domingo, 9 de abril de 2017

Paula Rego no museu e no cinema


O filme, realizado pelo filho Nick Willing, é elegante e terno, mas também revela medos, fantasmas e obsessões, descendo à intimidade da pintora Paula Rego e abrindo pistas para a compreensão da sua obra. Sim, nós precisamos de signos e de interpretação para entendermos as suas pinturas. O ideal de belo e harmonioso não faz parte da estética dela, mas o grotesco e o violento. Documentário e exposição, patentes desde esta semana no cinema Ideal (Lisboa, onde vi o filme) e na Casa das Histórias (Cascais), ajudam-se mutuamente. Na exposição, parcelas das falas de Paula Rego no filme acompanham as telas que vimos mais fugidiamente no ecrã.

As séries sobre o aborto, as mulheres-cão, o crime do padre Amaro (a partir de Eça de Queirós), as pinturas zoomórficas de coelhos, ursos e macacos e as obras no período da depressão de 2007, sempre escondidas e agora reveladas numa só sala (onze quadros), representam um percurso muito rico desde a aprendizagem artística na Slade School of Fine Arts (Londres), de 1952 a 1956, onde ela também conheceu aquele que viria a ser o seu marido Vic Willing. O filme revela melhor o seu itinerário biográfico, entre Ericeira e Estoril, de um lado, e Londres, do outro. A exposição mostra o percurso artístico marcado pela biografia: as alegrias, as tristezas, os sonhos e os pesadelos.

A par da exposição de obras e temas emblemáticos dos trabalhos da pintora, em Cascais veem-se fotografias, cartas, livros que pertenceram a Paula Rego, uma pintura da sua mãe (que aquela comenta no filme) e até a reconstituição do seu estúdio, visto no filme mas mais próximo de nós na exposição.

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