Como entrou na personagem, perguntou a jovem espectadora na conversa mantida com os intérpretes da peça Music-Hall (Jean-Luc Lagarce, 1989) logo a seguir à representação. A actriz falou de memórias do cinema e da sua adaptação ao vestido azul justo. Outra espectadora perguntou como treinara o olhar que parecia fuzilar a assistência - ou quando não havia assistência ao espectáculo.
No palco, a rapariga - que já não era tão nova assim - recordava os tempos áureos em que cantava e bailava, acompanhada de dois ajudantes (os boys), então marido e amante, depois substituídos por outros ajudantes. A peça, em si, não tem história, mas revela os bastidores, a luta quotidiana, a vida. O banco, central à acção da actriz, é um dos motivos sobre que discorre. O espaço de circulação dos intérpretes é curto. Os boys acompanham a rapariga, ajudam-na, cantam Joséphine Baker "Ne me dis pas que tu m'adores / Mais pense à moi de temps en temps".
Jean-Luc Lagarce recorda como ocorreu a ideia da peça. Um dia, avistara junto à estação ferroviária de Besançon, o cantor Ringo Willy Cat, que fora casado com Sheila, num momento em que foram vedetas da canção francesa. Ringo ia duas vezes por semana cantar os antigos sucessos num bar da cidade.
A peça, encenada por Rogério de Carvalho para a companhia portuense As Boas Raparigas em cena no Teatro Carlos Alberto (Porto), tem como actores Maria do Céu Ribeiro, Paulo Mota e António Júlio. A companhia As Boas Raparigas está estabelecida há 20 anos e tem nova peça a estrear em Março no Armazém 22 (V. N. de Gaia) e uma presença em próximo festival em Manaus, Brasil. A actriz Maria do Céu Ribeiro lecciona aulas de voz e foi premiada pela SPA (Sociedade Portuguesa De Autores) em 2012, pelo desempenho na peça Devagar.
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