sábado, 13 de setembro de 2014

A Casa de Ramallah

Pai, mãe filha viajam num suposto comboio interregional passando por Ramallah (capital da Palestina) e outros sítios bíblicos. Enquanto viajavam, a mulher comia, a filha lia e o homem falava. Da casinha que fora destruída pelos mísseis ou por um helicóptero ou uma bomba, que abrigava uma tenda; da apanha do tomate na planície onde conheceu a mulher; da organização que levara os seus quatro filhos e ia fazer agora da sua filha uma suicida. Depois, a mulher teceu a sua narrativa, coincidente com a do marido, mas através da lente feminina. Quando ela a conheceu, ela usava calças e cabelo ao ar, o que era contrário às regras rígidas já então existentes. Igualmente, lamentava a perda dos filhos mas acusava o homem de ter aderido à organização. E pedia ao marido para falar baixo pois podiam estar perto membros da polícia secreta israelita ou palestiniana. A rapariga fala da relação sexual a que foi obrigada pelo seu professor da escola corânica.

O texto do italiano António Tarantino é duro, até feio. Não há um só momento de esperança. Através da peça, não se vê uma solução para o problema da Palestina, uma terra cercada e onde cada cidadão vigia e é vigiado e com medo das denúncias. Se esta ocorre, a família sofre represálias sérias: morte, destruição da casa. A casa de Ramallah fora a promessa do homem quando ainda namorava, mas nunca se concretizou. Afinal, Ramallah é uma pequena cidade de casinhas brancas, onde não mudou nada, disse ele.

Tradução de Alessandra Balsamo, com António Simão, Andreia Bento e Nídia Roque, com luz de Pedro Domingos, cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves, encenação de Jorge Silva Melo e produção executiva de João Chicó, pelos Artistas Unidos, na sala da rua da Escola Politécnica. Espero voltar muitas vezes aquela sala para ver a companhia de teatro criada em 1995 por Jorge Silva Melo (fotografia de Jorge Gonçalves, fornecida pela companhia).

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