sábado, 1 de abril de 2017

A recordar Umberto Eco


Umberto Eco morreu há um ano, mais precisamente em 19 de fevereiro de 2016, tinha 84 anos. Ele fora catedrático da cadeira de Semiótica e diretor da Escola Superior de Ciências Humanas da Universidade de Bolonha. No dia 21 de fevereiro de 2016, o diário Público recordava-o com textos de Alexandra Prado Coelho, António Guerreiro e Gustavo Cardoso. Na altura, pensei em escrever aqui um pequeno texto de homenagem, mas não o fiz e o tempo passou. Por isso, pego nessas páginas de jornal.

A tese de licenciatura de Eco foi sobre a estética de S. Tomás de Aquino. Pouco tempo depois, entrou no mundo dos media, trabalhando na RAI (televisão pública italiana), e publica A Obra Aberta, obra fundamental da semiótica. A jornalista auscultou professores portugueses dessa matéria como Moisés Lemos Martins, Maria Teresa Cruz, Arnaldo Saraiva e Ramada Curto, todos eles a enaltecer a obra do recém-falecido. Retenho a opinião de Moisés Lemos Martins, para quem a obra concorria com as correntes do estruturalismo e do marxismo, mas a declarar a possibilidade de múltiplas leituras sobre uma obra. Claro que não vinha à baila o trabalho dos linguistas ingleses como John Austin. Passou a falar-se da receção produtiva. A análise da telenovela, um dos muitos exemplos de estudo, passou a incluir a ideia de múltiplas receções, adequadas ao indivíduo, classe e sociedade, numa linha que também encontrou refúgio na teoria dos usos e gratificações com Herta Herzog (aplicado à radionovela).

A jornalista lembra ainda as áreas em que Eco se movimentava, entre a academia e a participação pública ativa. O italiano observa e escreve sobre temas como romance policial, futebol, publicidade e banda desenhada, indo de Homero a Disney (da filosofia aos desenhos animados). Isso representou um patamar seguinte: se o semiótico penetrava em camadas finas da universidade, até porque alguns dos textos tinham muita complexidade, o escritor de romances atingiu as massas, tipo intelectual no star system. Aqui, não foi o primeiro, lugar que pertence a McLuhan. Mas os romances, como O Nome da Rosa, deram uma universalidade e grande notoriedade a Umberto Eco. O cinema seguiu a meada intrincada de O Nome da Rosa, com os monges guardadores de uma biblioteca como palco de lutas e assassinatos. O último livro dele, Número Zero, é uma paródia ao jornalismo, ao desmontar a máquina dos media contemporâneos. Não estou de acordo com a jornalista que escreveu no Público, porque o livro me pareceu muito inferior à obra restante.

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