Tinha 73 anos, exercia ainda funções de editor executivo do gabinete editorial da Visão, revista de que foi fundador. No começo da década de 1960, frequentou até ao quarto ano a Faculdade de Direito de Lisboa, onde foi dirigente da Associação de Estudantes. Para o jornalismo, entrou em 1968, no vespertino A Capital, onde cedo chegou a a funções de chefia. Trabalhou ainda nas seguintes publicações e jornais: Flama, O Século Ilustrado, Diário de Notícias, O Diário, Sete e O Jornal. Militante do Partido Comunista, pertenceu aos corpos gerentes do Sindicato e do Clube dos Jornalistas e integrou o secretariado da Comissão da Carteira Profissional. Desde 1978, dedicou-se também ao ensino do jornalismo, como colaborador do CENJOR (Centro de Formação de Jornalistas) e coordenou o curso de pós-graduação em jornalismo Impresa e Universidade Nova de Lisboa a partir de 2011. Faleceu no final da semana passada.
Escreveu os livros de estilo de O Diário, O Jornal e Visão e foi autor dos livros Manual de Jornalismo e Ainda bem que me pergunta. Manual de escrita jornalística, este último publicado em 2003 e que analiso agora. No livro, o autor parte do princípio de que escrever, para o jornalista, é para ser lido. Daí, relevar a linguagem do jornalismo e os objectivos do profissional: informar, explicar, convencer, divertir, não esquecendo que o faz para públicos diferentes. Lema: para escrever bem, é preciso pensar bem. Em que o talento literário aparece como fundamental.
Se a literatura é uma arte, o jornalismo surge como uma técnica de comunicação - as fronteiras, as diferenças e as qualidades das duas disciplinas. No texto jornalístico, continua o autor, interessa o conteúdo: informações e explicações objetivas dos episódios da realidade social. Pelo que cabe à escrita jornalística tornar as mensagens informativas e explicativas o mais acessíveis e atraentes. A escrita jornalística faz-se por meio de frases curtas, verbos no indicativo e na voz ativa, com linguagem simples e afirmativa.
O uso de vocabulário nas peças jornalísticas constitui um elemento útil a observar. Os leitores conhecem em média o significado de três mil vocábulos. O autor reduz mesmo para 2200 palavras o indispensável e conta que Manuel da Fonseca, nos seus romances, não utilizou mais do que 500 palavras etimologicamente diferentes. Nas suas peças (notícia, reportagem, entrevista, crónica, comentário), o jornalista precisa de escrever de modo simples, direto e sem uso de charadas. Para escrever bem, identifica Daniel Ricardo, é preciso ler muito, como romances policiais (para ganhar ritmo e lógica de narração) e jornais, compreender a linha editorial do meio em que trabalha e estar em formação (aprendizagem) contínua.
Num jornal diário, um texto não deve ultrapassar 450 palavras. Mesmo assim, lê-lo-ão apenas 29% dos leitores. Cada período do texto não pode ultrapassar 36 palavras, havendo quem defenda 15 palavras como tamanho de boa compreensibilidade [no período, eu usei 19 palavras]. Sobre o ritmo da escrita, o autor usa metáforas radiofónicas: o locutor que apresenta música clássica fala lentamente, para criar um ambiente agradável, ao passo que o relatador desportivo acelera a sua descrição quando o jogador se aproxima da baliza e remata, a criar uma grande expectativa.
O livro fala de estilos, títulos, leads, leis de proximidade (valores-notícia), verbos, grafias, livro de estilo, siglas e acrónimos, elipses e editoriais. Um livro adequado para ensinar a profissão aos novos jornalistas.
Leitura: Daniel Ricardo (2003). Ainda bem que me pergunta. Manual de escrita jornalística. Lisboa: Editorial Diário de Notícias, 252 páginas
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