quinta-feira, 19 de março de 2015

Música moderna em 1968

O concurso de música moderna teve momentos de apuro. No dia 19 de Abril de 1968, promovido pelo CITU, no cinema Império, em Lisboa, agora transformado em sala de confissão religiosa, deviam apresentar-se quatro bandas. Faltaram duas. Das outras, os membros de uma vestiam smoking preto e ostentavam grandes cabeleiras, com "aplausos habituais, os gritos da praxe, os saltos no ar", e os da outra "casacas orientais (vermelhas e amarelas, com muitas fantasias), cantavam e tocavam os últimos ritmos ié-ié, mais à la page" (Diário Popular, 20 de Abril de 1968). O júri, constituído por locutores e gente ligada ao mundo dos espectáculos, classificou as bandas, mas a assistência não gostou. A segunda parte do espectáculo já não se realizaria. A banda Psycho ganhou o concurso a 17 de Maio de 1968, com direito a fotografia no Diário Popular (18 de Maio de 1968).

Nesse ano, Salazar teve um AVC, longo abalo no Estado Novo e cujo regime entraria num longo estertor. Nos Estados Unidos, o pastor Martin Luther King e o senador democrata Robert Kennedy eram assassinados, a França vivia uma revolução social e cultural, que ficou com a designação de Maio de 68, a guerra no Vietname chegava a um ponto sem retorno para as tropas americanas e a Checoslováquia era invadida pelos tanques russos, acabando a primavera de Praga. Com uma frequência assustadora, o Diário Popular publicava fotografias de soldados portugueses mortos nas guerras coloniais (Moçambique, Guiné). Em Lisboa, a juventude alienava-se com o festival ié-ié.

 

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