Pós-Sociedade. A Sociedade Pós-Literária, Pós-Nacional, Pós-Democrática e Pós-Ocidental
é o mais recente livro de Fernando Ilharco (2014). Dividido em quatro partes e nove capítulos é um livro que reflecte a sociedade de hoje dentro de uma perspetiva antropológica e filosófica. Ele resulta de textos que o autor foi publicando ao longo de dez anos no jornal Público.
Assim, a partir de uma estrutura fragmentária ou mosaicos de ideias, sem a grande narrativa da História como quadro central, pelo que destaca o pós, o professor de comunicação da Universidade Católica tem possibilidade de se expressar a partir de uma série larga de temas sobre a modernidade, a tecnologia, os consumos, os ecrãs e a sociedade, muitas vezes associados a acontecimentos mediáticos de grande importância na discussão da opinião pública.
Como os textos são pequenos em dimensão, num dispositivo de conversa semanal, há uma retoma sistemática de alguns tópicos, esclarecendo, iluminando, olhando de outro viés, o que torna a leitura muito agradável e convidativa.
Autores de referência de Ilharco: McLuhan, Heidegger, Flusser, Baudrillard. Comenta-os, segue-os, mas também os critica. Mesmo quando acho que está distante na sua análise, o autor toma partido, sugere, encaminha, joga com as palavras e as ideias, desfazendo muitos dos lugares comuns ou ideias tomadas por certas. Com regularidade, ironiza. Desconstrói, mesmo não parecendo um pós-estruturalista (como o título do livro leva a pensar). A propósito de caricaturas de Maomé, que provocaram o escândalo e os graves acidentes recentes de Paris (com o jornal Charles Hebdo), o autor acha estranha a atitude, uma vez que um cartoon é apenas um meio de comunicação. Na sua leitura, a sociedade está numa cultura pós-escrita e literária e numa era de cultura semiótica, instantânea e visual do digital, contrária às emoções do texto e do cartaz. Depois, e é um assunto que persegue em todo o livro, o império (depois de Roma, o novo império é o país chamado Estados Unidos) tem os seus bárbaros dentro do seu perímetro. Dantes, o perigo vinha de fora dos muros; hoje, ele está dentro e nem todas as tecnologias de vigilância acabam com o medo do outro. Um terceiro tópico, de muita exigência por parte de Fernando Ilharco, é o da sociedade do espetáculo. Ele escreve que as massas em Berlim esperaram pela câmaras da televisão para começarem a destruir o muro da cidade (1989) - a encenação que corrobora o presente para olhar o futuro.
A propósito da televisão, o autor comenta que esta foi tomada pela gente comum. Escreve: "A vida é um tabloide. Os diretos, as entrevistas e as reportagens sobre o crime, o voyeurismo televisivo dos reality-shows e outros episódios do género faziam de todo o ano uma silly season" (p. 134). Da televisão, a partir das imagens de crianças entrevistadas a semana passada a propósito da cantora argentina Violeta, eu conclui algo ainda mais fractal: a televisão não é apenas da gente comum mas também das crianças. Infantilizou-se ela?
Leitura: Fernando Ilharco (2014). Pós-Sociedade. A Sociedade Pós-Literária, Pós-Nacional, Pós-Democrática e Pós-Ocidental. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 421 p., 20 euros
Desde o começo deste mês, o professor Fernando Ilharco apresenta uma crónica diária na Antena 1, -de segunda a sexta-feira, às 14:20, sob o nome O Novo Normal, com "apresentação de uma história inspiradora e inovadora, narrada numa perspectiva pragmática e num quadro científico. Procurando inspirar e motivar os ouvintes, nomeadamente os profissionais activos e os estudantes, abordo episódios de determinação e vontade, de desempenhos extraordinários e de motivação, de liderança e trabalho em equipa, reflectindo-se sobre as lições que desses casos se podem retirar para a vida profissional e pessoal de cada um" (informação retirada do sítio da Universidade Católica).
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