domingo, 30 de novembro de 2014

Nova Caledónia

Louise Michel (1830-1905) foi professora, poetisa, enfermeira, escritora e blanquista da França, reconhecendo-se anarquista durante a Comuna de Paris na qual foi uma das mais importantes communards. Michel foi ainda a primeira a adoptar a bandeira negra como símbolo dos ideais libertários. Após a Comuna e presa, a 8 de Agosto de 1873 ela é colocada no navio Virgini e deportada para a Nova Caledónia,  Quatro meses depois chega ao destino. A bordo, conhece os prisioneiros Henri Rochefort, figura polémica, e Nathalie Lemel, outra anarquista activa na Comuna. Ela permanece na Nova Caledónia durante sete anos, aproximando-se da população local, da etnia kanak. Cria a revista Petites Affiches de la Nouvelle-Calédonie e publica o livro Légendes et Chansons de Gestes Canaques. Ao contrário de outros communards deportados, ela toma parte ao lado dos kanaks na sua revolta de 1878. Posteriormente, afirmaria ter enviado ao líder da rebelião, Ataí, um pedaço de sua manta vermelha (toda a informação sobre Louise Michel a partir de Wikipedia).

Este é o tema da peça Nova, Caledónia, de André Guedes e Miguel Loureiro, com múltiplos excertos de materiais como textos de exílio, de revolução (Bakunine), poemas (Brecht), canções (La Cannaile), valsas (Heiter auch in ernster Zeiter) e árias (Summertime), excertos de peças de teatro, cartas, ensaios, bailados (A Sagração da Primavera). Actores e actrizes: Crista Alfaiate, Cristina Carvalhal, João de Brito e Miguel Loureiro.

No texto de apresentação, escrevem os autores que projectaram "um itinerário múltiplo sobre o fim dos projectos comunitários de pendor bélico e romântico que são as revoluções; sobre a influência do espaço geográfico na estrutura de uma ideia; a noção de paraíso terrestre ligada aos mares do Pacífico Sul". Aqui, o projecto social dos communards perdia qualquer importância.

A representação tem dois momentos distintos, o primeiro aproximando-se da história de Louise Michel e dos seus companheiros deportados, o contacto com a nova realidade social e geográfica, as tentativas de reconstituição de um ambiente cultural levado de Paris, condenado ao fracasso, pela existência de uma relação de subjugação a um poder colonial ainda que possivelmente difuso. Esta primeira parte é muita rica do ponto de vista cénico. O segundo momento, quase no final, é o do regresso do degredo e do assistir à derrocada do mundo cultural deixado após 1871. Ele é feérico, porque revê a Belle Époque e a barbárie da Primeira Guerra Mundial, as luzes, os gases, a morte e os estropiados, a estupefacção final da humanidade. Aqui, o papel dos actores é substituído pelos efeitos de multimédia, que, por vezes, nos remetem para a cultura do cinema e das artes visuais, como uma expressão sobre Lautrec.


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