SIC, Expresso, Visão), Pedro Norton de Matos, deu uma importante entrevista ao jornal Público.
Sem eliminar a leitura total do texto de Maria Lopes e Miguel Gaspar, deixo aqui elementos que me parecem essenciais para compreender o negócio actual da televisão (e dos media em geral) aos olhos do principal responsável da Impresa depois de Francisco Pinto Balsemão.
Primeiro, há expectativas de Pedro Norton quanto a resultados positivos este ano, apesar da quebra de 16% no total da televisão no primeiro trimestre de 2013 (a SIC terá baixado 1,8%). O gestor destaca a resiliência da televisão como meio, apesar das mudanças tecnológicas e da massificação de outros meios. Para ele, a imprensa em papel tem uma situação mais complicada, apesar de não acreditar no seu desaparecimento. Prefere falar em reinvenção, nomeadamente em termos de modelo de negócio.
Segundo, fala da relação das empresas de televisão com a CAEM (Comissão de Análise e Estudo de Meios), a propósito da GfK. Recentemente a RTP e a TVI sairam da CAEM, por quererem fazer uma auditoria à medição de audiências por parte da GfK. Pedro Norton de Matos indica, na entrevista, que as primeiras críticas ao processo de medição de audiências começaram há três anos quando a TVI acusou o painel da Marktest estar desactualizado. A pressão foi tão grande que a CAEM fez um concurso, onde saiu vencedora a GfK. Agora, a TVI elogia a Marktest. Contudo, continua o gestor, tirando aqueles dois grupos de televisão que sairam, todos as entidades dentro da CAEM (operadores de cabo, agências, SIC) estão satisfeitas com o trabalho actual de medição de audiências.
Terceiro, o responsável da Impresa refere à liderança da SIC no horário nobre, que desde 2000 pertencia à TVI. Para tal, tem contribuida a ficção portuguesa, com o apoio da SP e da Globo na co-produção de novelas, sem desmerecer o trabalho da informação do canal. Gabriela, Dancing Days e Avenida Brasil contribuiram para essa consolidação.
Outros temas abordados na entrevista seriam a crença que o governo já não vai voltar a falar da privatização da RTP, o lançamento de um canal na área do social este ano (canal cor de rosa, como indicava a chamada de atenção na primeira página do Público de terça-feira) e a mudança de geração nos comandos da SIC (hoje trabalha-se mais em equipa e menos na base de uma cara: Balsemão ou Rangel).
Primeiro, há expectativas de Pedro Norton quanto a resultados positivos este ano, apesar da quebra de 16% no total da televisão no primeiro trimestre de 2013 (a SIC terá baixado 1,8%). O gestor destaca a resiliência da televisão como meio, apesar das mudanças tecnológicas e da massificação de outros meios. Para ele, a imprensa em papel tem uma situação mais complicada, apesar de não acreditar no seu desaparecimento. Prefere falar em reinvenção, nomeadamente em termos de modelo de negócio.
Segundo, fala da relação das empresas de televisão com a CAEM (Comissão de Análise e Estudo de Meios), a propósito da GfK. Recentemente a RTP e a TVI sairam da CAEM, por quererem fazer uma auditoria à medição de audiências por parte da GfK. Pedro Norton de Matos indica, na entrevista, que as primeiras críticas ao processo de medição de audiências começaram há três anos quando a TVI acusou o painel da Marktest estar desactualizado. A pressão foi tão grande que a CAEM fez um concurso, onde saiu vencedora a GfK. Agora, a TVI elogia a Marktest. Contudo, continua o gestor, tirando aqueles dois grupos de televisão que sairam, todos as entidades dentro da CAEM (operadores de cabo, agências, SIC) estão satisfeitas com o trabalho actual de medição de audiências.
Terceiro, o responsável da Impresa refere à liderança da SIC no horário nobre, que desde 2000 pertencia à TVI. Para tal, tem contribuida a ficção portuguesa, com o apoio da SP e da Globo na co-produção de novelas, sem desmerecer o trabalho da informação do canal. Gabriela, Dancing Days e Avenida Brasil contribuiram para essa consolidação.
Outros temas abordados na entrevista seriam a crença que o governo já não vai voltar a falar da privatização da RTP, o lançamento de um canal na área do social este ano (canal cor de rosa, como indicava a chamada de atenção na primeira página do Público de terça-feira) e a mudança de geração nos comandos da SIC (hoje trabalha-se mais em equipa e menos na base de uma cara: Balsemão ou Rangel).
sábado, 25 de maio de 2013
Multidão e televisão na perspectiva de Eduardo Cintra Torres
Como escrevi há dias, Eduardo Cintra Torres publicou o livro A Multidão e a Televisão, em colecção do Centro de Estudos Comunicação e Cultura na Universidade Católica Editora.
A obra tem duas partes: representações teóricas da multidão e representações mediáticas da multidão. Na segunda parte, empírica, o autor analisa manifestações globais contra a globalização, marchas brancas, manifestações de professores, multidões musicais, multidões religiosas e multidões desportivas.
Da contracapa, retiro o seguinte: "esta relação [multidão e televisão] entre o «meio de massas» televisão e as «massas» nela presentes não recebeu até hoje atenção quanto ao seu significado sociológico e mediático. [...] Considerada na sua repetição e diversidade, a multidão adquire um carácter estrutural".
Em baixo, um vídeo com o autor, numa versão algo longa (11:47), mas com um inegável interesse documental, dado o conhecimento de Eduardo Cintra Torres sobre o tema, objecto de tese de doutoramento.
A obra tem duas partes: representações teóricas da multidão e representações mediáticas da multidão. Na segunda parte, empírica, o autor analisa manifestações globais contra a globalização, marchas brancas, manifestações de professores, multidões musicais, multidões religiosas e multidões desportivas.
Da contracapa, retiro o seguinte: "esta relação [multidão e televisão] entre o «meio de massas» televisão e as «massas» nela presentes não recebeu até hoje atenção quanto ao seu significado sociológico e mediático. [...] Considerada na sua repetição e diversidade, a multidão adquire um carácter estrutural".
