Saramago em entrevista a Adelino Gomes diria: "Conheci Ricardo Reis por altura dos meus 17 ou 18 anos. Na Escola Industrial de Afonso Domingues, que frequentava, havia uma biblioteca, e foi aí que se me deparou um exemplar da revista Athena em que apareciam umas quantas odes assinadas com aquele nome. Dizer que fiquei deslumbrado é pouco, tinha diante de mim a beleza em estado puro. Nessa altura, pensei que Ricardo Reis era uma pessoa real, não sabia nada dos heterónimos e pouquíssimo do próprio Pessoa".
Saramago, com 13 anos em 1936, baseou-se em memórias para escrever o livro sobre a solidão e um tempo triste. As relações estabelecidas e que a peça segue são frias, quase desumanas, um interior falso. A criada da pensão, grávida de Ricardo Reis, diria que se ele não perfilhasse a criança ela não se importaria. Ricardo Reis, interrogado pela polícia política, desejosa de saber porque regressara do Brasil depois de tanto fora, queixou-se das perguntas íntimas que lhe fizeram. A filha do agrário de Coimbra tinha uma paralisia no braço porque ficara triste.
Agora, em 2016, Hélder Costa adaptou a obra para o teatro A Barraca, com a interpretação de Adérito Lopes (Ricardo Reis) e Ruben Garcia (Fernando Pessoa). Hélder Costa recorda a coragem do escritor, pelo seu serviço à arte e à cidadania. Destaco a interpretação de Ruben Garcia no desempenho do espetro de Pessoa, com a sua maneira de andar e o riso e modo de falar estridente e assustador.
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