quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Orpheon Portuense

A Sociedade Orpheon Portuense (1881-2008). Tradição e Inovação, com coordenação de Henrique Luís Gomes de Araújo e edição da Universidade Católica Editora, é um livro sobre aquela instituição que oferecia simultaneamente uma prática amadora, uma oferta profissional e um intercâmbio internacional de música erudita, dependendo apenas dos seus recursos, como indica Rui Vieira num dos primeiros textos do volume (p. 9). A instituição beneficiava do fundador Bernardo Moreira de Sá, discípulo de Joseph Joachim no conservatório de Leipzig, e de outros nomes de músicos profissionais e da necessidade cultural de famílias da cidade, continua a ler-se no mesmo texto.

No parecer de Tiago Manuel da Hora, em outro texto do livro, a Sociedade de Concertos do Orpheon Portuense foi responsável pela apresentação de grandes vultos da música na esfera internacional no final do século XIX e em grande parte do século XX, ultrapassando até os propósitos iniciais da instituição (p. 25). Três direcções artísticas lideraram o Orpheon, da família Moreira de Sá. A sede, depois de algumas mudanças, acabaria por se fixar na praça da Batalha, no coração da cidade. No mesmo texto, salienta-se que, em meados de 1895, se lotavam os 350 lugares do salão do Grémio Comercial do Porto. O número de sócios ia crescendo lentamente, chegando a mil em 1974. No final desta década, dificuldades financeiras e o aparecimento de outras instituições ditaram a perda de importância do Orpheon (p. 31). No final da década de 1980, o número de concertos reduzia-se. O último concerto ocorreu em Março de 1993. No começo de 2008, uma derradeira assembleia geral extinguia a sociedade, passando todo o espólio para a Fundação Casa da Música (p. 195).

Sem integrar aqui todos os textos, escrevo que João-Heitor Rigaud analisa a vida e obra de Moreira de Sá, Maria do Rosário Pestana conclui que o Orpheon reflecte um novo modelo de sociedade nas esferas pública e associativa, Christine Wassermann Beirão estuda o contributo da instituição na divulgação da música portuguesa, Jorge Castro Ribeiro a arte de saber ouvir e Henrique Luís Gomes de Araújo debruça-se sobre as famílias fundadoras, de músicos e empresários, pertencentes às elites da cidade e da região que contribuíram para a sustentabilidade da sociedade orfeónica. A obra, de grande qualidade gráfica, tem muitas imagens de músicos que tocaram no Orpheon Portuense, o que a torna um objecto de inegável interesse.

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