Em baixo, um vídeo com o autor, numa versão algo longa (11:47), mas com um inegável interesse documental, dado o conhecimento de Eduardo Cintra Torres sobre o tema, objecto de tese de doutoramento.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
A Emissora Nacional na perspectiva de Carolina Ferreira
Escrevia aqui a 18 de Dezembro de 2007: "O altifalante do regime. A Emissora Nacional como arma de guerra no conflito colonial, dissertação de mestrado de Carolina Ferreira, foi hoje apresentada e aprovada com a máxima classificação na Universidade de Coimbra. A autora propôs-se estudar o Estado Novo e a guerra colonial (1961-1974), a Emissora Nacional e o efeito das suas emissões na opinião pública. O seu ponto de partida foi o da rádio como arma de guerra no conflito colonial. Para isso, analisou a programação da rádio pública, a partir da revista Rádio e Televisão, as “Notas do Dia”, rubrica de opinião lida por João Patrício (período 1968-1970), ordens internas de serviço e inquéritos de audição (audiências). Carolina Ferreira criou uma grelha de cinco fases em termos de propaganda à guerra colonial por parte da rádio: 1) surpresa [quanto ao rebentar da guerra] e propaganda de integração, 2) entusiasmo/versão estatal [o tempo do refrão "Angola é nossa"], 3) conformismo/discrição [redução do número de programas sobre a guerra colonial], 4) esperança e dúvidas, mais a criação de colunas de opinião [1968, com a ascensão de Marcelo Caetano], e 5) descontentamento/reforço da mística imperial. A jovem investigadora concluiu que a Emissora Nacional teve um comportamento irregular na propaganda ao serviço do regime, no que ela considerou como o poder difuso da rádio (concepção bem distinta da teoria dos efeitos totais ou agulha hipodérmica, como se pensava no começo da radiodifusão, em que uma mensagem atingia total e duradouramente os receptores dessa mensagem)".
Agora, o texto sai em livro, editado pela MinervaCoimbra, em colecção dirigida por Isabel Vargues, docente da Universidade de Coimbra, e com prefácio de Adelino Gomes. Com um título levemente diferente (Os media na guerra colonial. A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime) e uma capa muito bonita. O contributo da, desde 2003, jornalista da RTP (Coimbra) é fundamental para a compreensão da história da rádio em Portugal, que eu saúdo (e observo que parece haver uma especialização da Universidade de Coimbra em estudos sobre a Emissora Nacional, como a tese de doutoramento de Sílvio Santos, a aguardar publicação, indica). O que se segue é a minha leitura feita para a discussão pública dessa tese de mestrado no final de 2007. Sendo o livro baseado na tese (pelo menos no índice), julgo actuais os comentários.
O estudo tem como objecto compreender o papel da Emissora Nacional durante a guerra colonial de África. A pergunta inicial de Carolina Ferreira foi perceber se a radiodifusão portuguesa influenciou a opinião pública sobre a mesma guerra. Objecto e aquela e várias outras perguntas são de uma grande pertinência. Em segundo lugar, destaco a metodologia empregue. Há a nítida influência da investigação histórica, com análise documental e revisão bibliográfica. Esta última tem peso nos capítulos 1 e 2. Quanto a análise documental, destaco a leitura feita às notas de João Patrício e à programação, esta a partir da revista Rádio e Televisão, no terceiro capítulo. Faz também referência a análise qualitativa e quantitativa, presente igualmente no último capítulo. No texto, refere ainda que não empregou a metodologia de entrevistas. Em terceiro lugar, escreve sobre “análise sugerida pelos estudos culturais” (Douglas Kellner).
Em quarto lugar, destaco, enquanto leitor e investigador, o interesse pelos estudos empíricos desenvolvidos na dissertação. O estudo empírico inicial é o da análise das grelhas de programação das três principais rádios a partir da revista Rádio e Televisão. Carolina Ferreira escolheu três momentos (1961, 1968, 1974), num total de 630 grelhas, com subvariáveis na informação: geral, desportiva, rural, ultramarina, industrial, cartaz. É de um inequívoco interesse sabermos como era a rádio no período e se ela reflecte o peso do regime opressor. Sobre o segundo trabalho empírico, a análise de conteúdo das notas do dia de João Patrício, ele dá uma forte ideia da ideologia do regime.
Para concluir o conjunto de apreciações gerais, realço a perspicácia de Carolina Ferreira quando se questiona se obras assinadas por Fernando Rosas, António José Telo e Fernando Dacosta (e que contêm excursos no domínio da rádio) estão fundamentadas em análises aprofundadas ou se se baseiam em conjuntos de impressões. Estudaram eles a rádio no período para se concluir ser a rádio (e a Emissora Nacional) um poderoso instrumento de propaganda? Para mim, as obras em que se apoia não analisam, porque desconhecem a rádio, apenas dão impressões. Se ninguém estudou verdadeiramente o impacto dos media, como se pode emitir um parecer, chegar a uma conclusão?
A meu ver, faltam ainda análises empíricas. O único autor que estudou a rádio (porque a viveu por dentro), Fernando Serejo, duvida da ideia de altifalante sonoro. Melhor dito, ele contesta a ideia de a Emissora Nacional ser o único altifalante do governo, escrevendo que Marcelo Caetano até preferia o Rádio Clube Português (Fernando Serejo, "Rádio - do Marcelismo aos nossos dias" (1968-1990), Observatório, 4, p. 69). No mesmo texto, Serejo destaca os profissionais oriundos da Rádio Universidade e que estariam na origem da renovação: Fialho Gouveia, Carlos Cruz, João David Nunes, Adelino Gomes, José Nuno Martins, Eduardo Street, José Manuel Nunes. E ainda o programa Jornal de Actualidades, que fugiu aos cânones habituais da informação da estação pública.
Fernando Rosas e J. M. Brandão Brito (Dicionário de História do Estado Novo, 2005) indicam limitações técnicas e profissionais gritantes que mantiveram a rádio portuguesa afastada dos grandes acontecimentos. Primeiro – será que os autores têm razão? Segundo, não será preciso contextualizar? Digo isto, porque Portugal pertencia à União Europeia de Radiodifusão onde questões técnicas eram discutidas; não acredito muito nesse grande atraso. Basta ver o arranque da FM na década de 1960, pouco depois de isso acontecer noutros países ocidentais. Os atrasos estariam noutro plano. Carolina Ferreira diz que as pessoas se recusaram ouvir a incansável propaganda emitida pela Emissora Nacional, mudando o “botão”. Refere os anos 1972-1973.
Posso especular: se o número de programas sobre a guerra baixou e aumentou a programação musical, isso – o altifalante – não foi razão para a perda da popularidade. A meu ver, o que se passou foi a inovação das rádios privadas, com um corpo de colaboradores mais jovens (sigo Serejo), usando outras técnicas de comunicação (mais informal e alegre), passando músicas novas. A audiência escapou de três formas: da rádio pública para as privadas, da OM para a FM, da rádio para a televisão. Ao mesmo tempo, as rádios dotavam-se de redactores de notícias, enquanto aumentavam os programas de autor ou de produtores. Isto para não falar de uma lenta feminização dentro da rádio e de novas estéticas (passagem da música francesa, italiana e espanhola para a anglo-americana).
Leitura: Carolina Ferreira (2013). Os media na guerra colonial. A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime. Coimbra: MinervaCoimbra, 240 p., 19 €
Agora, o texto sai em livro, editado pela MinervaCoimbra, em colecção dirigida por Isabel Vargues, docente da Universidade de Coimbra, e com prefácio de Adelino Gomes. Com um título levemente diferente (Os media na guerra colonial. A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime) e uma capa muito bonita. O contributo da, desde 2003, jornalista da RTP (Coimbra) é fundamental para a compreensão da história da rádio em Portugal, que eu saúdo (e observo que parece haver uma especialização da Universidade de Coimbra em estudos sobre a Emissora Nacional, como a tese de doutoramento de Sílvio Santos, a aguardar publicação, indica). O que se segue é a minha leitura feita para a discussão pública dessa tese de mestrado no final de 2007. Sendo o livro baseado na tese (pelo menos no índice), julgo actuais os comentários.
