terça-feira, 18 de junho de 2013

Modos de ouvir segundo Mônica Kaseker

kasekerMônica Kaseker defendeu tese de doutoramento em 2010 o texto publicado recentemente sob o título Modos de ouvir. A escuta da rádio ao longo de três gerações (2012). Além de uma parte teórica clara e objectiva (Barthes, Schaeffer, Schafer, Kerckhove, Mix, Wisnik, Bourdieu, Certeau, Mattalana, Martín-Barbero, García Canclini, Orozco), e de um capítulo sobre a história da rádio no Brasil e no Estado do Paraná, a autora fez um longo trabalho empírico.

Primeiro, explorou 110 famílias de alunos seus na universidade, no segundo semestre de 2007 das turmas que cursavam disciplinas de rádio, observando os hábitos de apropriação radiofónica no quotidiano familiar (p. 23). A seguir, seleccionou dez residências para aprofundamento da sua observação - e que constitui o centro do capítulo 5. Antes, tinha definido cinco tipos de mediação da escuta: tecnológica, cognoscitiva, situacional, institucional e referencial. Tal definição permitiu encontrar características do habitus (Bourdieu) do ouvinte.

No referente à história da rádio no Brasil, a autora distingue várias fases que incluem a expansão e impacto das ondas médias, primeiro, e do FM, depois. À implantação da rádio no país (1922-1932) e expansão (década de 1930), a autora juntou as fases de era de ouro (anos 40 e 50), retracção (final dos anos 50 e década de 1960), ressurgimento (final dos anos 70 e década de 1980) e reconfiguração (a partir dos anos 90). Todo o texto, em especial o capítulo 5, é muito gostoso de ler, pelo que se aconselha baixar o trabalho daqui (intitulado O que escutar quer dizer. A constituição do habitus do ouvinte de rádio no cotidiano familiar).

A amostra de famílias trabalhada no capítulo não tem representatividade estatística (p. 164), mas a amostra de conveniência (famílias de classe B e C, com rendimentos de mil a quatro mil e quinhentos reais, com casa própria e automóvel) tem a vantagem de traçar percursos de três gerações e sua utilização dos media (rádio, televisão, internet, mp3). Como elemento de apoio à sua caracterização das famílias, retiro parte do Quado 4 (p. 227 do texto incluído na internet, pp. 176-177 do livro), onde se ilustra a riqueza das observações sociológicas de Mônica Kaseker.

kaseker

Nas conclusões, a autora identifica os traços de cada geração no seu consumo da rádio: "Depois de analisar como os hábitos de apropriação radiofônica surgem e se modificam em diferentes famílias, a partir do gosto, estilo de vida e da distribuição de espaços e tempos cotidianos, assim como a organização das rotinas de acordo com o pertencimento sociocultural de cada uma delas, buscaremos pensar na constituição do habitus do ouvinte ao longo das diferentes gerações. Este movimento já não busca distinguir cada família em seu ecossistema, mas sim procurar o que elas tem em comum na perspectiva geracional. É possível observar que, embora os hábitos dos ouvintes e até mesmo o lugar social atribuído ao rádio no cotidiano se modifiquem muito nesse período, a maneira como se constitui o habitus não se modifica. As escolhas e os vínculos estabelecidos com o rádio dependem em grande medida das relações sociais de cada sujeito em esferas como a própria família, trabalho, estudos e em seu entorno cultural" (pp. 252-253 do texto da internet).

Leitura: Mônica Panis Kaseker (2012). Modos de ouvir. A escuta da rádio ao longo de três gerações. Curitiba, PR: Editora Universitária Champagnat, 299 p.