
Autores de referência de Ilharco: McLuhan, Heidegger, Flusser, Baudrillard. Comenta-os, segue-os, mas também os critica. Mesmo quando acho que está distante na sua análise, o autor toma partido, sugere, encaminha, joga com as palavras e as ideias, desfazendo muitos dos lugares comuns ou ideias tomadas por certas. Com regularidade, ironiza. Desconstrói, mesmo não parecendo um pós-estruturalista (como o título do livro leva a pensar). A propósito de caricaturas de Maomé, que provocaram o escândalo e os graves acidentes recentes de Paris (com o jornal Charles Hebdo), o autor acha estranha a atitude, uma vez que um cartoon é apenas um meio de comunicação. Na sua leitura, a sociedade está numa cultura pós-escrita e literária e numa era de cultura semiótica, instantânea e visual do digital, contrária às emoções do texto e do cartaz. Depois, e é um assunto que persegue em todo o livro, o império (depois de Roma, o novo império é o país chamado Estados Unidos) tem os seus bárbaros dentro do seu perímetro. Dantes, o perigo vinha de fora dos muros; hoje, ele está dentro e nem todas as tecnologias de vigilância acabam com o medo do outro. Um terceiro tópico, de muita exigência por parte de Fernando Ilharco, é o da sociedade do espetáculo. Ele escreve que as massas em Berlim esperaram pela câmaras da televisão para começarem a destruir o muro da cidade (1989) - a encenação que corrobora o presente para olhar o futuro.
A propósito da televisão, o autor comenta que esta foi tomada pela gente comum. Escreve: "A vida é um tabloide. Os diretos, as entrevistas e as reportagens sobre o crime, o voyeurismo televisivo dos reality-shows e outros episódios do género faziam de todo o ano uma silly season" (p. 134). Da televisão, a partir das imagens de crianças entrevistadas a semana passada a propósito da cantora argentina Violeta, eu conclui algo ainda mais fractal: a televisão não é apenas da gente comum mas também das crianças. Infantilizou-se ela?
Leitura: Fernando Ilharco (2014). Pós-Sociedade. A Sociedade Pós-Literária, Pós-Nacional, Pós-Democrática e Pós-Ocidental. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 421 p., 20 euros
Desde o começo deste mês, o professor Fernando Ilharco apresenta uma crónica diária na Antena 1, -de segunda a sexta-feira, às 14:20, sob o nome O Novo Normal, com "apresentação de uma história inspiradora e inovadora, narrada numa perspectiva pragmática e num quadro científico. Procurando inspirar e motivar os ouvintes, nomeadamente os profissionais activos e os estudantes, abordo episódios de determinação e vontade, de desempenhos extraordinários e de motivação, de liderança e trabalho em equipa, reflectindo-se sobre as lições que desses casos se podem retirar para a vida profissional e pessoal de cada um" (informação retirada do sítio da Universidade Católica).
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