O estudo tem como objecto compreender o papel da Emissora Nacional durante a guerra colonial de África. A pergunta inicial de Carolina Ferreira foi perceber se a radiodifusão portuguesa influenciou a opinião pública sobre a mesma guerra. Objecto e aquela e várias outras perguntas são de uma grande pertinência. Em segundo lugar, destaco a metodologia empregue. Há a nítida influência da investigação histórica, com análise documental e revisão bibliográfica. Esta última tem peso nos capítulos 1 e 2. Quanto a análise documental, destaco a leitura feita às notas de João Patrício e à programação, esta a partir da revista Rádio e Televisão, no terceiro capítulo. Faz também referência a análise qualitativa e quantitativa, presente igualmente no último capítulo. No texto, refere ainda que não empregou a metodologia de entrevistas. Em terceiro lugar, escreve sobre “análise sugerida pelos estudos culturais” (Douglas Kellner).
Em quarto lugar, destaco, enquanto leitor e investigador, o interesse pelos estudos empíricos desenvolvidos na dissertação. O estudo empírico inicial é o da análise das grelhas de programação das três principais rádios a partir da revista Rádio e Televisão. Carolina Ferreira escolheu três momentos (1961, 1968, 1974), num total de 630 grelhas, com subvariáveis na informação: geral, desportiva, rural, ultramarina, industrial, cartaz. É de um inequívoco interesse sabermos como era a rádio no período e se ela reflecte o peso do regime opressor. Sobre o segundo trabalho empírico, a análise de conteúdo das notas do dia de João Patrício, ele dá uma forte ideia da ideologia do regime.
Para concluir o conjunto de apreciações gerais, realço a perspicácia de Carolina Ferreira quando se questiona se obras assinadas por Fernando Rosas, António José Telo e Fernando Dacosta (e que contêm excursos no domínio da rádio) estão fundamentadas em análises aprofundadas ou se se baseiam em conjuntos de impressões. Estudaram eles a rádio no período para se concluir ser a rádio (e a Emissora Nacional) um poderoso instrumento de propaganda? Para mim, as obras em que se apoia não analisam, porque desconhecem a rádio, apenas dão impressões. Se ninguém estudou verdadeiramente o impacto dos media, como se pode emitir um parecer, chegar a uma conclusão?
A meu ver, faltam ainda análises empíricas. O único autor que estudou a rádio (porque a viveu por dentro), Fernando Serejo, duvida da ideia de altifalante sonoro. Melhor dito, ele contesta a ideia de a Emissora Nacional ser o único altifalante do governo, escrevendo que Marcelo Caetano até preferia o Rádio Clube Português (Fernando Serejo, "Rádio - do Marcelismo aos nossos dias" (1968-1990), Observatório, 4, p. 69). No mesmo texto, Serejo destaca os profissionais oriundos da Rádio Universidade e que estariam na origem da renovação: Fialho Gouveia, Carlos Cruz, João David Nunes, Adelino Gomes, José Nuno Martins, Eduardo Street, José Manuel Nunes. E ainda o programa Jornal de Actualidades, que fugiu aos cânones habituais da informação da estação pública.
Fernando Rosas e J. M. Brandão Brito (Dicionário de História do Estado Novo, 2005) indicam limitações técnicas e profissionais gritantes que mantiveram a rádio portuguesa afastada dos grandes acontecimentos. Primeiro – será que os autores têm razão? Segundo, não será preciso contextualizar? Digo isto, porque Portugal pertencia à União Europeia de Radiodifusão onde questões técnicas eram discutidas; não acredito muito nesse grande atraso. Basta ver o arranque da FM na década de 1960, pouco depois de isso acontecer noutros países ocidentais. Os atrasos estariam noutro plano. Carolina Ferreira diz que as pessoas se recusaram ouvir a incansável propaganda emitida pela Emissora Nacional, mudando o “botão”. Refere os anos 1972-1973.
Posso especular: se o número de programas sobre a guerra baixou e aumentou a programação musical, isso – o altifalante – não foi razão para a perda da popularidade. A meu ver, o que se passou foi a inovação das rádios privadas, com um corpo de colaboradores mais jovens (sigo Serejo), usando outras técnicas de comunicação (mais informal e alegre), passando músicas novas. A audiência escapou de três formas: da rádio pública para as privadas, da OM para a FM, da rádio para a televisão. Ao mesmo tempo, as rádios dotavam-se de redactores de notícias, enquanto aumentavam os programas de autor ou de produtores. Isto para não falar de uma lenta feminização dentro da rádio e de novas estéticas (passagem da música francesa, italiana e espanhola para a anglo-americana).
Leitura: Carolina Ferreira (2013). Os media na guerra colonial. A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime. Coimbra: MinervaCoimbra, 240 p., 19 €
domingo, 19 de maio de 2013
Paula Rego a visitar
A nova exposição de Paula Rego na Casa das Histórias (Cascais) é um núcleo fundamental de catorze obras da série Óperas (1983) da pintora portuguesa radicada em Londres. La Bohème, de Puccini, Aida, Rigoletto, Falstaff e La Traviata, de Verdi, Fausto, de Gounod, Carmen, de Bizet, e Jenufa, de Leoš Janácek, são as obras que inspiraram a autora.
Nos quadros, que ela pinta no chão, de cima para baixo, como se fossem grandes bandas desenhadas, representam-se histórias que são simultaneamente comédias e tragédias, nas quais os humanos e heróis interagem com animais, vegetais e híbridos. Por vezes, são imagens desconcertantes como se fossem contos de fadas, mas sempre vivas apesar das cores de uma paleta expressivamente em número reduzido (curadoria de Catarina Alfaro).
Para além desta mostra temporária, recomenda-se uma visita a outras obras da pintora, nomeadamente um pequeno conjunto de colagens e pinturas de meados da década de 1960, trabalhos artesanais muito minuciosos, com uma linguagem intimista e ainda sem o carácter antropomórfico da obra posterior.
sexta-feira, 17 de maio de 2013
A história oral em discussão
Doutor em Antropologia Social e atual diretor do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil), Celso Castro apresentou hoje no II Congresso de História Contemporânea em Évora [imagem ao fundo da mensagem] uma comunicação subordinada ao título A constituição de uma história audiovisual das ciências sociais: desafios e resultados.
Da instituição de Celso Castro, retiro a seguinte informação: "Os conjuntos documentais doados ao CPDOC, que podem ser conhecidos no Guia dos Arquivos, constituem, atualmente, o mais importante acervo de arquivos pessoais de homens públicos do país, integrado por aproximadamente 200 fundos, totalizando cerca de 1,8 milhão de documentos" (http://cpdoc.fgv.br/sobre).
