No final do século XX, havia um registo gravado de som muito homogéneo, devido à tecnologia. Além disso, a tecnologia permitia gravações caseiras, feitas em garagens e noutros locais, usando equipamento computadorizado muito sofisticado, sem se saber se uma gravação é feita num estúdio profissional ou em ambiente doméstico.
Massey escreve sobre um período, de meados da década de 1950 a finais da década de 1970, que conjuga com a idade de ouro da música pop e um som britânico distinto. O autor compara os sons dos Beatles com os da Motown e dos Beach Boys. Ele tece considerações culturais e técnicas. Os sons de jazz e dos blues, com este a evoluir para o rock’n’roll, são americanos. Apesar de Beatles e Rolling Stones sofrerem influências americanas (aqueles do rock’n’roll e country music, estes do rithm & blues), a verdade é que Lennon, McCartney, Jagger e Keith Richards cresceram a ouvir música diferente de Elvis Presley, Brian Wilson, Bob Dylan e Paul Simon. De outro modo, os produtores ingleses George Martin, Andrew Loog Oldham e Mickie Most radicam em tradições musicais diferentes de Phil Spector, Berry Gondy e Phil Ramone.
A II Guerra Mundial causara, além da destruição da economia e das infraestruturas inglesas, grande perturbação psicológica. O sonho do jovem inglês era americano: Disneyland, Doris Day, Rock Hudson, James Dean, Marilyn, Coca Cola, sumo de tomate Heinz, lembraria John Lennon em entrevista. Ao longo das décadas de 1950 e 1960, estúdios e produtores ingleses queriam duplicar as gravações ouvidas de Nova Iorque, Nashville, Detroit, Chicago, Memphis e Los Angeles. Mas imagine-se Yellow Submarine, dos Beatles, gravado nos Estados Unidos e não nos estúdios da EMI, com câmaras de eco únicas e uma extensa biblioteca de efeitos sonoros. O resultado seria diferente. No final da década de 1960, já era habitual haver músicos ingleses e gravar nos Estados Unidos e músicos americanos a trabalhar em estúdios ingleses. Londres deixava de ser uma colónia musical e passava a um dos principais centros criativos.
Howard Messey refere considerações tecnológicas. No pós-II Guerra Mundial, empresas como Ampex e RCA desenvolveram a tecnologia de gravação e equiparam grande número de estúdios americanos. No Reino Unido, com dificuldades financeiras que impediam a importação de equipamento americano até meados da década de 1960, quando surgiram fabricantes de consoletes como Neve, Helios, Trident e Cadac, muitos estúdios ingleses tinham mesas de mistura feitas pelos engenheiros e técnicos de som dos próprios estúdios. Isso significa que só o próprio pessoal do estúdio era capaz de operar essas mesas domésticas. Cada estúdio inglês tinha um som próprio, individual. Além das consolas, o mesmo com amplificadores, microfones e gravadores. As primeiras guitarras elétricas americanas Rickenbacker surgiram em 1931 e as Gibson em 1936.
Por contraste, as dificuldades financeiras levaram os ingleses a comprar instrumentos europeus de menor qualidade e de empresas alemãs: Höfner e Framus. No caso dos amplificadores americanos, a funcionar a 110 volts, os ingleses, de 230 volts, desenvolveram fabricantes como Vox e Marshall. Os microfones ingleses de condensador tinham resultados melhores. Pela proximidade com a Alemanha, os ingleses compravam microfones Telefunken e Schoeps. Muitos dos estúdios ingleses, pelo menos durante a década de 1960, tendiam a ter gravadores tipo EMI ou do suíço Studer, enquanto os americanos usavam máquinas Ampex e Scully, mas também Advision, Olympia e Trident.
O registo de duas pistas – estéreo – tornou-se norma nos Estados Unidos em meados da década de 1960. O Ampex de duas pistas. Já na década de 1950 se tinham feito experiências com um gravador de oito pistas. Em 1967, muitos estúdios americanos usavam gravadores de oito pistas. Em contraste, os estúdios ingleses usavam quatro pistas. 1968 foi o ano da introdução do primeiro gravador de 16 pistas (marcas Ampex, Scully e Studer). 1970 viu nascer os modelos de 24 pistas.
O livro, com 357 páginas, estuda a EMI (Abbey Road) e os outros três principais estúdios (Decca, Philips e Pye), as etiquetas independentes e outros estúdios mais pequenos mas de grande evolução e inovação, sempre com indicações de equipamentos (consolas, microfones) e músicos e bandas e discos gravados por bandas.
Leitura: Massey, Howard (2015). The Great British Recording Studios. Milwaukee, WI: Hall Leonard Books
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