quarta-feira, 5 de abril de 2017

O Amigo Americano

Na série de filmes de Wim Wenders em passagem pelo cinema Nimas, O Amigo Americano (1977) tornou-se imprescindível. Num dos textos dos críticos de cinema sobre esta reposição recuperada e digitalizada, li que se trata de um dos filmes em que o tempo mais marcou a obra, em termos de desgaste. Mas, ao mesmo tempo, o tempo permite ver melhor as referências culturais e cinematográficas sobre o filme, caso dos realizadores Nicholas Ray e Samuel Fuller, que entram como personagens da obra. Claro que o destaque vai para Bruno Ganz e Dennis Hopper, o amigo americano do emoldudador que sofre de leucemia e entra em dois assassínios a troco de dinheiro que ficaria para a família após a sua morte. A par disso, um pintor americano, também com uma doença mortal, cujas obras são mais creditadas financeiramente devido à próxima raridade da sua produção, com todo o negócio de transação de obras e especulação.

O realizador, antigo candidato à escola de cinema, onde reprovou na admissão, já tinha realizado, entre outros,  Alice in den Städten (Alice e as Cidades, 1974), antes do monumental Paris Texas (1984). Mas notam-se referências contínuas nestes filmes, como a errância individual ou familiar, os Estados Unidos anónimos mas repletos de prédios e locais modernos a par da decadência de sítios alemães como o Rhur e Hamburgo. A viagem, a memória, através de registos fotográficos das polaroides, a procura da identidade, permanecem nesses filmes. Em O Amigo Americano, Wenders persegue uma trama policial, a partir de livro de Patricia Highsmith, autora que o cineasta aprecia muito. A mafia e os assassínios de mafiosos, a relação entre as personagens interpretadas por Ganz e Hopper e Ganz e Lisa Kreuzer, de confiança à desconfiança, o olhar sempre exterior, onde falta quase a humanidade entre as personagens, muito instrumentais, são centros do filme. Valorizados pelos críticos de cinema as viagens de metro e de comboio, entre o silêncio da perseguição e a ação violenta dos assassinatos.

1 comentário:

Rui Luís Lima disse...

Vi o filme na época em que foi estreado no cinema Quarteto e levou-me a duas descobertas: o cinema de Wim Wenders e os livros de Patricia Highsmith, com esse herói imoral chamado Tom Ripley, que Dennis Hopper tão bem encarnou.
Muito boa Tarde!