Para mim, essa comunicação constituiu uma referência para a minha própria investigação em termos de história oral. A que junto a leitura de Methods of Historical Analysis in Electronic Media (2006), editado por Donald G. Godfrey, e Sound Souvenirs. Audio Technologies. Memory and Cultural Practices (2009), editado por Karin Bijsterveld e José van Dijck, textos com objectivos distintos mas que eu consigo complementarizar.
Da instituição de Celso Castro, retiro a seguinte informação: "Os conjuntos documentais doados ao CPDOC, que podem ser conhecidos no Guia dos Arquivos, constituem, atualmente, o mais importante acervo de arquivos pessoais de homens públicos do país, integrado por aproximadamente 200 fundos, totalizando cerca de 1,8 milhão de documentos" (http://cpdoc.fgv.br/sobre).
Para mim, essa comunicação constituiu uma referência para a minha própria investigação em termos de história oral. A que junto a leitura de Methods of Historical Analysis in Electronic Media (2006), editado por Donald G. Godfrey, e Sound Souvenirs. Audio Technologies. Memory and Cultural Practices (2009), editado por Karin Bijsterveld e José van Dijck, textos com objectivos distintos mas que eu consigo complementarizar.
terça-feira, 14 de maio de 2013
Redes sociais
Apresentação de slides Redes sociais – para uma cultura do diálogo, 14 de maio de 2013, 15:30.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
A guerra colonial em teatro
O texto teatral parte do livro de Jaime Froufe de Andrade, Não sabes como vais morrer (4ª edição em 2013), com dramaturgia e encenação de Pedro Estorninho e interpretação de José Topa, Paulinho Oliveira, Pedro Estorninho e Pedro Roquette, teve uma série curta de representações no Teatro Helena Sá e Costa (Porto).
É a história do alferes Isidro que narraria o seu último dia de guerra em África, mais especificamente em Moçambique, numa analepse (quando o facto pertencendo ao passado é trazido para o presente da história relatada, fenómeno de anacronia), durante o seu encontro com o sargento João. São histórias dramáticas de uma frente de guerra que Portugal travou nas suas antigas colónias, durante quase toda a década de 1960 e parte da década seguinte, com emboscadas, interrogatórios a guerrilheiros e mais situações limite da condição humana.
Tema actual, até pela passagem da série histórica na televisão sobre os retornados, que lembram a memória dos últimos cinquenta anos da vida de Portugal, a peça de Pedro Estorninho é minimalista no seu cenário. De início, o antigo alferes recorda, a muitos anos de distância, o que foi a guerra colonial. Depois, o palco abre-se e vemos dois jovens - Isidro e João - a contarem no seu último dia de serviço militar algumas histórias de que foram testemunhas ou agentes principais.
Não gostei muito da peça. Talvez porque estivesse desatento ou porque sentisse a sala desconfortável, o que não se pode dizer sobre o teatro Helena Sá e Costa, que é bonito. Nem sempre compreendi o que se dizia no palco, possivelmente porque me coloquei num sítio desadequado. Ou porque entendo que faltava algum enquadramento. Sobre Pedro Estorninho, escrevi no ano passado sobre a peça Madrugada, aqui, que então apreciei muito.
Jaime Froufe de Andrade foi alferes miliciano de Operações Especiais, Ranger da Companhia de Caçadores 2358 do Batalhão de Caçadores 2842 (Tete, Moçambique, 1968-1970). O livro tem um "conjunto de oito histórias da guerra colonial que o autor viveu em primeira pessoa durante a sua comissão de serviço em Moçambique [...]. São outros tantos retratos da vida que centenas de milhar de jovens portugueses viveram, nos anos da guerra colonial, no meio do «mato», em Moçambique, Angola ou na Guiné-Bissau. As histórias são escritas com dramatismo, em que cabem momentos de humor, perplexidade, angústia e ansiedade, mas também a profundidade psicológica, que faltam a muitos relatos de guerra" (http://ultramar.terraweb.biz/06livros_JaimeFroufeAndrade.htm).
É a história do alferes Isidro que narraria o seu último dia de guerra em África, mais especificamente em Moçambique, numa analepse (quando o facto pertencendo ao passado é trazido para o presente da história relatada, fenómeno de anacronia), durante o seu encontro com o sargento João. São histórias dramáticas de uma frente de guerra que Portugal travou nas suas antigas colónias, durante quase toda a década de 1960 e parte da década seguinte, com emboscadas, interrogatórios a guerrilheiros e mais situações limite da condição humana.
Tema actual, até pela passagem da série histórica na televisão sobre os retornados, que lembram a memória dos últimos cinquenta anos da vida de Portugal, a peça de Pedro Estorninho é minimalista no seu cenário. De início, o antigo alferes recorda, a muitos anos de distância, o que foi a guerra colonial. Depois, o palco abre-se e vemos dois jovens - Isidro e João - a contarem no seu último dia de serviço militar algumas histórias de que foram testemunhas ou agentes principais.
Não gostei muito da peça. Talvez porque estivesse desatento ou porque sentisse a sala desconfortável, o que não se pode dizer sobre o teatro Helena Sá e Costa, que é bonito. Nem sempre compreendi o que se dizia no palco, possivelmente porque me coloquei num sítio desadequado. Ou porque entendo que faltava algum enquadramento. Sobre Pedro Estorninho, escrevi no ano passado sobre a peça Madrugada, aqui, que então apreciei muito.
Jaime Froufe de Andrade foi alferes miliciano de Operações Especiais, Ranger da Companhia de Caçadores 2358 do Batalhão de Caçadores 2842 (Tete, Moçambique, 1968-1970). O livro tem um "conjunto de oito histórias da guerra colonial que o autor viveu em primeira pessoa durante a sua comissão de serviço em Moçambique [...]. São outros tantos retratos da vida que centenas de milhar de jovens portugueses viveram, nos anos da guerra colonial, no meio do «mato», em Moçambique, Angola ou na Guiné-Bissau. As histórias são escritas com dramatismo, em que cabem momentos de humor, perplexidade, angústia e ansiedade, mas também a profundidade psicológica, que faltam a muitos relatos de guerra" (http://ultramar.terraweb.biz/06livros_JaimeFroufeAndrade.htm).
domingo, 12 de maio de 2013
Ilustradores portugueses na FILBo 2013 [Feira do Livro de Bogotá]
Ilustración sobre tres ilustradores portugueses, texto de Natalia Jerez Quintero, Literata, Universidad de los Andes, publicado em 3 de Maio de 2013 em http://www.uniandes.edu.co/noticias/artes-y-humanidades/ilustracion-sobre-tres-ilustradores-portugueses.
