terça-feira, 29 de setembro de 2015

Jogadores, de Pau Miró

No final da peça, os atores estavam felizes, convictos de uma boa representação. E o público não regateou aplausos. A peça de Pau Miró, Jogadores, apresenta quatro homens de meia idade mas no limiar das suas capacidades produtivas. Um é barbeiro, ex-dono da barbearia, depois empregado e despedido, que sabe que a mulher anda com outro. O segundo homem é coveiro de profissão e passa a vida a falar da prostituta ucraniana e dos ciúmes que tem dos outros clientes dela. O terceiro é um ator falhado, que em sucessivas audições, não arranja lugar. Para ele, é mais fácil roubar no supermercado, onde por vezes é descoberto. O último dos quatro parece o mais intelectual, professor de matemática que, num momento de desvario, agride violentamente um aluno, é suspenso e obrigado a pagar uma indemnização.

Jogadores compulsivos de póquer e de casino, motivo que os leva a reuniões todas as noites, lembram-se de assaltar um banco. Precisam de refazer financeiramente a vida. Hesitam, discutem violentamente e passam à ação. Parecem conseguir o céu e o inferno, estão enredados em vidas sem futuro. Diz o professor: "É fácil prever o futuro. Basta olhar para o céu. Ou para o espelho. Se te vires ao espelho, podes saber o futuro".


Tradução do texto por Joana Frazão, com Américo Silva, António Simão, João Meireles e Pedro Carraca, cenografia e figurinos de Rita Lopes Alves, luz de Pedro Domingos, coordenação técnica de João Chicó, assistente João Pedro Mamede e encenação de Jorge Silva Melo. Do próprio Pau Miró: "É como se estas personagens se tivessem esquecido do texto e estivessem à espera que voltasse. Perderam o pulsar do mundo, e só têm uma maneira de o recuperar, talvez demasiado arriscada, seguramente demasiado perigosa. E louca. E também desesperada. Ao fim e ao cabo, no entanto, a única maneira".

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