Eu nunca pensaria juntar Paula Rego e Rafael Bordalo Pinheiro, como a exposição Paródias (curadoria de Catarina Alfaro), mas essa relação permite compreender melhor os valores, as formas e as mensagens da obra da pintora radicada em Londres. Ela funciona como a hospedeira da obra de Bordalo Pinheiro, a lente pela qual o olhamos. As inquietações políticas em Paula Rego são mais subtis que as de Rafael Bordalo Pinheiro, os quadros daquele de índole mais cultural e universal, as obras deste de carácter mais temporal e local sobre o quotidiano político. A alegoria, a metáfora e a alusão visual nela corresponde ao comentário escrito nele. Mas permanece o mesmo mundo antropomórfico, um reino animal de gestos e comportamentos próprios, a referência permanente à ópera, como Aida, Rigoletto e La Traviata (Rafael Bordalo Pinheiro passara pelo teatro como actor e figurinista). Isso quer dizer que o retrato e a caricatura são representações - como no teatro - indo da sátira à comédia e à tragédia.
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