[Ilustração de Bernardo Carvalho]
"Los talleres de André da Loba empiezan con un muñequito portugués y con la pregunta ¿alguien sabe qué es un portugués? Como nadie en la sala sabe la respuesta, el ilustrador tiene toda la libertad del mundo para jugar con su audiencia. Yo no sé qué es un portugués, pero este artículo intentará contarnos, desde la perspectiva de una de sus acompañantes, lo que tres portugueses, el dueño de una maleta de madera llena de objetos mágicos, el capitán de un barco editorial llamado Pato Lógico, y el dueño de las manos rápidas que hacen ilustraciones al ritmo de una actriz, hicieron y dejaron en Bogotá hace un par de semanas. "Los ilustradores André da Loba, André Letria y Bernardo Carvalho, respectivamente, son los protagonistas de esta historia. Da Loba es un caminante que alguna vez quiso ser físico pero terminó siendo diseñador y que ahora, gracias al destino, vive secretamente feliz en Brooklyn donde ilustra libros infantiles, crea objetos especiales que después pasea por el mundo en una maleta de madera, y hace ilustraciones para The New York Times, The New Yorker y Time Magazine entre otros. Letria, “El increíble dormidor de libros”, ha hecho ilustraciones para periódicos y libros desde 1992, ha ganado varios premios de ilustración y en 2010 creó la editorial Pato Lógico, que fue la encargada de darle vida a la sección infantojuvenil del pabellón de Portugal en la Feria Internacional del Libro de Bogotá (FILBo 2013) con su libro Mar, ilustrado por Letria y escrito por el divertidísimo Ricardo Henriques. Bernardo Carvalho es un viajero y fotógrafo que siempre está sonriendo, pero también es el cofundador de Planeta Tangerina —la editorial portuguesa que este año fue elegida en la Feria del Libro Infantil de Boloña como la mejor editorial europea de libros infantiles y juveniles— y el ilustrador de la editorial. "Para cada invitado portugués a la Feria había uno o dos acompañantes colombianos encargados de estar con ellos todo el tiempo, de ser sus "hombre-sombra" o "mujer-sombra", como decían ellos, y estar ahí para lo que necesitaran. Ser la mujer sombra de los ilustradores parecía todo menos trabajo; caminar con lluvia por la Macarena en busca de un bar con una barra decente, descansar en la sección infantil de la librería del Fondo de Cultura Económica después de una larga noche, dar clases de salsa en la Soledad, oír cuenteros en Usaquén, encontrar un buen lugar para comer lechona y buscar dónde ir a bailar en martes fueron algunas de las “funciones” de sus acompañantes colombianos que, más que sombras, eran nuevos amigos. "En el marco de la FILBo 2013, los ilustradores estuvieron dictando talleres y charlas no sólo en la Feria sino también en universidades y colegios donde el público, muy variado, siempre quedó contento con lo que veía y oía. Se habló del mundo editorial, del proceso creativo, de la dificultad de encontrar la voz propia, de la edición digital, de los adultos y los niños, pero lo que más llamó la atención de todos los talleres fue la forma en que estos tres portugueses se conectaban con el público, dejando siempre algo personal en cada conferencia que dictaban, desdibujando así la barrera que suele existir entre las personas famosas —sí, ¡ellos son muy famosos!— y los demás. "Por ejemplo, los tres contaron con entusiasmo anécdotas sobre proyectos que los apasionaron y que resultaron siendo fracasos editoriales e incluso uno de ellos contó cómo había vendido 23 libros. Pero esto no fue en ningún momento una razón para dejar de hacer lo que hacen, es decir, divertirse, ya sea haciendo libros, ilustraciones ‘serias’ para periódicos y revistas de renombre u objetos que cuentan todo tipo de historias. Aunque los tres hablan de la soledad de su profesión y de las horas que deben pasar en su estudio solamente acompañados por “papel, tinta y amor”, al verlos interactuar entre ellos y con el público uno no pensaría que son personas solitarias. Siempre amables, risueños y dispuestos a hacer chistes e interactuar con las personas que tienen cerca, estos tres ilustradores portugueses transforman las historias en color, texturas, personajes, páginas, libros y obras de arte espectaculares pues, como alguien me dijo hace poco mientras caminábamos por la exposición de ilustración “Como las cerezas” en el Pabellón de Portugal, “la ilustración portuguesa está en su edad de oro”. "Este artículo no pretende contestar la pregunta que hace da Loba en sus talleres, pero sí contar un poco la experiencia de la mulher-sombra de los ilustradores portugueses que, a decir verdad, dejaron mucho más que papel, tinta y amor en su paso por Colombia". *Los talleres con los ilustradores hicieron parte de los eventos que la Universidad de los Andes presentó dentro de la Feria del Libro de Bogotá, bajo el título 'Mar, viajes y libros: Portugal en Los Andes'.
[Ilustração de Bernardo Carvalho]
"Los talleres de André da Loba empiezan con un muñequito portugués y con la pregunta ¿alguien sabe qué es un portugués? Como nadie en la sala sabe la respuesta, el ilustrador tiene toda la libertad del mundo para jugar con su audiencia. Yo no sé qué es un portugués, pero este artículo intentará contarnos, desde la perspectiva de una de sus acompañantes, lo que tres portugueses, el dueño de una maleta de madera llena de objetos mágicos, el capitán de un barco editorial llamado Pato Lógico, y el dueño de las manos rápidas que hacen ilustraciones al ritmo de una actriz, hicieron y dejaron en Bogotá hace un par de semanas. "Los ilustradores André da Loba, André Letria y Bernardo Carvalho, respectivamente, son los protagonistas de esta historia. Da Loba es un caminante que alguna vez quiso ser físico pero terminó siendo diseñador y que ahora, gracias al destino, vive secretamente feliz en Brooklyn donde ilustra libros infantiles, crea objetos especiales que después pasea por el mundo en una maleta de madera, y hace ilustraciones para The New York Times, The New Yorker y Time Magazine entre otros. Letria, “El increíble dormidor de libros”, ha hecho ilustraciones para periódicos y libros desde 1992, ha ganado varios premios de ilustración y en 2010 creó la editorial Pato Lógico, que fue la encargada de darle vida a la sección infantojuvenil del pabellón de Portugal en la Feria Internacional del Libro de Bogotá (FILBo 2013) con su libro Mar, ilustrado por Letria y escrito por el divertidísimo Ricardo Henriques. Bernardo Carvalho es un viajero y fotógrafo que siempre está sonriendo, pero también es el cofundador de Planeta Tangerina —la editorial portuguesa que este año fue elegida en la Feria del Libro Infantil de Boloña como la mejor editorial europea de libros infantiles y juveniles— y el ilustrador de la editorial. "Para cada invitado portugués a la Feria había uno o dos acompañantes colombianos encargados de estar con ellos todo el tiempo, de ser sus "hombre-sombra" o "mujer-sombra", como decían ellos, y estar ahí para lo que necesitaran. Ser la mujer sombra de los ilustradores parecía