O livro Das Piratas à Internet: 25 Anos de Rádios Locais foi organizado por Ana Isabel Reis, Fábio Ribeiro e Pedro Portela e editado pelo CECS (Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho). Tem data de publicação de dezembro de 2014 e foi divulgado essencialmente em formato ebook.
É um belo livro, desde já porque se trata de um livro sobre rádio. Depois, recolhe muitos autores especializados além dos organizadores: Alberto Arons de Carvalho, Elsa Costa e Silva, Luís Bonixe, Madalena Oliveira e Luís António Santos. Em terceiro lugar, uma boa surpresa: entrevistas a profissionais da rádio: António Colaço, António Macedo, Carlos Daniel Alves, David Pontes, Francisco Amaral, João Paulo Meneses, Joaquim Franco, José Carlos Barreto e José Coimbra. Em quarto lugar, o projeto gráfico (e edição digital), a cargo de Alberto Sá e de Ricardina Magalhães.
Na nota introdutória, os organizadores lembram o marco significativo da lei da rádio de 1988 e da atribuição de frequências locais em 1989, tópicos para reflexão do fenómeno das rádios locais. O texto de Ana Isabel Reis dá uma boa perspetiva da evolução histórica (pp. 11-26), onde define três gerações (ou etapas, na minha leitura): entusiasmo amador, interesse dos poderes locais, projetos profissionais. Algumas centenas de projetos idealistas terão ido para o ar, com a legislação de 1988 a atenuar esse entusiasmo não ligado a práticas comerciais e organizativas. No Porto, a Rádio Caos, em Lisboa, a TSF, são dois exemplos olhados pela autora. Mas também a Rádio Antena Livre (Abrantes) e a RUC (Coimbra) figuram na lista, com bastante detalhe. O texto de Arons de Carvalho é mais político e sobre a legislação. As responsabilidades políticas dele aparecem aqui bem expressas. Destaco o seu ponto de vista sobre mudanças recentes, com os processos de concentração, as modificações de projeto nas rádios locais e a possibilidade de nova vaga de experimentalismo e poesia com o licenciamento de rádios comunitárias.
A perspetiva mais económica é apresentada por Elsa Costa e Silva, na sequência de outros estudos que a autora tem feito sobre os media. Destaco o texto das pp. 52-56, com atenção à propriedade e concentração da rádio local em Portugal. O fracasso dos ideais de 1989 foi a concentração e a perda de (alguma) diferenciação dos projetos ao longo do país. Agora, muitas das frequências locais são repetidores de estações com sede em Lisboa - boas para quem se desloca de automóvel ao longo do país e ouve a sua estação em todo ele. No período entre 2006 e 2011, a autora estima 43 operações de retransmissão autorizadas pela ERC.
Seguindo um percurso sólido na análise do jornalismo na rádio, com um ponto alto na sua tese de doutoramento e posterior publicação, Luís Bonixe identifica rotinas e constrangimentos no jornalismo radiofónico. Com dados sobre 50 jornalistas trabalhando em 35 rádios locais, o autor traça uma radiografia precisa: metade são mulheres, 42% têm entre 31 e 40 anos de idade, 24% são jornalistas há menos de cinco anos mas 18% trabalha como jornalista da rádio há mais de 11 anos, 74,19% formaram-se em ciências da comunicação, 42% indica que o reduzido número de profissionais afeta o seu dia a dia de trabalho. Madalena Oliveira prefere destacar a proximidade, o caráter intimista e de sotaque na rádio local, a diferença entre as categorias temática e generalista. A autora foca a linguagem simples e descomplexificada e a orientação local para a promoção musical mas também a participação do ouvinte através do telefone, em busca do popular e do trivial.
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