Raymond Williams (1921-1988) foi um dos mais importantes intelectuais do Reino Unido (País de Gales). Inicialmente ligado a F. R. Leavis e a cultura literária inglesa e influenciado pelo marxismo, ele evoluiu para um pensamento próprio. As relações com Richard Hoggart (o primeiro director dos Cultural Studies de Birmingham), Edward Thompson e Eric Hobsbawm, entre outros, são bem esclarecidas na biografia escrita por Dai Smith (Raymond Williams. A Warrior's Tale, 2008, Cardigan: Parthian) . De Williams conhecia os trabalhos ligados à cultura, à sociologia e à comunicação, mas não sabia da importância no domínio da literatura, que o catapultaria para o ensino de teatro na universidade. Aliás, Williams queria ser conhecido como autor literário.
Smith estuda o percurso de Williams desde a frequência da escola primária em Pandy, a sua evolução para a escola de Abergavenny e a sua entrada no Trinity College, em Cambridge. A relação com o pai, um ferroviário ligado ao Partido Trabalhista e que se dedicava nas horas vagas à produção de mel e a tarefas hortícolas, a reflexão sobre a origem de classe da família, a greve geral de 1926, a vida como militar destacado na frente de batalha em França, Bélgica e Alemanha nos anos trágicos da II Guerra Mundial, onde chefiou um grupo de força anti-tanques, e a recusa posterior de reservista para combater na guerra da Coreia em 1951, de que se tornou objector de consciência, aparecem bem definidas na obra literária que escreve e reescreve continuamente, com um grande sentido autobiográfico. A obra que Williams vai construindo reflecte igualmente a melhoria das condições de vida dos britânicos após a II Guerra Mundial, o que o leva a reformular as posições do marxismo (e a ter um pensamento não crítico no sentido de Theodor Adorno), embora se mantenha no interior da Nova Esquerda. Smith esclarece bem essas ligações, mas não vai além de 1961. Por isso, somos informados da sua actividade profissional ligada à educação de adultos (departamento extra-muros da universidade), que visava preparar estes para uma formação mais avançada nos domínios das humanidades e da literatura, actividade itinerante e não muito lucrativa para uma família de pais e três filhos, mas não entramos na sua vida ligada à universidade de Cambridge onde iria ensinar Drama, dados os textos sobre cultura e teatro produzidos por ele. Embora ligado, ele nunca se sentiu totalmente dentro do espírito de Cambridge.
Da obra de Raymond Williams destacam-se Culture and Society (1958) e The Long Revolution (1961). Fora do âmbito da biografia de Smith, não se inclui a análise a Television: Technology and Cultural Form (1974), texto onde Williams reflecte no pensamento de Marshall McLuhan sobre a tecnologia e o rebate. As suas definições de cultura, que incluem a ideia de cultura como "uma forma total de vida", abrem as portas à variedade de manifestações individuais e de grupo e que elidem a separação entre cultura de elite e cultura popular. Dai Smith acaba a biografia de Williams imprimindo quatro páginas de conclusão do livro The Long Revolution que Williams acabaria por não incluir, com um forte sentido pessoal, a intersecção entre a experiência da sua geração face às gerações anteriores. No livro, em que associou cultura, indústria, democracia, classe e arte, a longa revolução significou o crescimento da democracia e o voto nas eleições e o aumento da educação, os jornais mais baratos e o acesso a livros. Williams reflecte nomeadamente na idade de sair de casa para trabalhar: aos onze anos com o seu avô, aos treze anos com o seu pai, muito mais tarde com ele. Na casa dos pais de Williams havia sete livros, na casa de Williams os filhos já tinham tudo o que queriam. O tempo em que ele escreveu o livro (1961) era de grande confiança no futuro, o que o leva a incluir nessa longa marcha revolucionária a segurança do emprego e das pensões para os reformados. Então, havia fortes valores de tolerância e de decência, conclui nesse texto não incluído na versão impressa.
Leitura: Dai Smith (2008). Raymond Williams. A Warrior's Tale. Cardigan: Parthian
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