todo menos trabajo; caminar con lluvia por la Macarena en busca de un bar con una barra decente, descansar en la sección infantil de la librería del Fondo de Cultura Económica después de una larga noche, dar clases de salsa en la Soledad, oír cuenteros en Usaquén, encontrar un buen lugar para comer lechona y buscar dónde ir a bailar en martes fueron algunas de las “funciones” de sus acompañantes colombianos que, más que sombras, eran nuevos amigos. "En el marco de la FILBo 2013, los ilustradores estuvieron dictando talleres y charlas no sólo en la Feria sino también en universidades y colegios donde el público, muy variado, siempre quedó contento con lo que veía y oía. Se habló del mundo editorial, del proceso creativo, de la dificultad de encontrar la voz propia, de la edición digital, de los adultos y los niños, pero lo que más llamó la atención de todos los talleres fue la forma en que estos tres portugueses se conectaban con el público, dejando siempre algo personal en cada conferencia que dictaban, desdibujando así la barrera que suele existir entre las personas famosas —sí, ¡ellos son muy famosos!— y los demás. "Por ejemplo, los tres contaron con entusiasmo anécdotas sobre proyectos que los apasionaron y que resultaron siendo fracasos editoriales e incluso uno de ellos contó cómo había vendido 23 libros. Pero esto no fue en ningún momento una razón para dejar de hacer lo que hacen, es decir, divertirse, ya sea haciendo libros, ilustraciones ‘serias’ para periódicos y revistas de renombre u objetos que cuentan todo tipo de historias. Aunque los tres hablan de la soledad de su profesión y de las horas que deben pasar en su estudio solamente acompañados por “papel, tinta y amor”, al verlos interactuar entre ellos y con el público uno no pensaría que son personas solitarias. Siempre amables, risueños y dispuestos a hacer chistes e interactuar con las personas que tienen cerca, estos tres ilustradores portugueses transforman las historias en color, texturas, personajes, páginas, libros y obras de arte espectaculares pues, como alguien me dijo hace poco mientras caminábamos por la exposición de ilustración “Como las cerezas” en el Pabellón de Portugal, “la ilustración portuguesa está en su edad de oro”. "Este artículo no pretende contestar la pregunta que hace da Loba en sus talleres, pero sí contar un poco la experiencia de la mulher-sombra de los ilustradores portugueses que, a decir verdad, dejaron mucho más que papel, tinta y amor en su paso por Colombia". *Los talleres con los ilustradores hicieron parte de los eventos que la Universidad de los Andes presentó dentro de la Feria del Libro de Bogotá, bajo el título 'Mar, viajes y libros: Portugal en Los Andes'.
sábado, 11 de maio de 2013
Textos de 1999
Recupero aqui dois textos que escrevi em 1999: Os media, as tecnologias de informação e o turismo e Internet, jornais electrónicos e teletrabalho. Algumas apostas no mercado de trabalho. Ambos editados em http://www.bocc.ubi.pt/.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Retrato dos homens de rádio a dias
Curt Meyer-Clason (1910-2012) foi o responsável do Goethe-Institut em Lisboa entre 1969 e 1976, depois de ter trabalhado durante mais de vinte anos no Brasil e na América Latina. No continente americano, familiarizou-se com a língua portuguesa e traduziu para o alemão autores brasileiros, como Machado de Assis, Jorge Amado, Clarice Lispector, João Ubaldo Ribeiro, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.
Em Portugal, traduziria também para o alemão autores como Eugénio de Andrade, Camilo Castelo Branco, Almeida Faria, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Fernando Namora, Eça de Queirós, Urbano Tavares Rodrigues e Miguel Torga. Seria o editor de uma antologia de autores (narradores) portugueses Der Gott der Seefahrer und andere portugiesische Erzählungen, Tübingen (1972), depois aumentada em Portugiesische Erzählungen des zwanzigsten Jahrhunderts, Freiburg (1988), onde incluiria Luandino Vieira, então preso no Tarrafal depois da publicação e atribuição de um prémio da sociedade de autores portuguesa. Mas excluiria Joaquim Paço d'Arcos, romancista identificado com o regime, e que, por isso, não compreendia a razão da inclusão de Luandino (p. 151).
Quando chegou a Portugal, com a ditadura vigente, ele transformou o Goethe-Institut. Primeiro, mudou-o da avenida da Liberdade para o Campo Mártires da Pátria. Depois, e fundamentalmente, abriu as portas do instituto alemão às companhias de teatro independentes e aos intelectuais que se opunham ao regime. A ponto de o embaixador do seu país lhe chamar a atenção e os homens do SNI proibirem representações. Por exemplo: nem pensar em Brecht (p. 168) ou Peter Weiss (p. 182). Um dia, um concerto teve de ser remarcado da Aula Magna para o próprio instituto porque não havia autorização do regime português (p. 100). E bastaria ver o tipo de aquisição de livros para a biblioteca em 1970 para se perceber as ideias políticas do homem: Adorno, Benjamin, Habermas, Marcuse, Wittgenstein (p. 104).
Em Diários Portugueses (2013), o seu olhar sobre Portugal é sibilino. O comportamento dos indivíduos, desde o senhor Jesus até ao Herr Santos, passando por Fräulein Lopes, a poetisa Natália Correia ou o escritor José Cardoso Pires, mas também os senhores embaixadores e mulheres nos jantares de pares, ficou registado nesses diários. Há uma espécie de relato sobre a filosofia do imponderável dos portugueses, que encontramos na expressão "mais ou menos" (pp. 188-189) quando se pergunta algo a uma pessoa, como o seu estado de saúde, por exemplo. O livro lê-se de um trago (parei no começo de 1974 para escrever esta nota mas vou rapidamente regressar à leitura). Ruas, lojas, a praia da Caparica e o peixe e o vinho servido num restaurantezinho, nos idos anos de 1970, o contacto com as autoridades, a cultura, o embaixador alemão, as impressões com a mulher Christiane, as constantes referências à cultura literária do nosso país, tudo se lê bem.
Fixei-me em Maria Rita e, por um momento, lembrei-me de Umberto Eco quando, em A Misteriosa Chama da Rainha Loana, a personagem Yambo, com nome de baptismo de Giambattista Bodoni, recupera de um AVC e se pergunta se teria ou não namorado com a jovem e bonita secretária da sua loja de livros antigos. No livro de Curt Meyer-Clason, quase nos apaixonamos por Maria Rita ao pensar como seria ela com a sua blusa cor de mostarda e lenço atrevido ao pescoço (p. 158). Parecia que Maria Rita era a rival de Christiane. Mas basta rever páginas atrás, quando ele nos apresenta Rita Nebelthau, já viúva e que regressara da Alemanha a Portugal em 1968 (p. 117), ex-funcionária da embaixada e que concorrera para secretária do Goethe-Institut, a agente voluntária do seu diretor, ao obter informações da embaixada, cujo titular era um homem bem mais próximo da orientação política oficial portuguesa. A conversa entre Maria Rita e Meyer-Clason (pp. 126-128) faz-nos abandonar qualquer suspeita sobre a relação de ambos.
