Jorge Barreto Xavier escolheu o semanário Sol para o balanço da atividade como secretário de Estado da Cultura, onde faz o elogio da sua obra. Refere as reaberturas do Museu Nacional Machado de Castro (Coimbra) e da Casa das Artes (Porto), a extensão do Museu Alberto Sampaio (Guimarães) e a intenção de mudança do Museu da Música (Alto dos Moinhos, Lisboa) para o convento de Mafra. E também a legislação: questões fiscais sobre direitos conexos, mecenato cultural, lei da cópia privada e lei do preço fixo do livro.
Na entrevista, o secretário de Estado fala dos atores da cultura e da arte: "É uma área em que os egos são por natureza muito grandes, desde os artistas ou curadores aos responsáveis pelas instituições, às vezes egos do tamanho do mundo". O jornalista César Avó coloca a questão do ego de Jorge Barreto Xavier. Ele não esconde a dimensão do seu, contaminado pelo trabalho ao longo dos anos no setor. E admite ter temperamento forte, não necessariamente difícil.
Sobre a recente polémica do alargamento do Museu Nacional de Arte Contemporânea (Chiado), ele diz ter havido uma polémica, com a ausência da verdadeira notícia que foi a ampliação do museu. Ando há tempos para escrever sobre isto, mas como ainda não visitei a coleção, estou a reservar isso para uma próxima ida ao Chiado. E sobre a dicotomia secretaria de Estado versus ministério da Cultura, ele sente-se bem com a primeira fórmula e considera uma "glorificação quase patética" a segunda fórmula, proposta pela oposição. E reclama quando dizem que o peso do orçamento da cultura deve estar nos 1%, como propõe a oposição e não nos 0,25%, em que está. O orçamento de Estado para a área terá atingido neste momento os 0,7%.
Parece-me que o secretário de Estado traça de si um quadro muito bondoso, mas muita gente reconhece o fim do seu ciclo político. O próprio Jorge Barreto Xavier nesta entrevista diz permanecer num sítio até três a quatro anos, o que quer dizer que está na altura adequada de mudar de posição. Algumas questões não resolvidas ficarão mal no seu currículo: a estratégia da língua portuguesa, a articulação do Instituto Camões e da CPLP, a reflexão do valor de 3% nas exportações nacionais. E uma visão menos interessante do que entende por cultura e da relação desta com o entretenimento, e da fronteira entre iniciativa privada e papel do Estado. Também tenho dúvidas sobre a apropriação das inaugurações e reaberturas, pois os ciclos de conceção e concretização das iniciativas vão além de mandatos governamentais. Parece-me mais ajuizado dizer que é um esforço dos governos com vontade cultural. Finalmente, sobre o Museu dos Coches, nem uma palavra. Durante meses, as notícias indicavam a oposição do governante à abertura, porque o museu daria maior prejuízo se aberto do que fechado. Agora, as notícias falam de um grande aumento de visitantes. Será Jorge Barreto Xavier uma força de bloqueio?
Nascido em Goa, em 1965, veio ainda criança para Portugal. Os seus pais, um juiz e uma professora primária, pertenciam a uma família que aderira ao catolicismo no século XVII e não podia ficar mais tempo após a integração dos territórios então administrados por Portugal no conjunto da nação da Índia. Licenciado em Direito, pertence ao PSD e é adepto do Sporting. Sempre esteve ligado à cultura, tendo sido já vereador da cultura da câmara de Oeiras e diretor-geral das Artes e administrador do Fundo de Fomento Cultural do Ministério da Cultura entre 2008 e 2010 (governo PS).
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