O que retirei da leitura até agora feita de Curt Meyer-Clason seria a situação de contratados por projeto dos homens (ou mulheres) da rádio. João de Freitas Branco, que falava um alemão perfeito, com traços e gestos de um europeu mimado, no seu fato azul já com lustro, tinha pelo menos três ocupações para sobreviver, como alguns programas de rádio: conversas sobre a sonata de Beethoven, ópera romântica, contraponto em Bach (p. 44). Camila Felisberto, colaboradora a tempo parcial do Goethe-Institut, estudara música e trabalhava no departamento de programas musicais da rádio pública, tratando das encomendas de fitas gravadas para as estações de rádio em Portugal e nas colónias, então designadas de províncias ultramarinas (p. 28).
Leitura: Curt Meyer-Clason (2013). Diários Portugueses. Lisboa: Documenta, 414 p., 24 €
Em Portugal, traduziria também para o alemão autores como Eugénio de Andrade, Camilo Castelo Branco, Almeida Faria, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Fernando Namora, Eça de Queirós, Urbano Tavares Rodrigues e Miguel Torga. Seria o editor de uma antologia de autores (narradores) portugueses Der Gott der Seefahrer und andere portugiesische Erzählungen, Tübingen (1972), depois aumentada em Portugiesische Erzählungen des zwanzigsten Jahrhunderts, Freiburg (1988), onde incluiria Luandino Vieira, então preso no Tarrafal depois da publicação e atribuição de um prémio da sociedade de autores portuguesa. Mas excluiria Joaquim Paço d'Arcos, romancista identificado com o regime, e que, por isso, não compreendia a razão da inclusão de Luandino (p. 151).
Quando chegou a Portugal, com a ditadura vigente, ele transformou o Goethe-Institut. Primeiro, mudou-o da avenida da Liberdade para o Campo Mártires da Pátria. Depois, e fundamentalmente, abriu as portas do instituto alemão às companhias de teatro independentes e aos intelectuais que se opunham ao regime. A ponto de o embaixador do seu país lhe chamar a atenção e os homens do SNI proibirem representações. Por exemplo: nem pensar em Brecht (p. 168) ou Peter Weiss (p. 182). Um dia, um concerto teve de ser remarcado da Aula Magna para o próprio instituto porque não havia autorização do regime português (p. 100). E bastaria ver o tipo de aquisição de livros para a biblioteca em 1970 para se perceber as ideias políticas do homem: Adorno, Benjamin, Habermas, Marcuse, Wittgenstein (p. 104).
Em Diários Portugueses (2013), o seu olhar sobre Portugal é sibilino. O comportamento dos indivíduos, desde o senhor Jesus até ao Herr Santos, passando por Fräulein Lopes, a poetisa Natália Correia ou o escritor José Cardoso Pires, mas também os senhores embaixadores e mulheres nos jantares de pares, ficou registado nesses diários. Há uma espécie de relato sobre a filosofia do imponderável dos portugueses, que encontramos na expressão "mais ou menos" (pp. 188-189) quando se pergunta algo a uma pessoa, como o seu estado de saúde, por exemplo. O livro lê-se de um trago (parei no começo de 1974 para escrever esta nota mas vou rapidamente regressar à leitura). Ruas, lojas, a praia da Caparica e o peixe e o vinho servido num restaurantezinho, nos idos anos de 1970, o contacto com as autoridades, a cultura, o embaixador alemão, as impressões com a mulher Christiane, as constantes referências à cultura literária do nosso país, tudo se lê bem.
Fixei-me em Maria Rita e, por um momento, lembrei-me de Umberto Eco quando, em A Misteriosa Chama da Rainha Loana, a personagem Yambo, com nome de baptismo de Giambattista Bodoni, recupera de um AVC e se pergunta se teria ou não namorado com a jovem e bonita secretária da sua loja de livros antigos. No livro de Curt Meyer-Clason, quase nos apaixonamos por Maria Rita ao pensar como seria ela com a sua blusa cor de mostarda e lenço atrevido ao pescoço (p. 158). Parecia que Maria Rita era a rival de Christiane. Mas basta rever páginas atrás, quando ele nos apresenta Rita Nebelthau, já viúva e que regressara da Alemanha a Portugal em 1968 (p. 117), ex-funcionária da embaixada e que concorrera para secretária do Goethe-Institut, a agente voluntária do seu diretor, ao obter informações da embaixada, cujo titular era um homem bem mais próximo da orientação política oficial portuguesa. A conversa entre Maria Rita e Meyer-Clason (pp. 126-128) faz-nos abandonar qualquer suspeita sobre a relação de ambos.
O que retirei da leitura até agora feita de Curt Meyer-Clason seria a situação de contratados por projeto dos homens (ou mulheres) da rádio. João de Freitas Branco, que falava um alemão perfeito, com traços e gestos de um europeu mimado, no seu fato azul já com lustro, tinha pelo menos três ocupações para sobreviver, como alguns programas de rádio: conversas sobre a sonata de Beethoven, ópera romântica, contraponto em Bach (p. 44). Camila Felisberto, colaboradora a tempo parcial do Goethe-Institut, estudara música e trabalhava no departamento de programas musicais da rádio pública, tratando das encomendas de fitas gravadas para as estações de rádio em Portugal e nas colónias, então designadas de províncias ultramarinas (p. 28).
Leitura: Curt Meyer-Clason (2013). Diários Portugueses. Lisboa: Documenta, 414 p., 24 €
segunda-feira, 6 de maio de 2013
José Fialho Gouveia, homem da rádio
José Fialho Gouveia (1935-2004) foi uma figura central da televisão pública, para onde entrou quando a RTP começou a emitir em 1957. Juntamente como a sua primeira mulher, Maria Helena Varela Santos, de quem eu um dia gostaria de escrever, assim como o pai dela, Jaime Varela Santos, o fundador da Rádio Ribatejo em 1951 [no livro que aqui sigo, há uma belíssima fotografia do casal na p. 37, onde posam junto a uma câmara de filmar].
Se toda a gente se lembra de Fialho Gouveia do programa televisivo Zip-Zip, onde emparceirava com Carlos Cruz e Raul Solnado, a sua passagem pela rádio foi igualmente importante. O livro agora saído, escrito por Maria João Fialho Gouveia, filha dele e de Maria Helena Varela Santos, Fialho Gouveia. Biografia Sentimental, faz um registo muito aproximado da vida desse profissional da rádio.
Fialho Gouveia passou pela Rádio Universidade, como locutor. Quem por lá passou recorda-se de Adolfo Simões Müller, então na Emissora Nacional, a orientar a prova de entrada como locutor: inventar uma reportagem, ler um texto ao microfone. Depois, o jovem Fialho Gouveia foi aos concursos da APA (Agência de Publicidade Artística), que organizava um espetáculo semanal, e ao Comboio das Seis e Meia, de Igrejas Caeiro [e José Castelo], já demitido da Emissora Nacional por razões políticas. Neste segundo programa, Fialho Gouveia ganhou um prémio ou mais. Num deles ganhou 200 escudos, que era uma quantia não desprezável na época. Os dois programas eram transmitidos pelo Rádio Clube Português, então a construir o seu período de maior fama (pp. 34-36). O livro não indica os anos destes acontecimentos, mas eles passaram-se antes de 1957.
Em 1959, Fialho Gouveia integra a equipa de Paulo Cardoso no programa Diário do Ar, na Rádio Renascença (p. 55). Programa de reportagem, cujo mote era "Aquilo que você gosta é a nossa especialidade", tinha ainda como membros da equipa Maria Helena Alves, José Manuel Bento, Aurélio Carlos Moreira e Maria Helena Varela Santos.
Já em 1967, José Fialho Gouveia, com Carlos Cruz e Paulo Cardoso, estreava na onda média do Rádio Clube Português o programa PBX (p. 63), um dos maiores programas da rádio desse período, produzido pelos Parodiantes de Lisboa. A equipa ainda era constituída por José Nuno Martins, Joaquim Furtado, Adelino Gomes, Luís Filipe Costa, João Alferes Gonçalves, Rui Pedro, João Paulo Guerra e Paulo Morais. O PBX era a concorrência do programa 23ª Hora da Rádio Renascença. A audiência era muita, porque à música e às entrevistas, os realizadores acrescentaram a reportagem de rua, tornando o programa muito vivo. Nomeadamente quando na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, violentas inundações atingiram o Ribatejo e a Grande Lisboa, o que levou os profissionais do programa a cobrirem o acontecimento, do qual resultou a perda de vida de centenas de pessoas (no livro: 451 pessoas) (p. 71).
Paulo Morais recordaria assim para o livro: "há uma certa técnica de montagem utilizada nas entrevistas do PBX que tem alguma coisa que ver com a montagem de cinema" (p. 70). Por seu lado, João Paulo Guerra, ao descrever a sua admiração por Fialho Gouveia, conta a história da reportagem em direto de uma travessia do canal da Mancha, em que, devido ao mau tempo, ele se perdeu (p. 69). O aniversário do programa decorreu em direto no Rossio, com uma cabina de vidro que permitiu ao público ver como se fazia um programa de rádio (p. 72). O custo do programa era elevado, pelo que os Parodiantes decidiram prescindir da realização da dupla Fialho Gouveia-Carlos Cruz. A seguir, nascia o Zip-Zip, com o Raul Solnado, mas aí já era televisão.
Leitura: Maria João Fialho Gouveia (2013). Fialho Gouveia. Biografia Sentimental. Amadora: 20/20 editora, 384 p., 19,99 €
[revista Antena, nº 60, 1 de setembro de 1967]
Se toda a gente se lembra de Fialho Gouveia do programa televisivo Zip-Zip, onde emparceirava com Carlos Cruz e Raul Solnado, a sua passagem pela rádio foi igualmente importante. O livro agora saído, escrito por Maria João Fialho Gouveia, filha dele e de Maria Helena Varela Santos, Fialho Gouveia. Biografia Sentimental, faz um registo muito aproximado da vida desse profissional da rádio.
Fialho Gouveia passou pela Rádio Universidade, como locutor. Quem por lá passou recorda-se de Adolfo Simões Müller, então na Emissora Nacional, a orientar a prova de entrada como locutor: inventar uma reportagem, ler um texto ao microfone. Depois, o jovem Fialho Gouveia foi aos concursos da APA (Agência de Publicidade Artística), que organizava um espetáculo semanal, e ao Comboio das Seis e Meia, de Igrejas Caeiro [e José Castelo], já demitido da Emissora Nacional por razões políticas. Neste segundo programa, Fialho Gouveia ganhou um prémio ou mais. Num deles ganhou 200 escudos, que era uma quantia não desprezável na época. Os dois programas eram transmitidos pelo Rádio Clube Português, então a construir o seu período de maior fama (pp. 34-36). O livro não indica os anos destes acontecimentos, mas eles passaram-se antes de 1957.
Em 1959, Fialho Gouveia integra a equipa de Paulo Cardoso no programa Diário do Ar, na Rádio Renascença (p. 55). Programa de reportagem, cujo mote era "Aquilo que você gosta é a nossa especialidade", tinha ainda como membros da equipa Maria Helena Alves, José Manuel Bento, Aurélio Carlos Moreira e Maria Helena Varela Santos.
Já em 1967, José Fialho Gouveia, com Carlos Cruz e Paulo Cardoso, estreava na onda média do Rádio Clube Português o programa PBX (p. 63), um dos maiores programas da rádio desse período, produzido pelos Parodiantes de Lisboa. A equipa ainda era constituída por José Nuno Martins, Joaquim Furtado, Adelino Gomes, Luís Filipe Costa, João Alferes Gonçalves, Rui Pedro, João Paulo Guerra e Paulo Morais. O PBX era a concorrência do programa 23ª Hora da Rádio Renascença. A audiência era muita, porque à música e às entrevistas, os realizadores acrescentaram a reportagem de rua, tornando o programa muito vivo. Nomeadamente quando na madrugada de 25 para 26 de novembro de 1967, violentas inundações atingiram o Ribatejo e a Grande Lisboa, o que levou os profissionais do programa a cobrirem o acontecimento, do qual resultou a perda de vida de centenas de pessoas (no livro: 451 pessoas) (p. 71).
Paulo Morais recordaria assim para o livro: "há uma certa técnica de montagem utilizada nas entrevistas do PBX que tem alguma coisa que ver com a montagem de cinema" (p. 70). Por seu lado, João Paulo Guerra, ao descrever a sua admiração por Fialho Gouveia, conta a história da reportagem em direto de uma travessia do canal da Mancha, em que, devido ao mau tempo, ele se perdeu (p. 69). O aniversário do programa decorreu em direto no Rossio, com uma cabina de vidro que permitiu ao público ver como se fazia um programa de rádio (p. 72). O custo do programa era elevado, pelo que os Parodiantes decidiram prescindir da realização da dupla Fialho Gouveia-Carlos Cruz. A seguir, nascia o Zip-Zip, com o Raul Solnado, mas aí já era televisão.
Leitura: Maria João Fialho Gouveia (2013). Fialho Gouveia. Biografia Sentimental. Amadora: 20/20 editora, 384 p., 19,99 €
[revista Antena, nº 60, 1 de setembro de 1967]
sábado, 4 de maio de 2013
Programa final do II Congresso de História Contemporânea (maio de 2013)
A realizar no Colégio do Espírito Santo (Universidade de Évora), de 16 a 18 de maio próximo.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Notícias do ICS da Universidade do Minho
Através da newsletter nº 41 do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, ficou a saber-se que Helena Sousa tomou posse como presidente daquele instituto e Manuel Pinto é o novo diretor do doutoramento em Ciências da Comunicação da mesma instituição. Parabéns a ambos. Por outro lado, um antigo aluno de doutoramento do mesmo ICS, Silvino Lopes Évora, lidera a Associação Cabo-Verdiana de Ciências da Comunicação.
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